Uma história de amor deu à luz a Laranja Mecânica

12 jan 2015, 10:31
Laranja Mecânica no Brasil

Um projeto diferente a crescer em Arapongas, no Brasil. Tem dois vice-campeões do mundo holandeses e um fundador

Stanley Kubrick não é para aqui chamado. A Laranja Mecânica de que se fala é a gloriosa seleção holandesa da década de 70. O ADN do futebol de Ruud Krol, Johan Neeskens, Johnny Rep, Johan Cruyff e, claro, Rinus Michels, está vivo e bem vivo.

Fomos encontrá-lo em Arapongas, Estado do Paraná, Brasil. De excelente saúde. «Orgânico por fora, mecânico por dentro»
. Kubrick outra vez? Está no texto errado, caro Stanley.

Em frente. O Esporte Clube Laranja Mecânica importou os ensinamentos dos grandes mestres holandeses e respira desde 2007. Na génese esteve, como tantas vezes na vida, o amor. No caso, entre um holandês e uma brasileira.

Marco Plomp, holandês e fundador do EC Laranja Mecânica, conta tudo ao Maisfutebol
. «Eu e a minha esposa conhecemo-nos na Holanda. Ela é brasileira, de Arapongas, e isso foi decisivo para arrancarmos para este projeto. Juntei a Holanda ao Brasil e saiu isto»
.

A Laranja Mecânica brasileira abriu portas em 2007. Plomp não hesitou na hora de escolher o nome.

«O Willy van de Kerkhof, membro da seleção holandesa de 1974, é o embaixador da nossa instituição. Além dele temos o Wim Jansen, outro jogador famoso dessa equipa, como diretor técnico. Se a isso juntarmos os nossos ideais, a designação Laranja Mecânica torna-se óbvia»
.

Ex-adjunto de Ruud Gullit lidera o campo técnico


Trasladar a forma mais perfeita do futebol holandês para o sul do Brasil não é tarefa simples. Marco Plomp sublinha que o principal foco do EC Laranja Mecânica é a «formação»
, mas acrescenta que a mentalidade da instituição acaba muitas vezes por ser frustrada.

«Trabalhamos com jovens entre os seis e os 16 anos. Durante esse tempo eles evoluem a parte técnica do jogo, mas o que mais nos importa é o desenvolvimento individual, o crescimento. O problema é que mal saem daqui são confrontados com contextos radicalmente distintos, onde só o resultado é relevante»
.

Mesmo com essa limitação, os treinadores da Laranja Mecânica, muitos deles holandeses, já conseguiram colocar vários atletas nas seleções jovens do Brasil.

«Quatro nos sub 17, um nos sub20 e até já temos atletas nossos a atuar em Portugal»
.

Isso mesmo. Alexandre Kanu jogou no Sp. Braga e no Vitória Guimarães, Maurício e Felipe Augusto estão no Vizela, Allan Oliveira passou pelo Sp. Braga B e atua no Lourosa. Todos nados e criados no Laranja Mecânica.



«No Brasil o talento existente é inacreditável, mas o rendimento não tem o mesmo nível. Há muita gente a perder-se, as circunstâncias não são fáceis. No nosso clube procuramos aplicar bons ensinamentos, sempre com a escola em primeiro lugar, à frente do futebol»
.

Marco Plomp é o mentor de todo o projeto, Ron van Kiekerk dirige a equipa de treinadores. Este último foi adjunto de Ruud Gullit no Terek Grozny, por exemplo.

Ambição e ordem não falta ao EC Laranja Mecânica. Marco Plomp continua a descrever as suas diretrizes.

«A partir dos 14 anos os atletas têm a escola e dois treinos por dia. Fornecemos aulas de inglês também. O nosso investimento foi muito grande e por isso procuramos retorno financeiro a médio prazo»
.

Esse retorno passa, naturalmente, pela colocação de jogadores nos grandes clubes do Brasil e na Europa. Portugal, como sempre, é uma porta de acesso «ideal»
. «É uma vitrine fantástica, com bons clubes e condições sócio-culturais parecidas com as que existem no Brasil»
.  

Jogo após jogo, as camisolas laranja ganham vida e brilham nos relvados paranaenses. Os mestres dos anos 70 são dignificados por meninos de todas as cores e origens.  

«Muita posse de bola, toque curto, mentalidade forte e ofensiva»
. Uma receita irresistível.

E se convidássemos Kubrick, o mentor de outra Laranja Mecânica, para o final do artigo, a sua conclusão só podia ser esta, famosa: «Se a ideia pode ser escrita e pensada, então também deve ser filmada».

 

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