Modelos em vez de crianças, saias curtas e crop tops, bolos de aniversário pequenos e silêncio forçado: torneio de ténis de Madrid acusado de sexismo

10 mai 2023, 09:38
Apanha-bolas no torneio de ténis de Madrid (Getty Images)

Organização do torneio foi criticada devido a vários incidentes considerados discriminatórios por alguns adeptos da modalidade

Sendo uma das maiores competições de ténis do mundo, o torneio de Madrid atrai, todos os anos, as maiores figuras do ténis mundial, quer do lado masculino, quer feminino.

Mas, este ano, os organizadores acabaram por atrair não só a nata do desporto, como tudo o que desejam evitar: controvérsia fora do court.

As críticas surgiram logo no início da semana devido às apanha-bolas. As crianças que habitualmente ladeiam a terra batida madrilena foram substituídas por modelos, vestidas com crop tops e saias curtas, enquanto os homens vestiam polos e calções mais discretos.

"É uma forma feminizada de tratar as raparigas contra os rapazes que não se vestem assim. No fundo, é uma forma de violência sexista que está tão disseminada porque as pessoas nem se apercebem dela”, disse ao jornal espanhol Público a presidente da Associação das Mulheres nos Desportos Profissionais, Pilar Calvo.

Para a final masculina, as apanha-bolas deixaram as saias e vestiram calções longos, semelhantes aos de basquetebol, o que não foi suficiente para atenuar a polémica.

Mas a controvérsia não ficou por aqui e gerou-se outro grande debate nas redes sociais em torno de… bolos de aniversário. O atual número 1 mundial Carlos Alcaraz e a tenista bielorrussa Aryna Sabalenka, vencedora do Open da Austrália deste ano, celebram os seus aniversários no mesmo dia, 5 de maio. O espanhol, a seguir ao encontro das meias-finais contra Borna Coric, foi presenteado pela organização com um bolo gigante, com várias camadas. Sabalenka, por seu turno, recebeu um bolo mais modesto. “A diferença no tamanho do bolo é espantosa”, comentou um utilizador do Twitter na publicação que gerou este debate. Em resposta a este post, a também bielorrussa e ex-número 1 mundial Victoria Azarenka comentou. “Não podiam ser mais certeiros no tratamento [a Aryna Sabalenka]”.

O diretor do torneio, o antigo jogador Feliciano López, justificou a decisão na rede social: “Estou surpreendido com esta reação depois deste gesto! O Carlos tinha acabado de ganhar o seu jogo para chegar à final. Estava a jogar no court central. O torneio é disputado em Espanha, apesar de ser um evento internacional”, escreveu. “P.S.: Espero que o Rune não tenha ficado também aborrecido com o tratamento que lhe foi dado”, completou, publicando uma fotografia do jogador dinamarquês Holger Rune, que fez 20 anos no dia 29 de abril e recebeu da organização um bolo de aniversário ainda mais pequeno que o de Sabalenka.

A polémica, contudo, adensou-se após a final de pares femininos. Tanto a dupla vencedora – a bielorrussa Victoria Azarenka e a brasileira Beatriz Haddad Maia – como a derrotada – as americanas Coco Gauff e Jessica Pegula – não foram autorizadas a fazer um discurso no court.

“Não tive oportunidade de falar depois da final de hoje :( mas obrigada aos fãs por nos terem apoiado a nós e ao ténis feminino esta semana”, lamentou Coco Gauff no Twitter. Também Pegula e Azarenka lamentaram este incidente.

"Não sei em que século estavam todos a viver quando tomaram essa decisão. Ou como é que tiveram uma conversa e decidiram: 'Uau, esta é uma ótima decisão e não vai haver nenhuma reação contra isto’. Nunca na minha vida ouvi dizer que não poderíamos falar. Foi realmente dececionante”, afirmou a norte-americana, citada pela BBC.

“É difícil explicar ao Leo [filho de Victoria Azarenka] que a mamã não lhe pôde dizer ‘olá’ durante a cerimónia de entrega de troféus”, apontou a tenista bielorrussa.

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