Fraude? Eleições na Sérvia estão sob escrutínio e líder da oposição promete manter greve de fome

26 dez 2023, 18:03

Várias organizações independentes apontam que o sufrágio parlamentar no país dos Balcãs não foi totalmente justo, mas isso não parece abalar o partido no poder

Foi à justa que o Partido Progressista Sérvio (SNS), do presidente Aleksandar Vucic, conseguiu a maioria absoluta nas eleições parlamentares do passado dia 17 de dezembro. Contudo, mais de uma semana após o sufrágio, as dúvidas quanto à veracidade dos resultados acumulam-se, havendo mesmo violentos protestos nas principais cidades do país.

A missão de observação independente da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) apontou, num relatório publicado no dia 18, que as eleições decorreram sob “condições injustas” e que a votação foi “afetada por uma retórica corrosiva, parcialidade dos meios de comunicação social, pressão sobre os funcionários do setor público e utilização indevida dos recursos públicos”.

Também a organização sérvia Centro de Pesquisa, Transparência e Responsabilidade (CRTA) elaborou um relatório no qual considerou que os resultados das eleições na capital, Belgrado, “não refletem a vontade livremente expressa pelos eleitores que ali vivem”.

Entre as principais alegações está, de acordo com a Deutsche Welle, a votação irregular de 40 mil sérvios da Bósnia-Herzegovina que, com recurso a documentos de identificação falsos, conseguiram votar em Belgrado e outras cidades sérvias.

Munidos de todos estes dados, os opositores do SNS saíram à rua em protesto. A comandar as manifestações está Marinika Tepic, líder da principal força da oposição, a coligação Sérvia contra a Violência, que obteve 65 dos 250 lugares no parlamento sérvio.

"Não podemos e não devemos reconhecer as eleições roubadas de Belgrado. Viemos apresentar as provas que temos até agora, temos mais, temos centenas e centenas de objeções”, disse Tepic à multidão que se juntou ao pé e mesmo dentro do edifício da comissão central de eleições da Sérvia no dia 18.

Nesse mesmo dia, juntamente com outros opositores do partido no poder, Tepic iniciou uma greve de fome em protesto contra os resultados das eleições, ação que espera manter até que as mesmas sejam anuladas e os sérvios voltem a ser chamados às urnas. Tepic está desde segunda-feira a soro.

"Provavelmente [os médicos] vão pedir-me para parar a greve de fome e eu vou pedir-lhes que ajudem a continuar esta luta. Esta é a luta pela nossa liberdade”, afirmou Tepic no dia de Natal, citada pela Reuters. “Temos de assegurar um futuro melhor para as nossas crianças”.

No domingo, viveu-se um dos dias mais tensos desde as eleições, quando manifestantes antigoverno tentaram invadir o edifício da autarquia de Belgrado. Nesse dia, a polícia sérvia deteve 38 pessoas.

Até ao momento, os protestos, tanto os pacíficos como os violentos, não abalaram o SNS. De acordo com a BBC, o presidente Vucic afirma que as manifestações apenas ocorrem devido a “interferências externas” e classificou as alegações de fraude eleitoral como “tretas e mentiras”.

"Aqueles que juraram lutar contra a violência acabam de confirmar mais uma vez que são os verdadeiros bandidos", disse Aleksandar Vucic, em reação às manifestações do dia 24.

Há a registar uma pequena vitória para a oposição, que conseguiu uma repetição das eleições, agendada para dia 30, em 30 assembleias de voto de todo o país. Contudo, de acordo com a Deutsche Welle, apenas 12.140 pessoas vivem nas áreas que vão novamente a votos.

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