Congresso do Chega entre os poderes de Ventura, o "amiguismo", o "nepotismo" e os "camaradas"

27 nov 2021, 16:58
André Ventura no Congresso do Chega (Lusa / Nuno André Ferreira)

Ataques pessoais, gritos pela democracia e reforço de poderes de André Ventura agitaram o segundo dia do congresso do Chega

O ambiente aqueceu bastante na manhã do segundo dia do IV Congresso do Chega. Tinha André Ventura acabado de ver os seus poderes reforçados – o presidente do Chega tem, agora, a capacidade de dissolver os órgãos nacionais, regionais e distritais, e, ainda, de ter a última palavra na escolha dos candidatos do partido a todos os atos eleitorais – quando uma recomendação espoletou a revolta de alguns dos delegados.

Luís Vilela, presidente da concelhia de Vila do Conde, propôs uma alteração do ponto 15 dos estatutos, para que os delegados aos congressos passem a ser indicados pelas distritais e concelhias em vez de serem eleitos, como atualmente acontece. O dirigente justificou a proposta com as atitudes de alguns militantes, “que já foram suspensos e nesse período, nas redes sociais através de perfis falsos, continuaram a denegrir o partido e os seus dirigentes e integrarem agora a lista de delegados".

“É simplesmente lamentável”, considerou Luís Vilela. “O Chega não pode continuar com lutas internas e movimentações laterais, cujo único objetivo é a vingança pessoal".

Depois da apresentação, a vice-presidente da mesa promoveu uma votação final que, entretanto, se transformou num sufrágio para determinar se a recomendação deveria ser… apresentada. Confuso? Nós também. E a contestação fez-se sentir imediatamente. Entre gritos de “Democracia!” e Chega!”, alguns delegados criticaram veementemente a proposta do presidente da concelhia de Vila do Conde, chegando mesmo a haver ataques e insultos pessoais.

João Leitão, militante da distrital do Porto, atirou: "Somos ou não somos contra o amiguismo e o nepotismo? Não estamos aqui para o Sr. Vilela e para os amigos dele. É uma vergonha".

“É uma forma de reprimir a democracia interna do partido”, exclamou outro dos delegados presentes.

Entre críticas e acusações, um momento curioso: ao começar a sua declaração, um dos intervenientes dirigiu-se aos colegas de partido, tratando-os por... “camaradas”. Por entre os assobios, justificou-se: “Fui e sou paraquedista, entre nós somos camaradas. Se entenderem a palavra de outra forma, o problema não é meu”.

Desafiado, o presidente da concelhia de Vila do Conde subiu ao púlpito. “Quem não deve não teme, e olhos nos olhos estou aqui e não conheço esse senhor (João) Leitão”, exclamou o autor de recomendação. E estava de novo lançado o caos na comunicação.  Com os ânimos a exaltarem-se cada vez mais, a mesa decidiu cortar a palavra a Luís Vilela, que continuou a falar durante longos segundos até se aperceber que ninguém o conseguia ouvir.

Finda a confusão, procedeu-se à votação para apurar se a recomendação deveria ser enviada à direção do partido que, oportunamente, e à semelhança de André Ventura, se recusou a votar a mesma. Com 257 votos contra, 97 abstenções e 46 a favor, a proposta foi chumbada. Ânimos serenados, por enquanto.

Até agora, uma certeza: André Ventura vai deixar o congresso com mais poder do que alguma vez teve. O partido que critica quem o acusa de ser “de um homem só” cada vez mais depende de um só homem.

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