Patrões pedem a PS e PSD que assinem acordo escrito (e "forte") antes das eleições. E disponibilizam-se para um compromisso salarial até 2030

ECO - Parceiro CNN Portugal , António Costa e Isabel Patrício
19 dez 2023, 08:58
Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro

"Não somos extremados, não somos extremistas, nem extremistas à esquerda, nem à direita. Ao centro temos a maioria", justificam os patrões

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) defende que o PS e o PSD devem assinar, ainda antes das eleições de 10 de março, um “acordo com visibilidade” em torno de objetivos “político-estratégicos” para o país. Em entrevista — que será publicada na íntegra na segunda edição da revista mensal do ECO –, Armindo Monteiro realça que “não se compreende” porque é que os dois maiores partidos não fazem um “entendimento forte” que coloque os interesses do país à frente dos partidários e políticos.

“O que gostaríamos de propor ao PS e PSD, antes das eleições de 10 de março, é um acordo com visibilidade — e quando digo visibilidade, digo com a expressão escrita –, com o compromisso [em torno de] determinados desígnios e objetivos”, adianta o “patrão dos patrões”.

Quanto a esses objetivos, o presidente da CIP detalha que gostaria que “tivéssemos um desígnio que nos tirasse a ideia de que temos qualquer handicap que nos obrigada a ser os mais pobres da Europa”. “Não é uma fatalidade regredirmos”, declara.

Ou seja, ainda que reconheça que o país já esteve mais próximo da média europeia do que neste momento, em termos de produtividade e de Produto Interno Bruto (PIB) per capita, Armindo Monteiro não atira a toalha ao chão. “Gostamos de nos mobilizar para o futebol, e é bom, mas a qualificação para o futebol é espúria se compararmos com a qualificação da prosperidade“, explica.

Na visão de Armindo Monteiro, Portugal tem um “aspeto algo sui generis“, que é o facto de “fugir como o diabo da cruz de entendimentos ao centro“, apesar de aí se concentrar uma “maioria muito significativa”.

“O centro quer dizer que nós, portugueses, somos pela moderação. Não somos extremados, não somos extremistas, nem extremistas à esquerda, nem à direita. Ao centro temos a maioria“, afirma o responsável, que sinaliza, assim, que o que gostaria era que “realmente houvesse ao centro soluções“.

“Acho que deveria haver aqui uma generosidade da parte dos políticos no sentido de servir o país e não de servir esta lógica política partidária“, refere, dando o exemplo da Alemanha, onde tem havido coligações ao centro entre os maiores partidos.

Armindo Monteiro (à esquerda) em entrevista ao ECO

CIP avisa que subida dos salários depende de aumento da produtividade

De olhos postos em 2024, o presidente da CIP diz esperar que o país não passe “metade sem Governo e metade do ano desgovernado“. Armindo Monteiro vê risco de tal acontecer, mas diz-se otimista, adiantando que os portugueses normalmente “gostam de votar em quem lhes traz esperança”.

“Ser portador de esperança é aquilo que mais precisamos dos partidos. Neste momento, o problema são os partidos. Só os partidos podem efetivamente apresentar soluções que nos façam ter essa esperança de um 2024 melhor. E o que é isso? É apresentar soluções que permitam apostar no investimento, apostar na alteração do modelo económico, apostar na questão do talento“, observa o “patrão dos patrões.

Armindo Monteiro acrescenta que é preciso que as empresas nacionais não tenham como base “a esperteza“, mas, antes, “o conhecimento“, o que significa, diz, “crescer na cadeia de valor“.

Já sobre um dos temas que são mais caros aos trabalhadores e empresas portuguesas (os vencimentos), alerta: “para não pagarmos salários baixos, também não podemos ter produtividade baixa, não podemos ter crescimento baixo“.

“O compromisso que iremos fazer com os candidatos ao Governo é, até 2030, ter salários que estejam na média europeia. Queremos estabelecer um conjunto de objetivos que permita fazer crescer os salários para a média europeia e fazer crescer a economia para a média europeia. Mas são as duas coisas, porque, normalmente, só se ouve a primeira parte. Não, são as duas coisas“.

A propósito, a CIP ficou de fora do reforço do acordo de rendimentos celebrado em Concertação Social, porque entendeu precisamente, segundo chegou a explicar ao ECO Armindo Monteiro, que não estavam reunidas as medidas necessárias para fomentar o crescimento das empresas e do país, de modo a suportar os aumentos salariais previstos nesse entendimento.

Agora em entrevista, o responsável destaca que os salários têm crescido, mas a produtividade tem seguido o caminho inverso. “O que estamos a propor, e as empresas comprometem-se com isso, é fazer efetivamente crescer os salários — e estamos a falar para chegar à média europeia –, mas para isso precisamos de fazer crescer a produtividade“, sublinha.

Armindo Monteiro deixa claro que isso vai exigir “um esforço tremendo das empresas”, porque estas não passarão de repente a ser mais competitivas ou mais produtivas.

E avança que, neste cenário, há alguns fatores cruciais. Primeiro, promover o investimento para promover a produtividade. “Qual é a diferença entre um homem com uma enxada ou um homem com um trator? É, naturalmente, o trator. É o investimento. Qual é a diferença da produtividade? É óbvia. Com esta metáfora, explica-se muito bem que não é preciso compêndios para explicar a falta de produtividade. A produtividade tem a ver com escala, com investimento, com o valor acrescentado“, salienta.

Por outro lado, na visão do presidente da CIP, Portugal ainda não tem “um verdadeiro ecossistema que permita efetivamente que as empresas ganhem esta batalha“.

“Não precisamos não só de um espírito empreendedor, precisamos de matéria empreendedora, um ecossistema verdadeiramente empreendedor. E isso passa por exigir aos empresários que sejam eficientes na gestão dos seus investimentos. Passa por pedir ao Estado que seja eficiente na simplificação administrativa e licenciamentos e de todas as suas obrigações. E passa por pedir aos trabalhadores que, naturalmente, sejam empenhados também naquilo que fazem. É um compromisso dos três”, defende.

No acordo de rendimentos celebrado na Concertação Social, estavam também previstas várias medidas com vista à simplificação de procedimentos, mas a antecipação das eleições legislativas fez com que caíssem por terra. Está agora nas mãos do Governo que sair da ida às urnas de 10 de março retomar ou não a resposta a esse pedido dos empresários.

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