DECISÃO 22: Como o pico da pandemia pode influenciar o resultado eleitoral

Seg, 24 jan 2022

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Um milhão de isolados em casa a seis dias das eleições é demasiada gente para que a pandemia não tenha impacto nas eleições. Falemos disso. Deixe-nos as suas questões nas nossas redes sociais (Instagram, Facebook, Twitter e LinkedIn) e, se ainda não o fez, subscreva a newsletter aqui. Olá.

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“Chamem-me Ismael”. Tavares à procura da sua Moby Dick (Fotografia de André Kosters/Lusa)

Um milhão em casa: que impacto nos resultados eleitorais?

A pandemia condicionou a campanha eleitoral, afetará o número de votantes e, com o aumento de casos nesta última semana, é provável que influencie os próprios resultados eleitorais. Hoje há um milhão de pessoas em isolamento.

 

Não é só por causa da abstenção, seja de isolados, seja dos que receiam da proximidade com eles - no domingo de eleições poderemos ter 900 mil adultos isolados e estaremos perto da cifra dos vinte mil mortos em Portugal. É também por causa da instabilidade que provoca, em casa, nas famílias, nas escolas, no trabalho, na confiança nas autoridades de saúde, no próprio estado de espírito. Essa instabilidade transforma-se numa queixa que precisa de um alvo - e o alvo é em grande parte o poder político. A pandemia tem beneficiado o poder quando a situação está controlada e prejudicado o poder durante os picos.

 

É curioso como este fator não tem sido introduzido na análise política à campanha. Rio tem feito uma campanha com poucos erros, ao contrário de Costa; e o pedido expresso de maioria absoluta marcou a viragem das tendências a favor de Rio, tanto que o candidato do PS começou hoje a inverter o discurso, admitindo agora negociar com o Bloco de Esquerda. Há muitas variáveis importantes para compreender esta “campanha tão renhida”, como lhe chamou Basílio Horta. Mas a pandemia também é uma delas.

 

Porque muita gente está confusa, sobre se deve ou não isolar-se, sobre se precisa de alta médica, sobre novas instruções que, sendo públicas, não foram suficientemente divulgadas. As linhas da DGS estão, aliás, a ser entupidas com perguntas que não devia ser preciso responder.

 

Porque muita gente acha que as escolas deviam não ter aberto e outras que nunca deviam ter fechado. Porque muitas acham que o teletrabalho devia permanecer e outras o contrário. Porque a redução da quarentena para sete dias não garante que não há contágio depois. Porque, com a Ómicron, parece ser apenas uma questão de tempo até tocar a todos ou quase todos.

 

Porque liga-se a televisão e não há qualquer “isolamento social” nas arruadas. Porque a campanha fala da pandemia como se fosse passado, os números galgam todos os dias. Porque a politização da pandemia está entre as horas extra dos profissionais de saúde e o “virar a página”. Ainda não chegámos ao novo “novo normal”.

 

Um milhão de pessoas em casa é potencialmente um milhão de pessoas com dúvidas, ou instáveis, ou zangadas, ou ansiosas. Não é surpreendente pensar em como isto pode virar-se contra o PS, por ser o incumbente. E pelas suas responsabilidades (em alguns casos, corresponsabilidades) pela falta de planeamento, por exemplo na definição em cima da hora e do joelho dos votos dos isolados.

 

Basílio Horta, tem razão, é uma campanha renhida. Nesta última semana, será em brasa.

Respostas aos eleitores

socialdemocrata

É uma boa pergunta, uma vez que Rui Rio se assume social-democrata posicionando o PSD no centro.

 

Na convenção do Movimento Europa e Liberdade, em maio, Rio afirmou que PSD “não é um partido marcadamente de direita” mas “de centro”, contando com pessoas de centro-esquerda e outras de direita; em dezembro, na abertura do congresso do PSD, disse que “há momentos em que a social-democracia tem de ter respostas de perfil mais à direita e outros em que o faz com uma postura mais à esquerda. E é assim que tem de ser, precisamente porque nos colocamos ao centro e, por isso mesmo, temos de estar sempre disponíveis para corrigir os excessos, sejam eles de direita ou de esquerda”; recentemente, no frente-a-frente com Francisco Rodrigues dos Santos, Rui Rio frisou que o debate não era “entre dois partidos de direita”, mas entre “um partido de direita e um partido de centro”. Mesmo que, na sua história, o PSD já se tenha três vezes com o CDS (em 1979, num compromisso pré-eleitoral juntamente com o PPM; em 2002 e 2011, depois das eleições) e uma vez com o PS (em 1993).

 

A nível europeu, o PSD integra o Grupo do Partido Popular Europeu (PPE), assumidamente de centro-direita, e que foi fundado com o nome de Grupo Democrata-Cristão, em 1953, ainda no tempo da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.

 

Além das palavras, há os atos e as propostas. Descidas do IRC, revisão de apoios sociais, privados na saúde ou abertura a soluções de investimento privado em complemento da segurança social são exemplo de propostas de Rio que são tipicamente mais vezes feitas por partidos de direita.

marijuana

Tanto o BE como o Livre defendem, nos programas eleitorais, a legalização da canábis, mas com uma diferença: enquanto o Bloco defende a legalização da canábis “para uso pessoal por parte de pessoas adultas”, o Livre propõe a legalização para “uso recreativo, com a obrigatoriedade da etiquetagem informativa, da informação sobre os riscos e com a venda restrita a adultos”.

 

Embora este tema não esteja incluído no seu programa eleitoral, a Iniciativa Liberal avançou, em junho, com um projeto de lei para a "legalização responsável" da canábis para consumo pessoal, com proibição de venda a menores de 18 anos e perto de escolas. 

Mesadevoto

No parecer técnico da Direção-Geral da Saúde sobre as estratégias de saúde pública para o dia das legislativas, há uma recomendação às Câmaras Municipais para que tenham “membros de mesa de voto suplentes, em número suficiente caso seja necessário substituir os que possam eventualmente adoecer e não possam comparecer”. Os membros das mesas de voto que testarem positivo à covid-19 ou que tenham tido um contacto de alto risco devem pedir para ser substituídos pelos membros suplentes.

cabeçadelistaLivre

Rui Mamede. Pode consultar todos os restantes candidatos a todos os círculos eleitorais nesta página no site da Comissão Nacional de Eleições.

açores

Sim. Nos Açores, o PSD concorre coligado com o CDS e com o Partido Popular Monárquico, sob o nome “Aliança Democrática”. Não é, portanto, possível votar somente nos sociais-democratas.

nãoresidentes

Os cidadãos portugueses recenseados no estrangeiro não podem votar em Portugal no dia da eleição, medida que consta da lei eleitoral da Assembleia da República, que foi aprovada no IV Governo Constitucional, liderado por Carlos Mota Pinto. De acordo com o documento, “os eleitores residentes no estrangeiro exercem o direito de voto presencialmente ou pela via postal”. Além disso, refere-se que, “no estrangeiro, apenas será admitido a votar o eleitor inscrito no caderno eleitoral existente no posto ou secção consular a que pertence a localidade onde reside”.

Eutanásia

A última proposta para levar o tema a referendo, a 23 de outubro de 2020 terminou chumbada com votos de PS, BE, PCP, PEV, PAN, alguns deputados do PSD e das duas deputadas não inscritas. A maioria dos sociais-democratas, bem com o CDS e a Iniciativa Liberal, votaram a favor da realização da consulta popular. André Ventura, deputado do Chega, faltou à votação.

 

Quanto à posição de cada um dos partidos acerca da eutanásia, BE, IL, PAN e PEV são a favor. Tanto PS e PSD dão liberdade de voto aos seus deputados. A maioria dos socialistas tem votado a favor da legalização da prática, enquanto que do lado social-democrata são mais os que se opõem a esta possibilidade. PCP, CDS-PP e Chega são contra a legalização da eutanásia.

jovens

O programa do PSD dá enfâse aos problemas das camadas jovens mas as suas respostas não se centram em medidas fiscais.

 

Entre as propostas que o PSD defende estão a “discriminação positiva para os ‘territórios de baixa densidade’ na promoção do emprego dos jovens e desempregados de longa duração” e recuperação do “programa JTI – Jovens Técnicos para a Indústria, desenvolvendo com o apoio dos Centros Tecnológicos Sectoriais, programas de incentivo à integração dos nossos jovens licenciados, nas áreas científicas, tecnológicas e de gestão, nas empresas portuguesas”.

 

É na agricultura que o PSD mais pretende captar mão-de-obra jovem. Elencando a escassez de jovens agricultores, os sociais-democratas querem “reforçar a dotação do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020-2027 para apoio os Jovens Agricultores, aumentando o prémio à primeira instalação, o apoio a fundo perdido ao investimento e o apoio ao crédito institucional adequado para a parte não subvencionada”, a criação de condições de fixação dos jovens agricultores nos territórios das suas explorações, com a institucionalização de um regime de apoio, no quadro da política de coesão, para a aquisição ou reestruturação de habitação própria, ou arrendamento, localizada em território rural de baixa densidade próximo da sua exploração” e, ainda, a premiação dos jovens agricultores “que tiverem sucesso na execução dos respetivos projetos de instalação com apoios para novos investimentos de redimensionamento, consolidação e melhoria das suas explorações, em condições iguais ou próximas das da primeira instalação”.

Factos primeiro

CostaFactCheck

António Costa afirmou hoje, em entrevista à Rádio Renascença, que nunca recusou conversar com o Bloco de Esquerda após os resultados eleitorais destas legislativas, deixando a porta aberta a negociações com “todos” os outros partidos.

 

Contudo, não foi sempre este o discurso do secretário-geral do PS. Em dezembro, no Centro de Congressos de Lisboa, António Costa declarou o fim da Geringonça criada em 2015 com o Bloco de Esquerda e o PCP. “Com a autoridade de ter dito em 2019 que era possível trabalharmos à esquerda para construir uma maioria sólida, duradoura e estável, há uma coisa que tenho de constatar: Em 2019 isso já foi assim-assim; em 2020 ainda mais assim-assim; e em 2021, manifestamente, não existiu”, disse na altura. No final do debate com o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, António Costa foi questionado sobre se a Geringonça terminou efetivamente, ao que respondeu: "Neste momento, não sinto confiança para dizer que essa é uma solução estável.”

 

Já no frente-a-frente com Catarina Martins, em 11 de janeiro, o líder do PS salientou que o país precisa de “uma solução de estabilidade que o Bloco não oferece”, demarcando-se assim de formar governo com os bloquistas, lembrando a crise do OE: “O que aconteceu no momento mais grave que enfrentámos, no pico da pandemia, foi que o Bloco de Esquerda fechou a porta ao PS, ao PCP, ao PEV e votou contra o Orçamento. A direção do BE cansou-se de ser parte de uma solução de Governo”, salientou. O líder dos socialistas apelou, assim, à maioria absoluta do PS, considerando que esta é a solução que “garante estabilidade” governativa ao país - um apelo que já tinha feito no debate com Jerónimo de Sousa e que voltou a fazer no Debate das Rádios, no passado dia 18, quando voltou a colocar um ponto final na Geringonça, assinalando: “Há dois anos fui muito claro: o melhor para o país era a continuação da Geringonça. Desta vez, não digo o mesmo.” Houve, pois, (várias) alturas nas últimas semanas em que não abriu a porta a negociar com o BE.

 

Conclusão: Falso

riopolitizou

Depois de ser absolvido pelo Tribunal no Caso Selminho, Rui Moreira criticou os partidos políticos, “e um líder em particular”, de não respeitarem a presunção de inocência e de fazerem um “aproveitamento” da situação durante a campanha eleitoral para as autárquicas.

 

Em maio do ano passado, Vladimiro Feliz, candidato do PSD à câmara do Porto nas autárquicas, emitiu um comunicado no qual considerava que, se Rui Moreira anunciasse a sua candidatura sabendo que seria julgado, não tinha “condições” para assumir que o seu mandato seria cumprido na sua totalidade. “A partir de hoje, o Dr. Rui Moreira, se for candidato a Presidente da Câmara do Porto, não tem condições de assumir que cumprirá integralmente o seu mandato”, declarou na altura.

 

Também em maio, na apresentação da candidatura de Vladimiro Feliz, Rio abordou, de forma indireta, a polémica em torno de Rui Moreira: “Durante os sete anos em que teve poder na Câmara [Vladimiro Feliz] nunca se aproveitou do lugar de vice-Presidente ou de vereador para fazer negócios em seu benefício pessoal ou da sua família. O Vladimiro Feliz é confiável. É leal, não atropela os outros para chegar onde quer.”

 

Meses mais tarde, em entrevista ao Expresso, Rio foi confrontado com o paradoxo entre dizer que o seu secretário-geral estava a ser alvo de justiça popular e comentar o caso de Rui Moreira. Rio respondeu então: “O meu juízo não é em função das acusações. É em função do que eu sei. (….) Estamos a falar da Câmara do Porto, em que eu fui presidente 12 anos. Acha que eu não sei?”.

 

 

Conclusão: Verdade

Best (and worst) of

O hábito não faz o frade – António Costa veste-se de careto, André Ventura põe ora a camisola poveira, ora um camuflado militar, Francisco Rodrigues dos Santos responde com fotografia de miúdo fardado no Colégio Militar. É a campanha eleitoral.

Soundbites

“Há um elefante na sala nestas eleições legislativas, que é a possibilidade de termos um bloco central de interesses a governar Portugal”

 Francisco Rodrigues dos Santos


“Estamos fartos de deputados de estufa”

Vitorino Silva, líder do partido Reagir Incluir Reciclar (RIR)


“António Costa devia fazer como o Zé Albino e não perder as oportunidades de estar calado"

Rui Rio

Se eu mandasse...

irene

 

... haveria em Portugal sentido de humor.

 

Irene Pimentel, historiadora

 

“Se eu mandasse, o rio iria desaguar longe, a aventura dava um chega para lá. Quanto à iniciativa, não teria nenhuma, muito menos liberal. E punha moedas no mealheiro. Ah, e haveria em Portugal sentido de humor. Isso só tem graça se for dito assim. É como explicar uma anedota. Deixar espaço para a interpretação das pessoas. É por isso que eu delego noutras pessoas para governarem, enquanto eu me dedico à investigação da história.” Leia a resposta na íntegra aqui.

Acontece a seguir

Com João Ferreira a substituir João Oliveira a partir desta terça-feira, a CDU começa o dia com uma viagem de elétrico em Lisboa, com início na Praça da Figueira e destino ao Cais do Sodré. À tarde, a delegação da CDU visita as oficinas da CP, no Entroncamento, antes comício marcado para as 21:00 no Centro Cultural de Samora Correia, Benavente.

 

 

O PS começa o dia em Matosinhos, seguindo depois para Vila Nova de Gaia. À tarde, os socialistas viajam até Coimbra para duas ações de campanha, uma no Instituto Pedro Nunes e outra no Largo da Portagem. Tal como a CDU, também o PS tem agendado um comício para as 21:00 desta terça-feira, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro.

 


O PSD dedica a manhã à população de Beja, antes de viajar para Faro, com encontro marcado às 16:00 com a população local. Mais tarde, os sociais-democratas reúnem-se na Doca de Faro para uma conversa entre Rui Rio com Ricardo Batista Leite sobre Saúde.

 


O PAN tem previstas duas ações de campanha para esta terça-feira, começando às 09:00 na estação de São Bento, no Porto, antes de rumar para a Póvoa de Varzim para uma ação de campanha com o Movimento de Apoio de Pais e Amigos ao Diminuído Intelectual.

 

 

A Iniciativa Liberal dedicará o dia de amanhã ao distrito de Leiria, com uma arruada pela cidade e uma visita ao Pinhal de Leiria. Para a noite, João Cotrim de Figueiredo tem marcado um jantar com membros da comunidade luso-venezuelana.

 

 

Rui Tavares tem agendada para quinta-feira uma conversa com Francisco George e outros profissionais da área da Saúde, e também a toma da dose de reforço da vacina contra a covid-19 no centro de vacinação do Cartaxo.

 

 

O CDS de Francisco Rodrigues dos Santos visitará a Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, em Braga, e, já no Porto, assinalará os 47 anos de aniversário do cerco ao congresso do partido.

 

 

Catarina Martins vai passar o dia em Braga, onde organizará um comício que contará com a participação de Francisco Louçã, e em Barcelos, onde participará numa arruada com o cabeça-de-lista pelo distrito, José Maria Cardoso.

 

 

O Chega prossegue a campanha no Algarve, mais concretamente em Portimão, optando pelo esquema habitual de arruada durante a tarde e jantar-comício à noite.

E finalmente…

900 mil adultos vão estar isolados no dia das eleições

Há hoje um milhão de pessoas em casa confinadas. No domingo, deverão ser 1.300 mil, sendo que 400 mil serão menores e 900 mil pessoas que podem votar. Valores que podem pesar na abstenção. Saiba mais aqui.

 

 

Acompanhe-nos a qualquer hora na televisão e no site da CNN Portugal. Volto a escrever-lhe daqui a umas horas. Até amanhã!

 

Esta newsletter foi escrita com recolha e tratamento de informação dos jornalistas Beatriz Céu e Pedro Falardo.

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