Pandemia trouxe menos notificações de tuberculose e atrasou tratamentos. Em 2021, “é expectável um aumento do número de casos”

11 mar 2022, 00:00
Ambiente hospitalar. (AP Photo)

A Direção-Geral da Saúde publicou esta sexta-feira o Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal, que dá conta de uma quebra na notificação de casos e um aumento no tempo de diagnóstico, sendo a pandemia apontada como uma das responsáveis

O Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal, com dados referentes a 2020, dá conta de uma redução da notificação de casos em Portugal e de um aumento do número de dias até ao diagnóstico e consequente tratamento. 

Segundo a análise epidemiológica anual da Direção-Geral da Saúde, em 2020 foram registados 1.465 casos em 2020, menos 383 do que no ano anterior. O decréscimo tem sido uma tendência nos últimos anos, mas a pandemia pode ter acentuado a queda de notificações e resultar numa subida dos casos em 2021.

“Considerando o decréscimo percentual anual de 3,9% entre 2015-2019 e a subida do valor para 8,6%/ano em 2016-2020 - em consequência da pandemia por SARS-CoV-2 -, é expectável um aumento do número de casos em 2021, em comparação com 2020”, alerta o documento.

Segundo o relatório, divulgado pela DGS esta sexta-feira, atualmente, a taxa de notificação corresponde a 14.2 por 100 mil habitantes. 

Perante a situação atual, “torna-se necessário acelerar o decréscimo anual da doença por forma a alcançar as metas definidas pela Organização Mundial de Saúde, que consistem em reduzir até 2035 em 95% o número de mortes por Tuberculose e em 90% a taxa de incidência de tuberculose”.

Mais casos entre homens e imigrantes com taxa de notificação superior à média nacional

Do total de casos notificados em 2020, 64,8% eram homens. “Em 2020, 2,8% do total de casos ocorreram em crianças com menos de 15 anos de idade, sendo a taxa de incidência de 4,78 casos por 100 mil no grupo etário de crianças dos 0 aos 5 anos, enquanto que em 2019 foi de 8,66 casos por 100 mil”, lê-se no documento

Em 2020, 77,1% dos casos notificados foram testados para VIH (um valor inferior faze aos 85,6% em 2019) e 9% apresentavam coinfeção de tuberculose e VIH. “O sucesso terapêutico ocorreu em 82,2% e a letalidade em 8,2% dos casos”, relata o documento.

Do total de casos notificados em 2020, 27,4% dizem respeito a imigrantes, o que representa uma taxa de notificação 4,3 vezes superior à média nacional (60,6 por 100 mil em 2020). Trata-se, diz o documento, de “um valor progressivamente crescente ao longo dos anos”.

De acordo com o relatório, os distritos do Porto e de Lisboa mantêm-se como os que apresentam uma maior incidência de tuberculose, “embora com taxas de notificação decrescentes e próximas dos 20 casos por 100 mil habitantes”.  A Região de Lisboa e Vale do Tejo apresenta 18 casos por 100 mil habitantes e a região do Norte 15,2 casos por 100 mil habitantes.

Mais dias até ao diagnóstico

Apesar de se notificarem menos casos da doença de ano para ano, “a mediana de dias até ao diagnóstico mantém uma tendência crescente, o que resulta num diagnóstico mais tardio da doença”, revela o relatório. São as pessoas em situação de sem-abrigo as que mais tempo demoram a ter a doença diagnosticada. 

Diz o relatório que este aumento na demora do diagnóstico pode resultar num “maior risco de contagiosidade que apenas é quebrada com o diagnóstico e início do tratamento”. No entanto, salienta que o uso de máscara de proteção facial - uma das medidas de mitigação do contágio por SARS-CoV-2 - pode ter contribuído para a “contenção de casos secundários”

“A proporção de casos de tuberculose nos mais vulneráveis representa 59,0% dos casos notificados pelo que, o impacto das medidas de promoção do rastreio nestes grupos, oferecendo um tratamento preventivo, será mais eficaz na prevenção de futuros novos casos”, declara o documento.

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