Rui Moreira arrasa Rui Rio: “Houve um líder político em particular que nunca quis respeitar a presunção de inocência”

CNN Portugal , com Lusa e PCV
21 jan 2022, 19:27
Rui Moreira na decisão do caso Selminho (Rui Oliveira)

Presidente da Câmara do Porto foi absolvido. Na reação à decisão dos juízes, lamenta todo o aproveitamento político que foi feito do caso, nomeadamente pelo PSD e pelo líder dos sociais-democratas durante as autárquicas. Vladimiro Feliz, candidato à Câmara do Porto pelo PSD, disse que Moreira não tinha condições para se recandidatar e Rui Rio falou sobre o uso da Câmara para fazer negócios de família

  “Hoje fez-se justiça”, começou por dizer Rui Moreira, horas depois de ter sido absolvido das acusações de prevaricação no caso Selminho. “Não consigo esconder que sofri muito. Sofri eu, sofreu a minha família, sofreram os meus amigos Sofreram muitos portuenses”, disse mais à frente na conferência de imprensa que convocou para a tarde desta sexta-feira.

O presidente da Câmara do Porto, sem nunca referir o PSD e Rui Rio - mas visando ambos -, criticou o que considera ter sido um aproveitamento político do caso. “Houve partidos políticos e um líder em particular que nunca quiseram respeitar a presunção de inocência. Aguentei sempre porque sempre senti e sempre tive os portuenses do meu lado.”

Rui Moreira afirmou ainda que “mesmo sem sentença“ sentiu-se “condenado insistentemente na praça pública“. E, mais uma vez, voltou a criticar alguns adversários políticos: “Houve quem se abespinhasse pela campanha eleitoral não se ter concentrado apenas e tão só nessa suspeita”. 

Durante as respostas aos jornalistas, Rui Moreira não hesitou em dizer que “este processo foi sempre um processo político”. “Não estou a dizer que na sua origem fosse um processo político, aquilo que eu afirmo [é que] o processo transformou-se sempre num processo político. Transformou-se há quatro anos, altura em que houve uma campanha eleitoral, e aconteceu agora outra vez. Já não tenho idade nem para acreditar no Pai Natal, nem para acreditar em acasos.”

Rui Moreira tornou a sublinhar que “houve um aproveitamento relativamente à situação”, referindo-se aos debates eleitorais e entrevistas “em que este assunto era trazido à baila”. “Não estou a dizer que foi isso o que inspirou o Ministério Público, o que estou a dizer é que este processo foi objetivamente aproveitado durante um tempo político determinante para a cidade do Porto.”

Quando questionado sobre o advogado Pedro Neves de Sousa, o autarca disse que “no meio disto tudo havia alguém que podia ter esclarecido o tribunal de instrução, que era o doutor Pedro Neves de Sousa, que era a pessoa nomeada pelo dr. Rui Rio, com quem eu nunca tinha falado”. Sobre a absolvição, Rui Moreira defendeu que a decisão do tribunal “não se limitou a verificar que não havia provas''. “Desta forma, sinto que, além da absolvição, foi reparada a minha honra e desfeita qualquer dúvida que pudesse porventura existir. Mas hoje, pela própria dimensão do acórdão, do qual estou ilibado de todas as acusações que o Ministério Público intentou contra mim, é bem representativo que a acusação era destituída de qualquer fundamento.”

Relativamente ao pedido de recurso por parte do Ministério Público, Rui Moreira não se alongou e disse que o “Ministério Público é livre de interpor recursos”, mas não deixou de ironizar quando disse que ficou "surpreendido" - basta ler o acórdão, disse, para não haver razão para recurso.

A não reação de Rio - e o que ele e Vladimiro disseram antes

Fonte oficial do PSD responde à CNN Portugal que Rui Rio “não comenta” a absolvição de Rui Moreira no processo Selminho, argumentando que “é uma matéria local”. A resposta foi dada antes de o autarca do Porto ter criticado Rio por ter feito aproveitamento político do caso judicial que agora o ilibou.

“Não comenta. É uma matéria local.” Foi esta a resposta de fonte oficial do PSD à CNN Portugal, que quis uma reação do presidente do PSD à absolvição de Rui Moreira no caso Selminho, cuja sentença foi lida esta sexta feira à tarde.

Em causa está o facto de o PSD se ter pronunciado sobre o caso nas últimas eleições autárquicas, de setembro de 2019. Fê-lo através de Vladimiro Feliz, candidato à Câmara pelo PSD, que disse que Moreira não tinha condições para se candidatar, e através do próprio Rui Rio, que falou sobre o uso da Câmara para fazer negócios de família.

A resposta da fonte oficial do PSD foi dada à CNN Portugal pouco depois da decisão do tribunal, e ainda antes de Rui Moreira ter feito uma conferência de imprensa em que afirmou que o processo político teve impacto nas eleições, que acabou por vencer mas perdendo a maioria absoluta. O presidente da autarquia do Porto (cargo que Rui Rio ocupou durante 12 anos, entre as eleições de 2001 e 2013) criticou na conferência de imprensa os políticos que fizeram “aproveitamento político” do caso judicial, querendo que ele não se candidatasse, inclusive “um líder partidário”.

Em maio de 2021, depois da decisão instrutória que determinou que o caso iria a julgamento (marcado depois para novembro), Rui Rio afirmou que “Vladimiro Feliz nunca se aproveitou do cargo de vice-presidente ou de vereador para fazer negócios em benefício pessoal ou da sua família”. Moreira respondeu então: “Achava que o Dr. Rui Rio não fosse populista e demagogo”.

Na mesma altura, Vladimiro Feliz afirmou que o debate político “não deve ser centrado em questões de ordem judicial” mas sublinhou a “enorme gravidade” do que estava em causa: “A partir de hoje, o Dr. Rui Moreira, se for candidato a presidente da Câmara do Porto, não tem condições de assumir que cumprirá integralmente o seu mandato”, afirmou Vladimiro Feliz, que pediu a Moreira “uma séria reflexão” e uma “ponderação acrescida” sobre uma sua recandidatura à presidência da Câmara Municipal do Porto, que acabou por ser depois oficialmente anunciada. Já esta sexta-feira, e depois da notícia da absolvição de Rui Moreira, Vladimiro Feliz sublinhou que o Ministério Público pode recorrer.

  

  

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