Inseminação pós-morte: Hugo Guilherme e Ângela Ferreira têm alta da maternidade

20 ago 2023, 19:41
Hugo Guilherme (DR)

Ângela Ferreira foi mãe às 39 semanas, na última quarta-feira, dia 16 de agosto, no Centro Materno-Infantil do Norte, no Porto. Lutou durante quatro anos para engravidar do marido que morreu em 2019. Mãe e filho estão bem de saúde.

O relógio da enfermaria do quarto piso do Centro Materno-Infantil do Norte marcava 15 minutos depois das 16:00 deste domingo, dia 20 de agosto. Nos corredores, ouviam-se alguns profissionais de saúde, que não escondiam o sorriso: “este miúdo vai ser um homem de garra”; “que história bonita!”.

Ângela Ferreira saía do quarto número 12, onde esteve internada nos últimos quatro dias. Preparava-se para ter a tão desejada alta, depois de ser mãe de Hugo Guilherme, a primeira criança concebida após a morte do pai em Portugal, e que legalmente é filho de Ângela e Hugo Ferreira, que morreu há quatro anos e meio.

Até à saída, do quarto andar ao rés-do-chão, mais felicitações, de outros utentes, rececionistas e seguranças: “obrigado, tudo de bom!”. Despedidas feitas, seguiu-se a viagem de cerca de trinta minutos até casa: “portou-se lindamente, pelo caminho. Mal demos por ele.”, contou em exclusivo à TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) Ângela Ferreira.

O internamento prolongou-se por mais 24 horas do que o inicialmente previsto, uma vez que Hugo Guilherme nasceu através de uma cesariana, cirurgia que implica, regra geral, uma recuperação mais complexa do que um parto vaginal.

Agora, longe do mediatismo dos últimos dias, é tempo de descanso, de encontro e de partilha entre mãe e filho: “nos próximos tempos, vamos aproveitar cada segundo entre nós, só os dois!”, garante Ângela Ferreira com os olhos a brilhar.

Hugo Guilherme de Castro Ferreira nasceu no dia 16 de agosto, às 11:09, com 3,915 quilos e 50,5 cêntimetros, e é resultado da luta da mãe para legalizar a inseminação pós-morte em Portugal.

Em fevereiro de 2020, na minissérie documental emitida na TVI, “Amor sem fim”, Ângela Ferreira deu a conhecer a vontade de engravidar do marido, que tinha falecido vítima de cancro em março de 2019.

Em vida, Hugo Ferreira fez criopreservação de sémen, e deixou escrita a vontade de que a mulher tivesse um filho dos dois, mesmo após a morte do próprio. No entanto, a lei da procriação medicamente assistida proibia a conceção de embriões com material genético de um progenitor falecido.

Após as reportagens emitidas pela TVI, 100 mil portugueses juntaram-se à causa desta mulher do Porto e fizeram chegar à Assembleia da República uma petição para legalizar a inseminação pós-morte.

Em março de 2021, Ângela venceu, e a lei foi aprovada no Parlamento pela esmagadora maioria dos deputados. Depois de um veto do Presidente da República, foi promulgada a 5 de novembro de 2021.

A nova lei da procriação medicamente assistida permite que uma mulher tenha um filho do marido ou unido de facto que tenha morrido, desde que este tenha feito criopreservação de sémen e, em vida, tenha deixado escrita a vontade de uma paternidade pós-morte.

Ao longo dos últimos nove meses, a TVI acompanhou em exclusivo Ângela Ferreira, e em breve emite uma reportagem sobre a gravidez, o parto e os primeiros tempos de vida desta criança pioneira e histórica em Portugal.

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