Mendonça Mendes não nega que disse a Galamba para contactar o SIS

6 jun 2023, 19:59

ANÁLISE Declarações do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro não confirmam nem desmentem, literalmente, que ele tenha recomendado a João Galamba contactar o SIS. Apenas diz que não houve “nexo de causalidade”. Mistério continua por esclarecer. Razão de haver mistério também

O melhor é ver o vídeo (em cima nesta página) e ouvir as declarações. Primeiro as do ministro das Infraestruturas, João Galamba; depois as do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes. E ficamos quase na mesma.

João Galamba há duas semanas no Parlamento:

Bernardo Blanco, Iniciativa Liberal: "Quem é que lhe disse para contactar o SIS?".

João Galamba: "Penso que já respondi".

Bernardo Blanco: "Penso que não. Eu não tenho a resposta, não registei. Quem é que lhe disse para contactar o SIS?".

João Galamba: "O gabinete do primeiro-ministro. O secretário de Estado [Adjunto do primeiro-ministro], sim".

Mendonça Mendes esta terça-feira no Parlamento:

António Mendonça Mendes [consultando notas]: “Não, o reporte aos serviços de informação da República, ao Sistema de Informações da República, não decorreu nem de nenhuma sugestão, nem de nenhuma orientação, nem de nenhuma indicação da minha parte, nem da parte de nenhum membro do Governo. E era assim que tinha de ser”.

Portanto:

A aparente contradição entre as duas declarações levou o PSD a exigir a demissão imediata de João Galamba, acusando-o de mentir "despudoradamente". Contudo, a declaração de Mendonça Mendes não nega que ele tenha dado uma sugestão ou orientação ou indicação a João Galamba para que SE ligasse ao SIS naquela noite em que Frederico Pinheiro saiu do Ministério das Infraestruturas levando consigo o computador de trabalho. A declaração apenas diz que o contacto feito ao SIRP não resulta dessa eventual sugestão.

Esta declaração encaixa, aliás, na versão de que foi a chefe de gabinete de João Galamba a contactar o SIRP mesmo antes de o ministro lhe ter dado essa recomendação.

Duas dúvidas subsistem

Assim, duas dúvidas subsistem. A primeira está relacionada com a intervenção do gabinete do primeiro-ministro (e eventualmente do próprio António Costa) na recomendação de contactar as "secretas" para uma atuação fora do seu alcance legal e que o próprio Presidente da República já admoestou. Até hoje, as simples perguntas de "sim ou não" estão por esclarecer: Mendonça Mendes recomendou o recurso ao SIS? Falou com o primeiro-ministro sobre isso? O SIS foi contactado pelo gabinete do primeiro-ministro?

A segunda dúvida é: qual a razão para este segredo? O que o gabinete do primeiro-ministro não quer que se saiba, quem ou o que está a proteger para não dar uma resposta simples?

As declarações de Mendonça Mendes não foram, afinal, esclarecedoras. Literalmente. 

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