Inflação desacelerou mais do que o esperado. Todos apontam para junho como a data em que BCE começa a descer juros

3 abr, 19:24
Christine Lagarde - Banco Central Europeu

A taxa de inflação na zona euro em março recuou para 2,4%. Uma desaceleração mais forte do que a antecipada pelos mercados e que faz olhar para junho como o mês do primeiro corte de taxas pelo BCE

O Banco Central Europeu (BCE) deverá começar a cortar as taxas de juro em junho, uma ideia que já estava interiorizada nos mercados, mas que os dados da inflação na zona euro divulgados esta quarta-feira vieram tornar ainda mais provável.

O Eurostat, órgão estatístico da União Europeia, divulgou hoje a sua estimativa rápida sobre a evolução dos preços na zona euro e, segundo estes dados, a taxa de inflação homóloga desacelerou de 2,6% em fevereiro para 2,4% em março. Já a inflação subjacente, que exclui os bens mais voláteis, como os bens energéticos e alimentares, também desacelerou, de 3,1% para 2,9%. Em ambos os casos, o abrandamento surpreendeu os mercados que apontavam para uma travagem, mas menos pronunciada.

Horas depois, em Barcelona, durante uma conferência financeira, o governador do Banco de Espanha, Pablo Hernandez de Cos, dava os primeiros sinais de satisfação. Os “dados foram positivos”, dizia citado pela agência Reuters o também membro do Conselho de Governadores do BCE, acrescentando que o mais importante é que os dados foram “compatíveis com as previsões de março do BCE”, quando a instituição monetária da zona euro reduziu a sua previsão para a inflação em 2024 de 2,7% para 2,3% e afirmou que espera que a inflação desça para 1,9% no verão de 2025.

“A partir de hoje, o cenário central é que em junho poderá ocorrer a primeira redução da taxa de juro", concretizou ainda De Cos.

Mas esta não é uma certeza. E o governador do Banco de Espanha lembrou que o BCE continuará “a receber informações que terão de ser cuidadosamente analisadas". Assim, não é de esperar que na próxima reunião do BCE, a realizar na quinta-feira da próxima semana, haja qualquer mexida nas taxas diretoras, até porque o BCE deverá preferir esperar pelos dados do crescimento dos salários no primeiro trimestre e estes dados só serão conhecidos em maio.

Aliás, ainda antes de serem conhecidos os dados da inflação, um inquérito realizado pela Reuters entre 25 e 28 de março junto de 77 economistas dava conta de que todos acreditavam que os juros ficariam inalterados na reunião de abril do BCE, mas cerca de 90%, ou seja, 68 inquiridos, previram que a primeira redução ocorreria em junho.

Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, começa por salientar à CNN Portugal que os dados da inflação conhecidos esta quarta-feira “ditam uma subida das taxas de juro reais na zona euro, acima de 1%, dando margem suficiente ao BCE para descer as suas taxas de juro de referência num contexto de forte abrandamento da economia da área do euro, sobretudo penalizada pela recessão alemã, principal motor económico do velho continente”.

Recorde-se que as taxas de juro do BCE estão, atualmente, a um nível historicamente elevado, com a taxa de depósitos nos 4%. 

Um cenário que leva Paulo Rosa a lembrar que, de acordo com o mercado monetário, “a probabilidade de o BCE descer as suas taxas de juro de referência em 25 pontos base na reunião de 6 de junho é de 90%, esperando os investidores um novo corte de 25 pontos base na reunião seguinte do BCE no dia 18 de julho”, descendo para 3,50% a sua taxa de depósitos. 

“Os dados preliminares de hoje sobre a inflação saíram abaixo do esperado”, indica à CNN Portugal Henrique Tomé, analista da XTB. Dados que, prossegue o analista, “reforçam que a tendência de baixa sobre a inflação persiste e apoiam a redução dos juros na Zona Euro ainda este ano”. Ou seja, conclui Henrique Tomé, “neste momento, espera-se que a primeira redução dos juros aconteça em junho”, mas, alerta o mesmo responsável, “estas perspetivas poderão mudar se existirem alterações na evolução dos indicadores económicos”.

 

NOTA

O BCE tem três taxas de juro de referência:

- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,50%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;

- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 4%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;

- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,75%.

Relacionados

Dinheiro

Mais Dinheiro

Patrocinados