Embaixador da Ucrânia na ONU precisou de binóculos para ver os 4 países que apoiaram as anexações da Rússia

13 out 2022, 07:10
Sergiy Kyslytsya, embaixador da Ucrânia na ONU

Moscovo sofreu a maior derrota na Assembleia Geral da ONU. Só quatro países votaram ao lado da Rússia numa resolução que condena a “anexação” de quatro regiões da Ucrânia. Nem a China nem a Índia votaram ao lado de Putin - optaram pela abstenção

O representante permanente da Ucrânia nas Nações Unidas, Sergiy Kyslytsya, recorreu ao humor para celebrar a enorme derrota da Rússia na noite passada na Assembleia Geral das Nações Unidas. Apenas quatro países votaram ao lado do Kremlin contra uma resolução que exige à Rússia que reverta imediatamente a “tentativa de anexação ilegal” de quatro regiões da Ucrânia. Do outro lado, 143 países apoiaram essa resolução, o que marca a mais expressiva derrota de Vladimir Putin na Assembleia Geral da ONU desde o início da invasão do país vizinho.

Para vincar o quase isolamento dos russos, Kyslytsya pegou nuns binóculos, tentando encontrar os países que apoiaram a decisão ilegal de Moscovo. O momento foi partilhado pelo próprio embaixador ucraniano nas redes sociais, com um comentário irónico: “Oh Deus! Não os consigo ver! Quantos disse que votaram com a Rússia? Quatro? Caramba!…”

Antes da votação, e em tom mais sério, Kyslytsya liderou as críticas à Rússia e aos seus representantes na ONU. “Quando a delegação russa entra na Assembleia Geral deixa atrás de si um rasto de sangue”, acusou o diplomata ucraniano, numa alusão à brutalidade dos ataques contra os civis ucrâninos desde que começou a invasão.

China e Índia sempre em cima do muro

Para além da Rússia, só a Bielorrúsia, a Coreia do Norte, a Síria e a Nicarágua votaram contra a resolução, que denuncia a “tentativa de anexação ilegal” de quatro regiões ucranianas, depois de um “dito referendo” organizado pelos ocupantes pró-russos dessas regiões. Os referendos são considerados ilegais e inválidos, bem como os seus resultados, e a resolução agora aprovada apela a todos os países do mundo para que não reconheçam a suposta anexação, e se "abstenham de qualquer ação que possa ser interpretada como o reconhecimento de qualquer estatuto alterado" destas regiões.

Nas contas finais, 143 membros votaram a favor da resolução e da condenação da Rússia, e 35 optaram pela abstenção. 

Nem a China nem a Índia, importantes parceiros estratégicos da Rússia, que evitaram até hoje condenar a invasão da Ucrânia, votaram do lado de Moscovo. Mas também não alinharam com a posição maioritária da Assembleia Geral. Ambos os países optaram por se abster, continuando, dessa forma, “em cima do muro”, sempre sem condenar os atos ilegais de Putin.

A maioria dos abstencionistas são países africanos, mas também houve várias abstenções da Ásia Central - todos esses votos são de países com um longo histórico de associação com a Rússia, nomeadamente durante as décadas da Guerra Fria.

Portugal, como todos os países da UE (incluindo a Hungria), votou a favor da resolução. Também a Arábia Saudita, que tem oscilado nas suas posições e na última semana alinhou com Moscovo na redução das quantidades de petróleo colocadas no mercado internacional, votou o texto favoravelmente. Também votaram a favor da resolução todos os membros do Conselho de Cooperação do Golfo - que inclui o Bahrain, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

A resolução exorta a Rússia a "retirar imediata, completa e incondicionalmente todas as suas forças militares” da Ucrânia. Invocando os princípios da Carta das Nações Unidas, o texto reafirma que as regiões de Donetsk, Kherson, Lugansk e Zaporizhzhia estão temporariamente ocupadas pela Rússia em resultado de uma guerra de agressão, violando a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia.

“As suas fronteiras são suas e estão protegidas”

"A nossa mensagem é forte e clara: não importa se, como nação, é grande ou pequena, rica ou pobre, velha ou nova. Se é um Estado membro da ONU, as suas fronteiras são suas e estão protegidas pelo direito internacional. O caminho para a paz não passa por apaziguamento. O caminho para a paz não implica virar-se para o outro lado face a estas violações flagrantes. A paz não vem, e nunca veio, do silêncio", declarou a embaixadora norte-americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, antes da votação.

Após a divulgação do resultado, Joe Biden afirmou que "143 nações estavam do lado da liberdade, soberania, e integridade territorial". "Os desafios deste conflito são claros para todos - e o mundo enviou uma mensagem clara em resposta: a Rússia não pode apagar um Estado soberano do mapa. A Rússia não pode mudar as fronteiras pela força", lê-se na declaração divulgada pela Casa Branca. "A Rússia não pode confiscar o território de outro país como seu. A Ucrânia tem direito aos mesmos direitos que qualquer outro país soberano. Tem de poder escolher o seu próprio futuro, e o seu povo tem de poder viver pacificamente dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas".

"Quem quer ou pode dar-se ao luxo de estar do lado errado da cerca neste momento histórico?" perguntou, por seu lado, Kyslytsya.

A votação desta quarta-feira aconteceu porque o Conselho de Segurança da ONU não pôde votar um texto sobre o mesmo assunto  no final de Setembro, devido ao veto da Rússia. Na noite passada, antes da votação, Vassily Nebenzia, embaixador da Rússia na ONU, tinha advertido a Assembleia Geral de que a aprovação desta resolução poderia "destruir todo e qualquer esforço a favor de uma solução diplomática para a crise".

Europa

Mais Europa

Patrocinados