Porque é que o riso é uma terapia para a mente e para o corpo

CNN , Janet M. Gibson e Grinnell College
2 abr 2023, 19:30
Riso alegria moda cidades

Rir pode melhorar o seu humor e tornar a sua resposta física e emocional ao stress menos intensa.

A boa disposição e as surpresas agradáveis - e o riso que elas podem provocar - dão textura à vida quotidiana.

Esses risos e gargalhadas podem apenas parecer tolices descartáveis. Mas o riso, em resposta a acontecimentos engraçados, dá na verdade muito trabalho, porque ativa muitas áreas do cérebro: aquelas que controlam o processamento motor, emocional, cognitivo e social.

Como eu descobri, ao escrever o livro “An Introduction to the Psychology of Humor” [à letra, “Uma Introdução à Psicologia do Humor”], os investigadores agora valorizam o poder do riso como forma de melhorar o bem-estar físico e mental.

O poder físico do riso

As pessoas começam a rir na infância, quando isso ajuda a desenvolver músculos e força da parte superior do corpo. O riso não é apenas sobre respirar. Baseia-se em combinações complexas de músculos faciais, muitas vezes envolvendo movimentos dos olhos, cabeça e ombros.

O riso – seja o ato de rir ou o de ver rir - ativa múltiplas regiões do cérebro: o córtex motor, que controla os músculos; o lóbulo frontal, que ajuda a compreender o contexto; e o sistema límbico, que modula as emoções positivas. Ligar todos estes circuitos fortalece as ligações neurais e ajuda um cérebro saudável a coordenar a sua atividade.

Rir com os outros ajuda a criar laços sociais e pode aumentar a intimidade.

Ao ativar as vias neurais de emoções como o gozo e a alegria, o riso pode melhorar o seu humor e tornar menos intensa a sua resposta física e emocional ao stress. Por exemplo, o riso pode ajudar a controlar os níveis cerebrais do neurotransmissor serotonina, o que é semelhante ao que os antidepressivos fazem. Ao minimizar as respostas do seu cérebro a ameaças, limita a libertação de neurotransmissores e hormonas como o cortisol, que podem desgastar os seus sistemas cardiovascular, metabólico e imunitário ao longo do tempo. O riso é como um antídoto para o stress, que enfraquece estes sistemas e aumenta a vulnerabilidade a doenças.

O poder cognitivo do riso

Um bom sentido de humor e o riso que se segue dependem de uma ampla medida de inteligência social e de recursos de memória de trabalho.

O riso, tal como o humor, tipicamente parte de reconhecer as incongruências ou absurdos de uma situação. Você precisa de resolver mentalmente um comportamento ou acontecimento surpreendente - caso contrário, não se rirá e, em vez disso, poderá ficar confuso. Depreender as intenções dos outros e assumir a sua perspetiva pode aumentar a intensidade do riso e da diversão que sente.

Para “apanhar” uma piada ou uma situação humorística é preciso ser capaz de ver o lado mais leve das coisas. É preciso acreditar que existem outras possibilidades para além da literal – pense por exemplo em bandas desenhadas com animais que falam.

O poder social do riso

Muitas competências cognitivas e sociais trabalham em conjunto para o ajudar a monitorizar quando e porquê o riso ocorre durante as conversas. Nem sequer é preciso ouvir uma gargalhada para se poder rir. Os surdos que falam linguagem gestual pontuam as suas frases gestuais com risos, tal como os “emoticons” [emogis de emoções] nas mensagens escritas.

O riso cria laços e aumenta a intimidade com os outros. O linguista Don Nilsen salienta que os risos e as gargalhadas de barriga raramente acontecem quando se está sozinho, o que destaca o seu forte papel social. Começando cedo na vida, o riso dos bebés é um sinal externo de prazer que ajuda a fortalecer os laços com os prestadores de cuidados.

É possível praticar o riso quando se está sozinho, tendo uma perspectiva que aprecia o lado engraçado dos acontecimentos.

Mais tarde, é um sinal externo de que se partilha o que se pensa de uma situação. Por exemplo, oradores públicos e comediantes tentam fazer rir para que as audiências se sintam psicologicamente mais próximas delas, para criar intimidade.

Ao treinar todos os dias um pouco de riso, é possível aumentar as capacidades sociais que podem não surgir naturalmente em si. Quando rimos em resposta ao humor, partilhamos os nossos sentimentos com outros e aprendemos com os riscos de que a nossa resposta será aceite/partilhada/apreciadas pelos outros e não será rejeitada/ignorada/desaprovada.

Em estudos, psicólogos apuraram que homens com características de personalidade de Tipo A, incluindo espírito de competição e urgência de tempo, tendem a rir mais, enquanto as mulheres com essas características riem menos. Ambos os sexos riem mais com os outros do que quando estão sozinhos.

O poder mental do riso

Os investigadores de psicologia positiva estudam como as pessoas podem viver vidas com significado e prosperar. O riso produz emoções positivas que levam a este tipo de florescimento. Estes sentimentos - tais como divertimento, felicidade, alegria e gozo - constroem a resiliência e aumentam o pensamento criativo. Aumentam o bem-estar subjetivo e a satisfação com a vida. Os investigadores descobriram que estas emoções positivas que se experimentam com o humor e o riso correlacionam-se com a valorização do sentido da vida e ajudam os adultos mais velhos a ter uma visão benigna das dificuldades que enfrentaram ao longo de toda uma vida.

O riso em resposta a um divertimento é um mecanismo saudável para lidar com a vida. Quando se ri, leva-se a si próprio ou à situação menos a sério e pode sentir-se capacitado para resolver problemas. Por exemplo, os psicólogos mediram a frequência e a intensidade do riso de 41 pessoas durante duas semanas, juntamente com as suas classificações de stress físico e mental. Descobriram que quanto mais risos experimentam, menor é o stress relatado. E não importava se os momentos de risos eram de intensidade forte, média ou fraca.

Talvez queira alguns destes benefícios para si próprio - pode forçar o riso a funcionar para si?

O riso é um mecanismo de sobrevivência saudável. Leva-se a si próprio ou a uma situação menos séria quando se ri.

Um número crescente de terapeutas defende o uso do humor e do riso para ajudar os clientes a construir confiança e melhorar os ambientes de trabalho; uma análise de cinco estudos diferentes apurou que as medidas de bem-estar aumentaram após intervenções do riso. Por vezes chamadas de “homeplay” em vez de trabalhos de casa, estas intervenções assumem a forma de atividades diárias de humor – como rodear-se de pessoas engraçadas, assistir a uma comédia que o faça rir ou escrever três coisas engraçadas que lhe aconteceram hoje.

É possível praticar o riso mesmo quando se está sozinho. Intencionalmente, tomar uma perspetiva que valorize o lado engraçado dos acontecimentos. O yoga do riso é uma técnica de usar os músculos respiratórios para alcançar as respostas físicas positivas do riso natural com riso forçado (ha ha he he ho ho).

Os investigadores atuais certamente não se riem do seu valor, mas uma boa parte da investigação sobre a influência do riso na saúde mental e física baseia-se em medidas autoavaliadas. Mais experiências psicológicas em torno do riso, ou dos contextos em que ele ocorre, irão provavelmente apoiar a importância do riso ao longo do seu dia, e talvez até sugerir mais formas de aproveitar intencionalmente os seus benefícios.

 

Janet M. Gibson é professora de psicologia cognitiva no Grinnell College em Iowa, nos EUA.

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