Acionistas injetaram 25 milhões no megacentro de dados em Sines no final do ano passado. Foi o primeiro aporte de fundos desde que rebentou o caso que derrubou o Governo de António Costa em novembro
A Start Campus, que está a desenvolver o mega centro de dados em Sines, recebeu uma injeção de 25 milhões de euros dos seus acionistas no final do ano passado, no primeiro aporte de fundos desde que rebentou a operação Influencer que investiga suspeitas de corrupção que estiveram na base da queda do anterior Governo de António Costa.
Oficialmente, a empresa não comenta a operação, mas uma fonte próxima do assunto explicou ao ECO que há “faturas com os empreiteiros e custos de estrutura para suportar”. Outra fonte sublinhou que dois parceiros mantêm a intenção de continuar com este investimento.
Sem acesso à banca, o projeto – da iniciativa dos americanos da Davidson Kempner (parceiro financeiro) e dos britânicos da Pioneer Point Partners (parceiro operacional), que controlam a Start Campus através de uma rede de empresas que vai até às Ilhas Caimão – tem sido financiado desde o início com recurso a fundos próprios dos seus acionistas.
Até hoje, a Start – Sines Transatlantic Renewable & Technology Campus já recebeu 208 milhões através de 15 emissões de obrigações realizadas por oferta particular entre junho de 2021 e o final do ano passado, de acordo com o portal dos atos societários do Ministério da Justiça.
Este dinheiro serviu sobretudo para a aquisição dos terrenos e equipamento para desenvolver aquele que é considerado o segundo maior investimento estrangeiro em Portugal desde a Autoeuropa, na ordem dos 3,5 mil milhões de euros.
A anterior injeção aconteceu poucos dias antes das buscas do Ministério Público no âmbito da Operação Influencer, no dia 7 de novembro, devido a suspeitas de corrupção envolvendo membros do Governo relacionados com vários grandes negócios em curso no país, incluindo o lítio, hidrogénio e o data center hiperescalador Sines 4.0.
O caso viria a precipitar na demissão de António Costa e, posteriormente, na queda de todo o Executivo, levando o país para novas eleições, que estão marcadas para o dia 10 de março.
O Ministério Público suspeita que a Start Campus contratou o advogado Diogo Lacerda Machado porque este era amigo do então primeiro-ministro, pagando-lhe 6.533,32 euros líquidos por mês, para influenciar o Governo e entidades públicas a tomarem decisões favoráveis à empresa. Uma das suspeitas envolvem a chamada “lei malandra” que teria como intenção favorecer o megaprojeto da Start Campus, mas acabou fora do decreto-lei do simplex do licenciamento de obras promulgado pelo Presidente da República já este ano.
Até recentemente, a Start Campus era liderada por Afonso Salema, que renunciou ao cargo de CEO após ter sido constituído arguido no âmbito da Operação Influencer. Com ele também saiu o administrador Rui Oliveira Neves, sócio da sociedade de advogados Morais Leitão, posição que viu ser suspensa.
Afonso Salema foi substituído por Richard Dunn, que dá agora continuidade a um projeto que promete criar 1.200 empregos diretos “altamente qualificados” e 8.000 empregos indiretos até 2025. Mas, como escrevia o ECO em novembro, o mega data center ainda não tinha passado da fase piloto, contabilizando já três anos de atraso face ao plano inicial.