Não foi um. Foram quatro linguados na bagageira socialista. Do mercado de Angeiras, Pedro Nuno Santos saiu também com a barba manchada de batom. Muito sinal exterior de paixão, apesar das reticências no contacto físico. "Absoluta" não é "palavra proibida" para falar de maioria. Em terra de peixe, o almoço foi carne. "Desconfiem, desconfiem sempre"
Manhã de agitação marítima. No mar e no mercado. A verdadeira festa é a que se vive antes de os políticos chegarem. Angeiras recebe-os de braços abertos, sim senhora. Mas à vontade não é à vontadinha. Na banca ainda há muito para vender.
Isaura de Jesus, 43 anos no Mercado de Angeiras. Entre um "eu quero bem à minha sogra" e outro "aperta aperta com ela", lá se avia um cliente. O principal freguês que hoje aqui se espera não vem para fazer compras. "Ao Pedro Nuno, dava-lhe um linguado". Não se esqueça da "Isaura Peixeira". Entretanto temos outras histórias para contar.
Fátima Silva não concorda com a escolha da colega. "Os políticos todos já têm linguado a mais". Muita promessa, pouca mudança. Em 2015, António Costa passou por estas bandas cheio de boa vontade. Desde então, diz, pouca coisa mudou.
Mudou o líder do partido que diz ser o seu. E que peixinho lhe dava? "Cherne não posso dar, que isso é do outro. Dava-lhe uma garoupa, que é o melhor que tenho na banca".
Na parte de fora, aguarda-se a chegada de Pedro Nuno Santos neste primeiro dia (oficial) de campanha. Palavra usada como vírgula a norte. "Tanto tempo!". Na parte de dentro, ele passa a correr no bailarico.
Celeste Santos vai para a beira do animador. "Eles prometem tudo e não fazem nada". Mas, durante uns minutos, a música faz esquecer a lida. "Este não é da minha cor, mas respeito. Dava-lhe um robalinho do mar".
Quando Pedro Nuno Santos entra, os jotas abafam os pregões das peixeiras. Sónia Braga observa tudo com cautela. Aos 50 anos, nunca foi a Lisboa. "Entre os anos nas confeções e os anos na banca, na banca do peixe, não deu. "Alguém tem de olhar pelo negócio". Este candidato não a agrada especialmente. "Até pensei que ele fosse mais pequeno". Mais do tamanho das expectativas que deposita na política.
Porque a multidão passa, o negócio para, as contas não fecham. "Se todos levassem um peixinho, ia já para casa. A ele dava-lhe era um caparau, para sentir o sabor do povo".
Mas vá, Pedro Nuno Santos não vai daqui de mãos a abanar. Algumas beijos e abraços, sim. A barba marcada de batom, sim. E linguadinhos entregues aos assessores. Foi Isaura. Lembra-se da "Isaura Peixeira" do início do artigo. Não lhe deu um, mas quatro linguados. Beijocas é que não deu. "O homem nem à minha beira veio".
"Boa sorte" para a maioria. Absoluta? "Não há palavras proibidas"
A música é orelhuda. De Zé Barbosa, artista da terra. Tão orelhuda que se repete mais tarde no almoço-comício em Matosinhos. "Boa sorte, boa sorte, eu te desejo de todo o coração". Neste concelho que é um bastião socialista, Pedro Nuno Santos quer mostrar que está pronto, prontinho para a rua. Mesmo que a rua, fora do conforto dos militantes, ainda lhe tenha alguma resistência.
"Agora somos nós e o povo, não há intermediários", conclui à saída do mercado. Numa outra canção improvisada, pede-se maioria. Absoluta? "Não há palavras proibidas", reage o secretário-geral, que está mais focado "no melhor resultado possível".
Assis admite dificuldades: "tudo em aberto"
Depois do mercado, um mar de bandeiras no almoço em Matosinhos com militantes. Em terra de peixe, comeu-se carne. Para entrada, críticas à direita.
Francisco Assis, cabeça de lista pelo Porto, confirma que o combate não será fácil. "Mas alguma vez nós socialistas tivemos algum combate que não fosse difícil?". Para esta luta, onde "está tudo em aberto", Pedro Nuno Santos, diz, destaca-se pela "decência, a enorme decência".
Bandeira da "austeridade"
Primeiro dia oficial de campanha. E Pedro Nuno Santos já avisa que tem de poupar a voz para não ficar rouco. Em Matosinhos fala de salários, de habitação, de educação. E acena com a bandeira da austeridade à direita.
"Não vai trazer crescimento, vai trazer austeridade", "desconfiem, desconfiem sempre daqueles que hoje prometem tudo, para quem tudo é fácil, [porque[ são os mesmos que no passado fizeram o maior ataque aos direitos dos portugueses".
Montenegro, insiste, é responsável "por um dos períodos mais negros" de governação no país. "Não vale a pena esconder-se atrás do memorando", reforça.
Agora sim, sirva-se o arroz de pato.