Costa “sem confiança” noutra geringonça, critica "irresponsabilidade" do PCP. Jerónimo quer negociar e dispensa "futurologia"

4 jan 2022, 22:03

No primeiro confronto entre António Costa e Jerónimo de Sousa após o chumbo do Orçamento do Estado, não houve “inimigos”. O líder comunista quer propostas para começar o diálogo. Já o primeiro-ministro bate no argumento socialista para esta disputa: “estabilidade”.

António Costa entrou no debate com uma ideia clara: responsabilizar o PCP pelo chumbo do Orçamento do Estado para 2022. E, com isso, apelar à maioria. “No momento em que o país devia estar focado na recuperação económica, foi um ato de irresponsabilidade política”, atirou.

Do outro lado da mesa, Jerónimo de Sousa não quis alimentar “acusações mútuas”.

“Não há aqui inimigos, existem naturalmente adversários políticos. Não tenho ideia desse discurso belicista. A nossa crítica é clara, numa perspetiva de encontrar soluções”, garantiu.

Como? A geringonça, tal como o país a conheceu em 2015, parece distante. Costa diz não ter “confiança” nos antigos parceiros, mesmo que aquele que sempre foi mais estável – o PCP – não feche agora a porta ao diálogo após as eleições.

“Não faço futurologia. E seria arrogância da minha parte dizer um não ou um sim [a acordos com o PS] sem fundamento”, começou Jerónimo de Sousa.

Para os comunistas, tudo depende das propostas que existirem em cima da mesa – e das garantias para cumpri-las. “O conteúdo das coisas é que determina a nossa posição, mais do que ser apresentado por esse ou por aquele, é a validade dessa proposta, venha de onde vier”, reforçou. E, ao contrário de Catarina Martins, Jerónimo de Sousa recusa classificar Costa como um “obstáculo”. “É uma expressão infeliz”, lamenta.

Vídeo: O debate entre Jerónimo de Sousa e António Costa em três minutos

Ainda assim, o atual primeiro-ministro insiste no argumento da “estabilidade”, para não andar ao sabor das vontades dos antigos aliados. Costa diz mesmo não perceber por que motivo a solução governativa chegou ao fim num momento de forte crise. “Enquanto houve caminho para andar, andámos. Tenho muita pena e muita dificuldade em perceber porque é que ele foi interrompida”, confessou. A divisão parece, para já, insanável:

“Não há mortes definitivas, a não ser a própria morte. Nas atuais circunstâncias, o que tenho de dizer aos cidadãos é que não sinto confiança para dizer que essa [uma nova geringonça] é uma solução estável. Essa solução, nesse momento, não me dá confiança”, vincou.

Debate, transmitido em simultâneo pela CNN Portugal e pela TVI, foi marcado por um tom cordial (Foto: Armanda Claro)

Salários e SNS: as diferenças (e as promessas que não satisfazem)

Na hora de negociar o Orçamento para 2022, Jerónimo de Sousa diz ter encontrado “resistências inesperadas e incompreensíveis” por parte de António Costa. “O Governo do PS chegou a um momento em que claramente desistiu. Em vez das soluções, começou a pensar em eleições”, reforçou.

A resposta chegou de imediato. Costa argumenta que governou “no meio de uma enorme incerteza” e que foi preciso fazer “das tripas coração” para segurar famílias e empresas.

“Algum primeiro-ministro do mundo provoca eleições antecipadas no meio de uma crise destas?”, provocou.

O socialista insiste que, se for reeleito chefe do Governo, irá aplicar as medidas do Orçamento do 2022 que beneficiam as famílias, como o reforço das pensões ou o alargamento da isenção de IRS. Argumentos que, à partida, agradam ao rival. Mas, para os comunistas, isso não chega. Porque ficaram três pontos por honrar: a revogação da legislação laboral, o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a subida do salário mínimo.

Neste último, Costa lembrou o “maior aumento de sempre”, mesmo em tempo de pandemia. E foi precisamente a covid-19 que não deixou ir mais longe, como queria o PCP: “é exigível às empresas, em particular as que mais pagam o salário mínimo – da restauração, do turismo, do têxtil, os mais atingidos pela crise – impor-lhes esta enorme incerteza?”. O PCP, diz, queria “o dobro”.

Já na Saúde, além do reforço do “SNS em 28 mil profissionais”, o secretário-geral do PS socorre-se do programa eleitoral do partido, onde estão inscritos incentivos para segurar médicos onde eles são mais necessários.

Mas esse documento tem vários motivos de comichão para Jerónimo de Sousa, a começar por outro tipo de indicador: “o Governo vai ter de explicar como se aumenta o salário médio”. O comunista quis ainda saber porque não se avançou logo com o aumento extraordinário das pensões em 2022. “O regime de duodécimos não o permite”, respondeu Costa.

Partidos

Mais Partidos

Patrocinados