Exclusivo com Naomi Watts: “Sinto que contar histórias nunca foi tão necessário”

Desde que ingressou na Media Capital, em 1999, o jornalista da TVI já foi Diretor, Editor, Apresentador e Repórter nos vários canais de Rádio e Televisão.
10 mar 2022, 15:28

O desespero de uma mãe para salvar o filho de um tiroteio na escola é o móbil do thriller que traz a atriz inglesa de volta ao grande ecrã. O argumento questiona o acesso às armas nos Estados Unidos; um problema “real e trágico” num mundo em mudança acelerada, também para a indústria do entretenimento.

Aos 53 anos, Naomi Watts pode queixar-se de ter ficado a ver o Óscar passar nas duas vezes que foi nomeada (como protagonista de “21 Grams” em 2004 e “The Impossible” em 2013), mas não se pode queixar da carreira multifacetada que foi construindo tanto no cinema como na televisão. Nos últimos anos, ao prazer de representar tem juntado a responsabilidade de produzir, porque estar “envolvida na conversação do início ao fim é um processo mais interessante”. É um caso sério de crescente versatilidade, agora à vista no novo filme do australiano Phillip Noyce.

“A Hora do Desespero” conta consigo e só consigo durante a maior parte do tempo. Esse foi o grande desafio?

Certamente, parece que estou completamente sozinha, na perspetiva dos espectadores. Mas senti-me muito apoiada de muitas formas. O telefone funcionava mesmo e, por isso, tive atores ao telefone comigo a darem-me a informação de que precisava para reagir. Felizmente, foi possível tê-los em linha durante a maior parte do tempo. Por vezes, quando perdíamos o sinal no meio da floresta, era mais desafiante… Mas, sim, foi muito tempo à frente da câmara sozinha e muito mais vulnerável.

E a correr bastante, também.

Sim! O esforço físico foi um enorme compromisso. Obviamente que me preparei o melhor que pude, mas só nos apercebemos do desafio quando chega o momento no dia da rodagem. 

O realizador Phillip Noyce diz que tem a atitude do “consigo fazer e nada vai impedir-me”. É uma descrição exata se si própria?

Gosto que ele tenha dito isso dessa forma! (risos) Sim, gosto de desafios. Tenho uma certa tolerância e resiliência que me surpreendem… Gosto de me por à prova e de me desafiar, definitivamente…

Ele é um realizador multipremiado. Como foi a sua experiência com ele na rodagem?

Conheço o Phillip há mais de duas décadas. Ele também tem uma energia incrível! Nenhum de nós está a ficar mais novo, mas houve alguns momentos em que o vi a correr atrás das câmaras, como se fosse um campeão, para me fazer continuar… Até fiquei preocupada com ele: “Phillip, podes ficar sentado no carro e ver daí! Não precisas de fazer isso.” Fiquei muito impressionada com a energia dele. Ele é maravilhoso. Senti-me muito apoiada e muito ligada a ele.

Na base da ação e da tensão, há assuntos muito sérios no argumento.  Espera que este filme possa, de alguma forma, contribuir para o debate sobre as leis das armas nos EUA?

Isso é certamente a expectativa e a intenção… A história pede para nos imaginarmos naquele lugar tão horrível, mas, no fundo, há algo muito real e trágico que é preciso questionar… Por mais desconfortável que seja, faz parte da nossa realidade. Se (o filme) contribuir para o debate, ao estimular a reflexão com novas perspetivas, sinto-me bem em fazer parte dele.

Este filme está a ser lançado nos cinemas e nas plataformas digitais. Como olha para a indústria do cinema hoje em dia?

Está a acontecer tudo muito depressa. Estamos a abrir novos caminhos constantemente. Sinto que contar histórias nunca foi tão necessário. Neste tempo horrível que o Covid criou, há falta de ligação, falta de comunidade… Mas, de alguma forma, contar histórias faz-nos sentir que ainda fazemos parte de alguma coisa. Não tivemos o luxo da experiência coletiva nas salas tantas vezes como tínhamos, mas elas estão a reabrir agora… Estou muito grata por isso. Os meus filhos já foram ao Cinema algumas vezes, graças ao Homem-Aranha! (risos) Precisamos disso, desejamos isso. Precisamos de nos rever nas histórias. Tenho muito orgulho em fazer parte desta indústria e entusiasmo pela forma como podemos levar as histórias à casa das pessoas.

O mercado do streaming  está maior do que nunca. É ele que estão as matar as salas ou o problema é mais complexo do que isso?

As salas estão claramente a levar uma tareia, mas é cíclico. Penso que é complexo, as coisas vão mudar… Espero que as salas não comecem a fechar… Não há nada mais brilhante do que a experiência coletiva de algo com um público, do meu ponto de vista.

A seguir, vamos vê-la em “The Watcher”, uma minissérie da Netflix. O que pode adiantar sobre ela?

Não muito, a não ser que é muito divertida e misteriosa. Tem sido uma experiência estupenda, a rodagem… Estamos quase no fim. Adorei trabalhar com o Ryan Murphy que é verdadeiramente um visionário. A Mia Farrow diz que ele é o Fellini do horário nobre! (risos) É uma afirmação brilhante que eu subscrevo! Ele é um génio. Estou muito grata por trabalhar com ele.

No grande ecrã, o seu próximo filme é “Infinite Storm” que também produziu, tal como “A Hora do Desespero”. Representar e produzir é algo que procura nesta fase da sua carreira?

Estar envolvida na conversação do início ao fim é um processo mais interessante. Tenho gostado, por essa razão. Isso não quer dizer que tem de ser sempre assim, mas sim, gosto mesmo.

Na rodagem de “A Hora do Desespero”, como era um dia normal?

Muita preparação, física e emocionalmente. Começávamos um dia com muitos desafios que não tínhamos antecipado. Mas senti que éramos mesmo uma equipa, estávamos muito ligados, apoiámo-nos muito uns aos outros. Nunca me senti tão próxima de uma equipa como nesta experiência, até porque era uma equipa muito pequena e filmámos com alguma rapidez. Às vezes, filmávamos cenas que duravam 10 ou 15 minutos com muitas páginas de diálogo e… era preciso correr ou andar 3 ou 4 quilómetros de seguida. Por isso, a exaustão física agravada pelo desenrolar das emoções e pela descoberta da história… Foi tudo extremamente intenso!

“A Hora do Desespero” já está em exibição nos cinemas portugueses.

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