"É um cocktail explosivo". Protestos dos polícias "vulneráveis" a infiltrações de movimentos extremistas

7 fev, 07:00
Manifestação de polícias no Porto (Estela Silva/Lusa)

Especialistas em segurança interna e sindicatos têm alertado para “crescimento de expressão dos movimentos inorgânicos”. Observatório pede “pacto de regime” para evitar que situação escale e se registem situações que “extravasem a legalidade”

O fenómeno dos movimentos inorgânicos nas forças policiais tem “ganhado muito maior expressão” nos últimos dias, o que tem gerado preocupação aos especialistas em Segurança Interna e até aos próprios sindicatos, que permanecem num braço de ferro com o Governo. Numa altura em que se preparam novas ações de luta, “é cada vez mais claro que, pela dimensão e pela intensidade das manifestações, as forças policiais em protesto estão mais vulneráveis a infiltrações de grupos extremistas”, alerta José Manuel Anes, ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.

Nas últimas horas têm-se sucedido denúncias sobre o crescimento destes movimentos. Os sindicatos da PSP e da GNR estiveram esta terça-feira reunidos para fixar novas ações de luta e alertar sobre isso mesmo: “Tememos que a apatia, omissão e desrespeito demonstrada, possa alimentar a influência viral e contagiante de movimentos inorgânicos”, sublinhou Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia no final da reunião. 

Paralelamente, o Observatório de Segurança Interna apelou ao Presidente da República que mova influências para que Governo, partidos, direções da PSP e GNR e organizações sindicais concordem num “pacto de regime” para o setor. Se isto não acontecer, avisa Hugo Costeira, responsável por este órgão, “os polícias correm o risco de serem influenciados a levar a cabo protestos que extravasem a legalidade”. “Nota-se um clima de fúria e há muita gente que está magoada”, acrescenta à CNN Portugal.

Hugo Costeira destaca também que estes movimentos estão a ser alimentados pela “frustração e inoperância dos sindicatos policiais que, pela surdez do ministro da Administração Interna, estão bloqueados a nível negocial”.

A tudo isto, aponta José Manuel Anes, juntam-se as sucessivas baixas médicas nas forças policiais que “podem comprometer muito a segurança interna”. “É um cocktail explosivo”, reitera o especialista.

António José Inácio, ex-inspetor da PJ e investigador em Segurança Interna, acrescenta que os polícias sentem-se “desgastados, abandonados e estão no limite do esforço financeiro”. “Naturalmente, se todo o stress acumulado se transformar em raiva, a sociedade vai viver um sarilho”.

Inácio sublinha ainda que é “nestes momentos de instabilidade que grupos extremistas tentam radicalizar” e “inflacionar comportamentos mediáticos e violentos”, pelo que pede que as associações profissionais sejam o mais minuciosas possíveis para que não permitam a infiltração de extremistas nas suas ações de luta.

Do lado dos sindicatos, tem-se repetido a acusação de que as recentes declarações do ministro da Administração Interna e a sua indisponibilidade para reunir com as estruturas das forças policiais têm deixado os “polícias encurralados, sem saída”, critica Paulo Macedo, presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia. “Ao não negociar connosco está a dar mais voz a esses movimentos”, reitera.  

Nos últimos dias vários polícias da PSP e militares da GNR apresentaram baixas e esta terça-feira. Fonte sindical alertou que cerca de 60 dos 375 polícias que trabalham no Aeroporto de Lisboa estão de baixa, por exemplo, sendo que o número tem vindo a aumentar diariamente desde sexta-feira.

Apesar de a plataforma que reúne os sindicatos não assumir que isto seja uma forma de protesto, José Luís Carneiro determinou a abertura de um inquérito urgente à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) sobre “as generalizadas e súbitas baixas médicas apresentadas por polícias”.

Sobre o aumento das baixas médicas, Paulo Macedo aponta que “têm ocorrido em todo o país e são de índole física e psicológica”. Estamos a falar de pessoas que têm arma à cintura e que, quando estão em situação de burnout, tentam ir até ao fim. Nestes casos, ainda bem que metem baixa”, aponta o dirigente sindical, destacando que “há mais suicídios e divórcios na PSP do que em qualquer outra profissão”.

O presidente do Observatório de Segurança Interna, Hugo Costeira aponta ainda para o facto de a maioria dos protestos ter sido convocada através das redes sociais, como WhatsApp e Telegram, com “uma grande tendência regional”. “É uma questão de desconfiança”, diz, acrescentando que “muitos polícias não se sentem representados pelos sindicatos e que este tipo de movimentação tem tido maior eficácia”.

“Infelizmente”, aponta ainda o responsável, “o custo de não haver diálogo é incaclulável”. “A mensagem que queremos passar é que ambos os lados consigam chegar a um entendimento para que os 99% de moderados nas forças policiais consigam acalmar os 1% de radicais, e não aconteça o contrário”.

Crime e Justiça

Mais Crime e Justiça

Patrocinados