Tribunal turco condena a prisão principal opositor de Erdogan

14 dez 2022, 17:41
Ekrem Imamoglu (Lefteris Pitarakis/AP)

Decisão sobre palavras proferidas por Ekrem Imamoglu em 2019 surge seis meses antes das próximas eleições presidenciais

Um tribunal da Turquia condenou o autarca de Istambul, a maior cidade do país, a uma pena de prisão de dois anos, impondo-lhe ainda uma suspensão da sua atividade política. A decisão conhecida esta quarta-feira pode afastar do plano político Ekrem Imamoglu, um dos principais opositores do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan.

Ekrem Imamoglu vai recorrer da sentença de dois anos e sete meses, pelo que a decisão deste tribunal terá de ser ainda confirmada por instâncias superiores. O político, filiado ao Partido Republicano do Povo (CHP, na sigla original), foi condenado por insultar responsáveis políticos durante o discurso de vitória nas eleições autárquicas de 2019.

Para a condenação de Ekrem Imamoglu contribuiu a expressão “tolos”, tendo sido esse o adjetivo utilizado pelo político quando se referiu àqueles que defenderam uma anulação das eleições que lhe deram a vitória em 2019.

Questionado sobre a expressão, o autarca confirmou que se referia ao ministro do Interior, Suleyman Soylu, que tinha utilizado linguagem semelhante contra si. A verdade é que os resultados iniciais foram mesmo anulados, mas Ekrem Imamoglu voltou a vencer confortavelmente, colocando um fim a um domínio de 25 anos do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla original), o partido de Erdogan.

Trata-se de uma decisão que surge a cerca de seis meses das próximas eleições presidenciais na Turquia, nas quais o autarca de Istambul era visto como um forte candidato a derrotar o atual presidente, que governa o país há cerca de 20 anos. Até ao momento ainda não existe um candidato oficial para a oposição a Erdogan.

À porta da sede da autarquia estiveram vários apoiantes de Ekrem Imamoglu, depois de o próprio autarca lhes ter pedido que se reunissem através do Twitter, defendendo a “verdade, lei e justiça”. Do outro lado do estreito do Bósforo, na parte asiática da cidade, um forte contingente policial foi mobilizado para o tribunal, precavendo assim eventuais desacatos com populares.

“Uma mão cheia de pessoas não pode tirar a autoridade dada pelo povo. A nossa luta está a começar para ficar mais forte, com a permissão de Deus”, afirmou o autarca num curto vídeo publicado no website do município.

A expectativa para as próximas eleições presidenciais, que se realizam em simultâneo com o sufrágio parlamentar, é que a oposição se junte num todo para derrubar Erdogan, com o CHP a liderar uma coligação contrária ao presidente.

Acontece que, ainda que não oficialmente, Ekrem Imamoglu é visto como o principal rosto para liderar essa coligação. Esta condenação de agora pode fazer com que não venha a estar disponível politicamente para as eleições de junho, retirando do cenário um forte opositor de Erdogan.

Afastado do poder há vários anos, o CHP é o partido base da fundação da república da Turquia, tendo sido fundado por Mustafa Kemal, também conhecido como Ataturk (“pai dos turcos”), a mítica figura que declarou a república turca na sequência da queda do Império Otomano após a Primeira Guerra Mundial.

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