O Instagram está a fazer de si um turista pior. Eis como fazer para viajar melhor

CNN , Lauren A. Siegel
16 set 2023, 10:00
Turistas fotografam-se em selfies de telemóvel smartphione numa viagem de turismo em Paris para as redes sociais como o Instagram Foto Charday Penn _ E+ _ Getty Images

As redes sociais estão a alterar o comportamento dos turistas. Temos um conjunto de sugestões para ser um melhor viajante.

Nota do editor: Lauren A. Siegel é professora na Universidade de Greenwich, em Londres. As opiniões expressas neste comentário são da sua exclusiva responsabilidade.

 

As viagens voltaram a todo o vapor neste verão. O mau comportamento dos turistas também.

Nos últimos anos, os destinos mais populares têm registado um aumento de incidentes envolvendo turistas. Os relatos de um homem que desfigurou o Coliseu de Roma mostram que o comportamento se deteriorou mesmo em locais que raramente tinham problemas no passado.

O que está por detrás destes actos abomináveis? Uma resposta, segundo a minha investigação, são as redes sociais. O Instagram e o TikTok tornaram mais fácil encontrar restaurantes do género "joia escondida" e descobrir novos destinos para adicionar à sua lista de desejos. Mas esta democratização das viagens teve outras consequências.

Uma vez que as pessoas vêem agora os seus contactos nas redes sociais a viajar num local exótico, assumem (conscientemente ou não) que o comportamento que habitualmente têm em casa também é aceitável nesse destino de férias.

Isto é conhecido como prova social: quando olhamos para os comportamentos dos outros para enformar as nossas próprias acções. É provável que as pessoas ajam de forma mais hedonista quando estão de férias. Atualmente, os viajantes também procuram nas redes sociais provas do comportamento dos outros. Se os seus colegas de casa estiverem a ser menos cautelosos durante as férias, isso pode causar um efeito dominó de mau comportamento.

Identifiquei outras atitudes e hábitos de viagem negativos que surgiram como resultado do turismo impulsionado pelas redes sociais.

Por exemplo, o efeito de vítima identificável, que explica como é mais provável que as pessoas simpatizem com as vítimas de tragédias quando sabem quem são essas vítimas. Como os turistas estão muitas vezes abrigados em hotéis e estâncias longe das comunidades locais, podem pensar (erradamente) que viajar para um lugar longe de casa é uma oportunidade para um mau comportamento sem consequências. Subestimam ou ignoram o efeito que as suas acções podem ter sobre os habitantes locais ou sobre a economia.

O efeito Instagram

Quando as pessoas viajam para um lugar bonito, a tentação de publicar fotografias e vídeos nas redes sociais é grande. Mas, como já argumentei, isso cria um ciclo que contribui para viagens mais auto-indulgentes.

Primeiro, os turistas vêem os seus amigos a publicar fotografias de um local (reveladas através de geotags, georreferenciação). Depois, querem visitar os mesmos sítios e tirar o mesmo tipo de fotografias consigo próprios. Por fim, publicam-nas nas mesmas redes sociais onde viram as fotografias iniciais.

Poder viajar e publicar sobre a visita aos mesmos locais que o grupo social ou as ligações online de uma pessoa pode ser uma forma de estatuto social. Mas isso significa que, nalguns casos, os viajantes dedicam mais energia à criação de conteúdos do que à exploração, à descoberta ou ao respeito pelos costumes locais.

Os hotspots respondem

Os visitantes afluem a Itália pelas suas maravilhas, como a Galeria Uffizi em Florença, mas o lado negativo é o aumento do comportamento antissocial dos turistas. David Silverman/Getty Images

Bali é um destino com uma reputação de turismo induzido pelas redes sociais. A ilha fotogénica, repleta de retiros de ioga, é um grande atrativo para os influenciadores.

Em resposta ao mau comportamento dos turistas, Bali introduziu novas directrizes para os visitantes em junho de 2023. Estas incluem regras sobre o comportamento adequado nos templos sagrados, à volta da ilha e com os habitantes locais, e o respeito pelo ambiente natural.

Os turistas precisam agora de uma licença para alugar motas e não podem pisar qualquer montanha ou vulcão em Bali devido à sua natureza sagrada. Os viajantes só podem ficar alojados em hotéis e moradias registados (o que terá impacto em algumas propriedades de Airbnb). Bali introduziu uma "task force turística" para fazer cumprir as restrições, através de rusgas e investigações, se necessário.

Uma das novas directrizes é não agir de forma agressiva ou usar palavras duras para com os habitantes locais, funcionários do governo ou outros turistas, tanto em Bali como, nomeadamente, online. Esta medida demonstra o papel das redes sociais como parte do problema no que respeita ao mau comportamento dos turistas.

Outros destinos adoptaram medidas semelhantes. A Islândia, o Havai, Palau, a Nova Zelândia, a Costa Rica e outros adoptaram compromissos para que os visitantes respeitem as leis e os costumes locais. Campanhas como a "No Drama" ["Sem Dramas"] da Suíça, "See Vienna - not #Vienna" ["Visite Viena, não #Viena] da Áustria, "Be more like a Finn" ["Seja mais como um finlandês"] da Finlândia e "How to Amsterdam" ["Como Amesterdão] dos Países Baixos têm como objetivo atrair turistas bem comportados.

Quando estes esforços não são bem sucedidos, alguns locais, como a famosa Maya Bay, na Tailândia, foram mais longe e fecharam completamente as portas aos turistas, pelo menos temporariamente.

Viajar com respeito

Quando viaja, não se esqueça que é um convidado das comunidades de acolhimento. Eis algumas formas de garantir que será convidado a regressar.

1. Faça a sua pesquisa

Mesmo que seja um viajante experiente, pode não se aperceber do impacto que as suas acções têm nas comunidades locais. Mas um pouco de informação - proveniente da sua própria investigação ou fornecida pelos governos locais - pode ser suficiente para o ajudar a agir de forma mais adequada. Antes de partir, procure directrizes ou informações de base sobre as normas culturais ou de segurança locais.

O facto de concordar ou não com os costumes é irrelevante. Se for um local mais conservador do que aquele a que está habituado, deve ter isso em conta - ao contrário dos dois influenciadores que foram detidos por comportamento explícito num templo em Bali.

2. Pouse o telemóvel...

A investigação mostra que, quando se viaja, as pessoas podem ficar alienadas do ambiente que as rodeia se estiverem mais concentradas nos seus dispositivos móveis do que no destino.

Muitas vezes, as experiências de viagem mais memoráveis são aquelas em que se estabelece uma ligação significativa com alguém ou se aprende algo novo que nunca se tinha experimentado antes. Isso torna-se mais difícil se estivermos constantemente a olhar para o telemóvel.

3. ...ou use a sua influência para o bem

Nos populares posts "Instagram vs. realidade", os influenciadores estão a revelar as enormes multidões e filas por detrás dos locais mais Instagramáveis.

Mostrar as condições menos glamorosas por detrás dessas fotografias icónicas pode influenciar os seus contactos nas redes sociais a repensar as suas motivações pessoais de viagem - será que vão a algum lugar apenas para tirar a selfie perfeita? O facto de haver mais provas destas condições a circular online pode levar a uma mudança mais ampla na sociedade, afastando-a do turismo induzido pelas redes sociais.

Se tiver vontade de publicar, tente promover empresas mais pequenas e certifique-se de que está a demonstrar uma etiqueta adequada (e legal) durante as suas férias.

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