"Perdoe-nos, Lyudmila, perdoe-nos": o funeral de Navalny, enterrado ao som de “My Way”

1 mar, 14:00
Navalny

Fortes medidas de segurança e também emoções fortes: duas semanas depois de ter morrido, o opositor russo foi a enterrar. O Kremlin ameaçou com punições caso alguém se excedesse

Com duas horas de atraso em relação à hora da marcada, as cerimónias fúnebres do opositor russo Alexei Navalny, que morreu há duas semanas na cadeia onde estava preso, decorreram esta sexta-feira na igreja do ícone de Rzhev Santa Mãe de Deus, em Moscovo. No exterior, uma multidão de apoiantes do ativista, concentrados desde cedo, fazia ecoar gritos - “Navalny, Navalny, Navalny”.

Eram 14:00 locais (11:00 em Lisboa). A cerimónia estava prevista duas horas antes, mas, de acordo com a equipa de Navalny, houve demora na morgue na entrega do corpo à família. 

“Não te vamos esquecer”, podia ouvir-se a multidão a gritar.

Quando Lyudmila, a mãe de Alexei Navalny, abandonou a igreja para integrar o cortejo rumo ao cemitério onde foi enterrado o filho, os gritos de apoio da multidão eram de apoio e agradecimento: “Obrigada pelo seu filho” e “perdoe-nos”.

Lyudmila Navalnaya e Anatoly Navalny à chegada à igreja onde decorreram as cerimónias fúnebres. (AP Photo)

Dentro da igreja, a cerimónia durou cerca de uma hora. Não foram permitidas filmagens do interior. A única imagem de Navalny dentro do caixão foi divulgada durante a transmissão em direto no canal de YouTube criado pela equipa do antigo opositor russo para o homenagear. Uma imagem parada, que mostra o caixão aberto e a cara de Alexei Navalny descoberta e o corpo coberto de flores.

Atrás do caixão podiam ver-se os celebrantes ortodoxos que presidiram à cerimónia e os familiares de Navalny, incluindo a mãe e o pai.

Imagem de Navalny dentro do caixão, na igreja onde decorreram as cerimónias, divulgada pela equipa do opositor russo (Reprodução Youtube)

O percurso entre a igreja e o cemitério de Borisovky foi acompanhado da multidão, que derrubou mesmo as barreiras de proteção para acompanhar o cortejo. “Putin é um assassino!”, gritava-se nas ruas.

Também se ouviram nas ruas de Moscovo gritos de “a Rússia será livre!” e “não à Guerra!”.

No cemitério, tal como na Igreja, só foi permitida a entrada de familiares. A multidão permaneceu à porta.

Vídeos que circularam pelas redes sociais mostravam momentos de grande emoção dentro do cemitério. Um deles foi quando o pai de Alexei Navalny beijou a testa do filho antes de a urna descer à terra ao som de “My Way”, de Frank Sinatra.

Os avisos do Kremlin e apertadas medidas de segurança

Toda a cerimónia decorreu sob apertadas medidas de segurança e sob as regras impostas pelo regime russo. Houve forte presença policial nas ruas.

As coroas de flores que iam chegando à igreja, ao longo da manhã, eram passadas em revista e inspecionadas com detetores de metais. Nos telhados das casas perto da igreja eram visíveis snipers das autoridades russas devidamente posicionados.

Presença policial e militar à porta da igreja onde decorreu o funeral. (EPA)

E o Kremlin deixava o aviso: memoriais e concentrações não autorizadas seriam punidos. O alerta partiu do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

“Qualquer reunião não autorizada constituirá uma violação da lei. Consequentemente, aqueles que participarem serão responsáveis ​​de acordo com as leis em vigor”, disse Peskov aos jornalistas, na habitual conferência de imprensa por vídeo das sextas-feiras.

Na mesma conferência de imprensa, Dmitry Peskov disse que o Kremlin não tem “nada” a dizer à família do político da oposição Alexey Navalny no dia do funeral.

O presidente russo, Vladimir Putin, manteve silêncio sobre a morte do seu principal crítico. Foi assim ao longo das duas semanas que se passaram desde a notícia da morte - trata-se de uma tendência consistente de Putin, que tendia a evitar mencionar Navalny pelo nome quando o opositor estava vivo. Ignorou-o, inclusive, no discurso de mais de duas horas que proferiu quinta-feira perante a elite política e militar russa.

Políticos e embaixadores presentes

Alguns políticos da oposição e representantes das embaixadas de vários países foram vistos junto à igreja onde decorreram as cerimónias. De acordo com a edição russa da BBC, estiveram presentes pelo menos Yevgeny Roizman, antigo autarca de Ecaterimburgo, e o candidato presidencial, Boris Nadezhdin.

Estiveram também presentes a embaixadora dos Estados Unidos, Lynn Tracy, como relatou a CNN Internacional, e ainda o embaixador alemão, Alexander Graf Lambsdorff, e o embaixador francês, Pierre Levy.

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