“A presença de algas vai aumentar durante o verão”. Será um motivo de preocupação para os banhistas?

22 jul 2023, 15:00
Algas (Pexels)

O Algarve é a zona mais afetada e há várias espécies, Entre albufeira e Faro são vermelhas e nativas da Austrália e Nova Zelândia, na costa do barlavento, já são castanhas e originárias dos mares do Japão e da Coreia e no sotavento surgem nativas de Portugal de cor verde

A notícia não é boa para quem vai agora de férias, em especial para o Algarve. As algas que no mês passado invadiram as praias parece que vieram para ficar. “A presença de algas ainda vai aumentar, sobretudo durante o verão”, alerta João Silva, investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR). E pode até repetir-se outra grande invasão, como a que ocorreu em junho, que levou as praias a ficarem cobertas de algas. 

Segundo o especialista, apesar de não ser ainda certo “de onde vêm estas algas”, “sabe-se que estão nas redondezas do país há muito tempo”. Mas, agora, diz, “as condições parecem ser mais favoráveis ao seu crescimento”. Por isso a presença destas invasoras “está a aumentar”, explica João Silva, garantindo que “o Algarve é a zona em que este verão mais facilmente os banhistas irão encontrar mais algas.

Algas estas que variam consoante a zona desta região. As diferentes especies foram todas identificadas pelo CCMAR e a cor é um dos elementos que as distingue. Assim, de acordo com Dina Simes, investigadora deste organismo, nas praias do centro, entre Albufeira e Faro, a alga invasora é vermelha e nativa das águas da Austrália e da Nova Zelândia e tem o nome científico de asparagopsis armata. Já ao longo da costa rochosa do Barlavento, as acumulações foram causadas por uma alga castanha originária dos mares do Japão e da Coreia, cientificamente conhecida como Rugulopteryx okamurae. E na costa arenosa do Sotavento Algarvio trata-se de uma alga verde, nativa de Portugal, denominada de Ulva sp e conhecida por “alface do mar”.

É preciso entender melhor o fenómeno

“O fenómeno é cada vez mais recorrente”, afirma a investigadora, explicando que o que vai suceder no mês de agosto é de certa forma “imprevisível”. Relatando que as vindas destas algas devem-se, geralmente, às correntes e marés, e que são muitas vezes trazidas pelos tranches dos barcos, Dina Simas sublinha que são precisos mais estudos para se entender melhor “o aparecimento descontrolado destas algas invasoras”. No entanto, diz, “fatores como as correntes oceânicas e os impactos do aquecimento global podem complicar ainda mais a situação”.

Dina Simas admite contudo que durante este verão possam surgir invasões de algas “por toda a costa caso existam condições favoráveis à sua reprodução”, como a temperatura da água, os nutrientes e a presença de luz. Sendo, por isso, possível que se propague por todo o litoral, refere, lembrando que há registos recentes da presença de algas asiáticas (Rugulopteryx okamurae) a norte do Algarve.

“A presença de algas vai continuar a aumentar e não é um problema com resolução por si só”, afirma convicto João Silva,

Há perigo para a saúde?

Uma das principais preocupações dos banhistas é o impacto das algas na sua saúde. Rui Santos, também investigador do CCMAR, explica que "as algas em si não constituem um problema direto de saúde pública.” No entanto, “a sua decomposição nas praias pode libertar gás sulfídrico, que emite um forte odor semelhante ao de ovos podres". Embora este gás possa ser tóxico em concentrações elevadas, normalmente não representa um risco em praias abertas, garante Rui Santos. Mas, “o odor pode ser desagradável”, afirma. 

Já Pedro Cantista, presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia e Climatologia Médica, considera que "embora as algas da praia não beneficiem diretamente as pessoas, também não são prejudiciais”. No entanto, por uma questão de precaução, o médico aconselha os banhistas a estarem atentos às irregularidades que possam existir, evitando entrar numa água com demasiadas algas.

O fenómeno não é inédito e o CCMAR criou há dois anos uma plataforma - "Algas na Praia" - para recolher dados sobre as algas encontradas nas praias algarvias e perceber quais as espécies invasoras que levam a grandes acumulações nos areais. A plataforma permite que sejam reunidos dados detalhados sobre as algas, como a sua cor e quantidade, e fotografias para posterior identificação e mapeamento.

Dina Simes, defende que “é crucial investir em projetos de investigação destinados a compreender estas espécies de algas invasoras e desenvolver medidas de controlo eficazes, nomeadamente de que forma podem ser aproveitadas”.

Este problema com as algas já tem pelo menos duas décadas. “Há 20 anos este problema começou no sul de frança e no mediterraneo”, explica o investigador João Silva. “Com o aquecimento das águas, o norte de áfrica e gibraltar ficaram cobertos de algas e agora em Portugal a situação repete-se”, afirma o investigador.

Acrescenta ainda que é preciso criar “um sistema de alerta” para tentar controlar estas algas que teimam em invadir as praias portuguesas, em especial o Algarve.

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