"Cinco balas atingiram o meu irmão e o meu amigo": turistas mortos a tiro ao entrarem por engano em águas argelinas

1 set 2023, 13:27
Motas de água (Foto: Athanasios Gioumpasis/Getty Images)

Grupo de turistas em jet ski perdeu-se em águas marroquinas e acabou por ficar sem combustível já em águas territoriais da vizinha Argélia. Teme-se "um grave incidente diplomático"

Um grupo de quatro turistas franco-marroquinos que tinha saído de mota de água da estância balnear marroquina de Saidia, perto da fronteira com a Argélia, foi atingido a tiro por agentes da guarda costeira argelina. Dois dos turistas não resistiram aos ferimentos e acabaram por morrer. Um terceiro foi detido e apenas um dos quatro homens conseguiu regressar a Marrocos, avança a agência AFP. 

Segundo a BBC, um pescador perto do local onde os homens foram atingidos colocou nas redes sociais imagens do corpo de um dos turistas a flutuar no mar. O único que regressou ao país garante que os quatro entraram inadvertidamente em águas argelinas porque se perderam - e estavam parados em alto mar porque tinham ficado sem combustível.

"Perdemo-nos mas continuámos a andar até que percebemos que estávamos na Argélia", contou aos media marroquinos Mohamed Kissi. "Sabíamos que estávamos na Argélia porque um barco preto argelino veio na nossa direção", explicou, acrescentando que os agentes no barco dispararam contra o grupo. "Graças a Deus que não fui atingido, mas mataram o meu irmão e o meu amigo", acrescentou, referindo ainda que o irmão tentou falar com a guarda-costeira argelina antes de ser alvejado. 

"Prenderam o meu outro amigo. Cinco balas atingiram o meu irmão e o meu amigo", contou Kissi, que diz ter tentado regressar a nado à costa marroquina, tendo sido depois resgatado do mar pela Marinha de Marrocos. 

Mohamed Kissi é primo de um ator marroquino, Abdelkarim Kissi, que também denunciou o caso nas redes sociais e pediu às autoridades marroquinas que levem as mortes ao tribunal internacional. "Mataram Bilal Kissi, o meu primo mais novo. O único erro dele foi ter atravessado para águas territoriais argelinas, estava de férias com os amigos." 

A imprensa marroquina adianta, segundo a BBC, que o corpo de um dos homens baleados está em território argelino e o outro desapareceu no mar. Aquele que foi detido pela guarda-costeira, identificado como Smaïl Snabé, foi presente a um juiz na quarta-feiram segundo a BBC.

Um porta-voz do governo marroquino recusou comentar o caso - que pode levar a um grave incidente diplomático. Citado pela AFP, disse apenas que era "matéria para os tribunais". Não houve, até ao momento, qualquer reação das autoridades argelinas.

A Argélia e Marrocos partilham uma fronteira de cerca de 2.000 quilómetros que tem sido fonte de tensões desde a independência dos dois países, nomeadamente por causa da disputa de territórios no Sahara Ocidental. A fronteira foi encerrada em 1994 e a Argélia cortou laços diplomáticos com Marrocos em 2021 acusando Rabat de "atos hostis". A decisão foi considerada "completamente injustificada" pelas autoridades marroquinas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês confirmou à agência Reuters estar a par da morte de um cidadão nacional e da detenção de um segundo, revelando que está em contacto com as famílias e com as autoridades de Marrocos e da Argélia. Presume-se que as autoridades francesas não consideraram o óbito do turista cujo corpo não foi encontrado, ainda que a família já tenha vindo dizer que não regressou a casa.

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