Relações entre a China e a UE deterioraram-se nos últimos anos, na sequência de divergências sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia e da investigação anunciada por Bruxelas sobre subsídios atribuídos pelo país asiático aos fabricantes de carros elétricos
O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou que a estratégia da União Europeia em relação a Pequim, que define o país asiático como parceiro, concorrente e rival sistémico, não é "realista ou viável".
"Há alguns anos, a UE caracterizou a China como um parceiro, um concorrente e um rival sistémico ao mesmo tempo. Esta caracterização não é coerente com a realidade, nem viável. Pelo contrário, só cria obstáculos às relações entre as duas partes", afirmou Wang Yi, em conferência de imprensa, à margem da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), que decorre esta semana em Pequim.
Wang afirmou que os interesses "ultrapassam de longe as diferenças" e Pequim e Bruxelas devem "ver-se corretamente, como parceiros" e basear as relações na cooperação.
De acordo com Wang, as duas partes retomaram os intercâmbios e o diálogo "em todas as áreas e a todos os níveis" no ano passado, após o hiato da pandemia da covid-19.
"Os nossos intercâmbios são uma tábua de salvação que assegura a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento", afirmou, referindo que a China implementou "políticas preferenciais para alguns países europeus" para "facilitar os intercâmbios comerciais" no âmbito da iniciativa chinesa 'Faixa e Rota'.
Wang defendeu que a cooperação entre Pequim e Bruxelas deve "avançar sem problemas", com "luz verde em cada cruzamento": "China e Europa devem trabalhar em conjunto para praticar o multilateralismo, defender a abertura e o desenvolvimento e facilitar o diálogo entre as civilizações".
O responsável adiantou que "vai pôr de lado qualquer tentativa de criar um confronto entre blocos".
As relações entre a China e a UE deterioraram-se nos últimos anos, na sequência de divergências sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, que Pequim evitou condenar, e da investigação anunciada por Bruxelas sobre subsídios atribuídos pelo país asiático aos fabricantes de carros elétricos.
Desde 2019, têm sido crescentes os apelos em Bruxelas para reduzir os riscos na relação com a China, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a citar recentemente "coerção comercial, boicotes a produtos europeus e controlos de exportação de matérias-primas essenciais para bens como semicondutores e painéis solares".
Em dezembro passado, a UE e a China realizaram a primeira cimeira presencial desde 2019, em Pequim, onde resolveram as diferenças, mas sem grandes acordos sobre as principais questões de fricção, como o défice comercial, a ambiguidade da China sobre a guerra na Ucrânia ou questões de direitos humanos.