Paulo Fonseca, ou como descer um degrau para subir muitos

29 fev 2016, 10:01
Paulo Fonseca (Lusa)

«Óculos do Treinador» é um espaço de análise de Rui Lança.

A vida dá muitas voltas. E com a rapidez que a comunicação social nos possibilita ter informação, dá quase a sensação de que estamos dentro da mudança. Paulo Fonseca é um desses casos.

A 19 de Maio de 2013, o treinador termina a época em Paços, numa derrota em casa 0-1 frente ao FC Porto com o clube da Invicta a ser campeão. Passado umas horas, é dado como certo no cargo de treinador dos dragões. Uma escolha que na altura causou por um lado uma certa estupefação, mas em que, por outro, se dava o benefício da dúvida, uma vez que se confia na generalidade das opções do presidente do FC Porto.

Dos últimos treinadores que passaram pelo Dragão, Fonseca foi aquele que, provavelmente, menos recursos teve para alcançar o que se pretendia. Não se sabe se os jogadores, menos habituados a grandes palcos, foram escolhas do treinador português ou da direção portista. O que é certo é que o seu discurso mais afável e mais relacional nunca foi empático. Principalmente nos momentos menos bons, onde era exigido uma comunicação mais assertiva e o treinador português pelo contrário vacilava.

Dizem que por iniciativa própria assumiu o abandono e, após uns meses de retiro, voltou à casa de partida. Após uma boa época no Paços Ferreira, agarrou um dos projetos mais emocionantes e desafiantes em Portugal, que é treinar o Sp. Braga, um clube que por dá condições claras para que os seus treinadores consigam o 4º lugar e que, aos poucos, intromete-se nos três grandes com algumas presenças em finais das Taças e consegue esporadicamente classificações acima desse posto.

Este é um Paulo Fonseca muito semelhante ao de 2013, mas com mais ponderação e maturidade»

Mas quem é este Paulo Fonseca? Provavelmente, é um Paulo Fonseca muito semelhante ao de 2013, mas com mais ponderação e maturidade! Não se alteram crenças e cognições tão facilmente, o que sai ainda reforçado pela ideia de que o treinador sempre demonstrou que tinha de modo muito explícito a noção da razão do não sucesso para os lados do Dragão. É um treinador que consegue facilmente aproximar-se dos jogadores. Tem um discurso fácil. Aparentemente está melhor preparado hoje para um novo desafio que será, mais tarde ou mais cedo, voltar a um dos grandes. 

Paulo Fonseca e a postura no banco de suplentes.

Qual o perfil de treinador de Paulo Fonseca?

Se tivéssemos de encaixar Paulo Fonseca num dos perfis ou conjunto de comportamentos de um treinador / líder, claramente diria que se aproxima de um líder mais de instrução para a competição, mas com um lado muito de coach e delegação de responsabilidade e autonomia. 

Não é um treinador de grande descontrolo, na linha com os seus atletas. É um treinador de muito reforço positivo, com um discurso bastante construtivo. Vai claramente chegar mais longe e de modo mais sustentável. Resta saber se ainda passará num grande ou vai logo para fora. para um campeonato se calhar de média dimensão, mas para uma equipa para lutar pelo título.

Paulo Fonseca demonstra que se encontra bem consigo próprio»

Paulo Fonseca tem-nos possibilitado, para quem gosta destas áreas, uma abertura grande nas conferências de imprensa, em que nos contempla com estratégias individuais e coletivas na gestão diária da sua equipa. Demonstra confiança. O fenómeno torna-se mais interessante quando teve ainda há pouco tempo uma experiência negativa num clube com o mediatismo do FC Porto. Demonstra que se encontra bem consigo próprio. Fundamental!

O interessante não será apenas acompanhar Paulo Fonseca hoje. Fantástico deveria ter sido acompanhar o treinador naqueles meses de luto, onde o próprio assumiu que se refugiou em casa. Saber o que sentiu e pensou. E o que fez para voltar ainda mais preparado!

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