Governador do Banco de Portugal está confiante que inflação irá travar para o objetivo dos 2%. "Está ao nosso alcance no horizonte próximo", diz
O governador do Banco de Portugal considera que o país e a Zona Euro enfrentam uma “encruzilhada de políticas para reduzir a inflação e responder ao abrandamento da economia”. Mário Centeno alerta que há o risco de o BCE “fazer demais” na política monetária, numa altura em que vê o objetivo para a inflação aproximar-se. Ao Governo recomenda que mantenha a redução da dívida.
“A conjuntura apela a políticas centradas na função estabilizadora. Na dimensão monetária, o risco de ‘fazer demais’ começa a ser material”, alerta Mário Centeno numa análise ao atual momento da economia, divulgada esta segunda-feira pelo Banco de Portugal.
“Na ausência de novos choques e com a materialização da transmissão da política monetária à economia, o objetivo de médio prazo está ao nosso alcance no horizonte próximo“, considera o governador, afirmando que “a inflação deverá aproximar-se dos 2%”.
O também membro do conselho do BCE assinala que “a inflação tem-se reduzido mais rapidamente do que subiu e a economia está a ajustar-se às novas condições financeiras”. Olhando mais para a frente, defende que “assegurada a convergência para a estabilidade de preços, a política monetária deverá traçar um caminho previsível de redução das taxas de juro, mas longe dos tempos de taxas de juro de zero ou mesmo negativas”.
O governador deixa também recomendações ao Governo na gestão das contas públicas, na linha de outras recentes. Na política orçamental, “deve preservar-se o equilíbrio para reduzir a dívida num contexto de inflação baixa e taxas de juro mais elevadas”, refere.
Encruzilhada de políticas
A coordenação entre a política monetária e orçamental continuará a ser determinante. “Enfrentamos uma encruzilhada de políticas para reduzir a inflação e responder ao abrandamento da economia. Uma encruzilhada de políticas não é mais do que a necessidade de utilizar a cooperação institucional, como no passado recente da Europa e do país, para garantir uma saída bem-sucedida para os nossos desafios”, aponta Mário Centeno
O governador defende que “as políticas económicas devem continuar a combater as causas da inflação, porque esta é um sintoma, minimizando os riscos de desestabilização para os cidadãos e lançando as bases para um novo ciclo económico”.
“Neste momento difícil para a geopolítica e a economia, a estabilidade e previsibilidade das políticas são o nosso maior ativo”, sublinha na publicação com o título “Encruzilhada de políticas”, onde reflete sobre os desafios económicos que se colocam a Portugal e à área do euro e partilha a sua visão sobre o caminho das políticas a seguir.
Centeno refere que “a encruzilhada traz maior aperto financeiro a famílias e empresas em resultado do ciclo de política monetária”. E sublinha-o com um previsão: “No final de 2023, cerca de 70 mil famílias poderão vir a ter despesas com o serviço do crédito à habitação permanente superiores a 50% do seu rendimento líquido; no final 2021, já eram 36 mil famílias”.