Rui Rio, um líder que sai sem pressa. E o PSD, do que está à espera?

17 fev 2022, 18:44
Em português ou alemão, Rio diz que não vê como pode “ser útil”. Qual o futuro do PSD?

Luís Montenegro aguarda. Paulo Rangel pondera, Jorge Moreira da Silva não exclui, Miguel Pinto Luz reflete, José Ribau Esteves oferece-se. Porque ficaram todos à espera? O calendário político explica. Análise à sucessão ao ralenti de Rui Rio

Rui Rio deixou o calendário da sucessão no PSD em aberto. O resultado é um partido que vive em ponto-morto.

Não desligou os motores nem está a avançar.

Luís Montenegro aguarda. Paulo Rangel pondera, Jorge Moreira da Silva não exclui, Miguel Pinto Luz reflete, José Ribau Esteves oferece-se. Todos medem apoios e todos aguardam para perceber qual é o próximo passo, afinal, de um líder que avisou que sairia mas sem pressa. E mais, disse: que não o empurrem.

Porque ficaram todos à espera? O calendário político explica:

São quatro anos e nove meses de maioria absoluta do PS (desde a data das legislativas), três eleições diretas se o PSD avançasse depressa para a sucessão e um ciclo de eleições com europeias, regionais, autárquicas e presidenciais. O próximo presidente do PSD terá de sobreviver ao desgaste do tempo, da oposição e dos vários desafios eleitorais, dentro e fora do partido; a hipótese de morrer na praia, antes das legislativas de 2026, é uma ameaça demasiado pesada para quem arriscar a travessia no oceano. Junte-se o adiamento da instalação da Assembleia e da tomada de posse do Governo, que acaba por adiar todo o calendário político e a discussão do Orçamento do Estado.

Daí a pausa: para pensar se é ou não é melhor esperar, pelo menos até ao verão, como quer o ainda líder do PSD.

A direção de Rui Rio tem feito passar, insistentemente, essa ideia - e os mais próximos até atiram que o melhor calendário seria prolongar a sucessão até outubro ou novembro. São muitos meses para um partido que não costuma ser complacente com líderes que perdem eleições sucessivas. Mas estamos a falar de Rui Rio, que ganhou três eleições diretas no partido contra a maioria das expectativas, e de uma sessão legislativa que, na melhor das hipóteses, começa a funcionar em pleno lá para abril.

Os sucessivos contactos e as reuniões entre distritais são o sinal mais evidente de que, apesar de todos estes constrangimentos, há quem tenha pressa.

Esta semana já se reuniram as estruturas do norte e hoje ainda reúnem-se todas em Leiria, ao jantar, num encontro já noticiado pela CNN Portugal e que tem tido como protagonista nas “démarches” o líder da distrital de Viseu, Pedro Alves. Foi ele em quem, em 2018, dirigiu a campanha interna de Luís Montenegro, que perdeu para Rui Rio.

E é ele quem, com Salvador Malheiro, vice-presidente de Rio, tem estado atarefado em contactos no partido, segundo adiantam várias fontes, trabalhando ao lado do antigo líder parlamentar de Pedro Passos Coelho.

Conselho Nacional de Barcelos. Um calendário possível para uma reunião que pode decidir coisa nenhuma

A reunião das distritais tem sido descrita como uma tentativa de concertar uma posição comum, uma plataforma de entendimento para a reunião do Conselho Nacional do próximo sábado, em Barcelos.

A ideia, segundo um presidente de distrital, será levar uma proposta de calendário eleitoral. Fontes do PSD dizem à CNN Portugal que tal poderia passar por propor eleições diretas no final de abril e o respetivo congresso um mês depois, no fim de maio.

Certezas, para já só uma: a agenda dos trabalhos da reunião magna entre congressos não tem prevista a apresentação de um cronograma. Mais, como fazem notar os mais próximos de Rui Rio, não há um processo formalmente aberto, há um líder em funções, legitimado por diretas há pouco mais de dois meses. Rio disse apenas que sairia e que pensava que até ao verão seria razoável que esse processo ficasse concluído. E isso foi antes de ser adiada a posse da Assembleia da República.

Sendo assim, Rui Rio vai a Barcelos para ouvir e perceber a sensibilidade do partido: “Se houver dois ou três franco-atiradores a pedir um congresso extraordinário ou a dizer que é preciso eleições já, ele pode sair mais cedo”, avisa um elemento da direção do PSD. “Se os conselheiros entenderem que o prazo que o presidente estabeleceu é razoável, então a próxima sessão legislativa, depois do verão, será com nova liderança”, conclui a mesma fonte.

Mas na direção nacional, a sensação geral é a de que Rio não tem pressa nenhuma. E registam as declarações do próprio no final da audiência com o primeiro-ministro, António Costa, sobre as reformas que ainda acha possível discutir nos próximos dois anos: “São matérias como a revisão constitucional, reforma do sistema eleitoral, alteração à lei autárquica, de que já se fala há muitos anos, e fundamentalmente a descentralização que o país tem uma vez por todas de decidir se faz e como faz”, exemplificou o presidente do PSD.

Tudo somado, há a íntima convicção entre os mais próximos de que para já pode ficar tudo em aberto.

Pode existir uma recomendação proposta pelos conselheiros nacionais para que se marquem as diretas, mas ainda assim não é certo que seja já em Barcelos, ou se será apenas numa reunião seguinte.

É rápido marcar um conselho nacional, reforça fonte da direção. E repete aquela pergunta que entrou para a história da política nacional: para o próximo líder, quem quer que seja, “qual é a pressa?”

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