“A OPA à Greenvolt vai passar. Não tenho a certeza é se será pelos 8,30 euros”

ECO - Parceiro CNN Portugal , Luís Leitão
15 jan, 08:07
Pedro Barata, gestor do GNB Portugal Ações (ECO)

Responsável por quase 1% do capital da Greenvolt, Pedro Barata, gestor do GNB Portugal Ações, o melhor fundo de ações portuguesas de 2023, está a apostar que o KKR suba o preço da OPA

Pedro Barata é um dos gestores mais experientes do mercado nacional. Trabalha há mais de 30 anos nos mercados financeiros, já vivenciou várias operações públicas de aquisição (OPA) como a que está a decorrer sobre as ações da Greenvolt.

Como responsável pela gestão de vários fundos de ações no GNB Gestão de Ativos, o gestor de 56 anos controla cerca de 1% do capital da Greenvolt. E, apesar de considerar que a OPA do private equity norte-americano KKR sobre a empresa vai acabar por acontecer, admite que “os 8,30 euros que estão a oferecer, neste momento, poderão não estar a valorizar o potencial que a empresa tem”.

Em entrevista ao ECO, além de explicar porque está a a apostar numa subida do preço da OPA da Greenvolt, Pedro Barata explica a chave do sucesso que permitiu ao GNB Portugal Ações destacar-se da concorrência no último ano, ao conseguir oferecer aos subscritores do fundo ganhos de 18,4% e ganhar o galardão de fundo de ações portuguesas mais rentável do ano.

Além disso, na terceira e última parte desta entrevista, Pedro Barata revela porque foca a sua estratégia de investimento no longo prazo e não no trading diário, algo que também advoga no seu livro “Como Fazer Crescer o Seu Dinheiro Ao Longo Da Vida”, publicado em 2017. (Pode ler toda a entrevista em texto corrido ou saltar para cada um destes temas carregando no link respetivo).

O GNB Ações Portugal fechou 2023 com ganhos de 18,4%, que o tornou no fundo de ações nacionais mais rentável do ano. Quais foram as principais razões para este feito?

Fizemos duas apostas no início do ano que foram bastante certeiras e que correram bastante bem. Uma delas foi a nossa aposta no BCP. Antevimos que as taxas de juro iriam subir e que a concretizar-se, como acabou por acontecer, o BCP seria um título vencedor.

O BCP foi constantemente a primeira ou a segunda posição do fundo ao longo de todo o ano.

O BCP esteve sempre no nosso top 3 e, provavelmente, foi o maior peso do fundo ao longo de vários meses. Isso fez com que conseguíssemos aproveitar toda a valorização do título, que subiu cerca de 80% no ano passado. Foi um ótimo investimento.

Qual foi a outra posição de destaque na carteira do fundo em 2023?

Foi a Mota-Engil. Já vínhamos a olhar com muita atenção para a empresa. Já lá tínhamos algum investimento e, no início do ano, com a alteração da gestão e a forma mais comunicativa que a empresa teve com o mercado e com algumas conversas que tivemos com a empresa, apercebemo-nos que estava ali uma oportunidade que não estava a ser explorada. Fizemos também um bom investimento no título, que acabou por valorizar mais de 200% em 2023.

[O BCP] é um banco que ainda está a desconto face aos seus concorrentes na Península Ibérica e por isso tem ainda um bom potencial de valorização. Por isso, a nossa aposta vai-se manter.

Ao ECO, referiu que parte do sucesso do fundo se deveu à aposta em empresas de menor capitalização. Que empresas foram essas?

Fizemos alguns investimentos em empresas mais pequenas e que tiveram bastante boas rentabilidades. Foi o caso da Ibersol, da Novabase e da Cofina, tudo empresas mais pequenas, algumas delas mesmo fora do PSI, mas em que conseguimos construir uma posição e aproveitar a subida da cotação.

Quais são as suas perspetivas para 2024? É expectável que dentro de um ano as três principais posições da carteira do fundo sejam as mesmas de hoje (BCP, Sonae e Galp)?

É difícil de dizer. Neste momento estamos muito confortáveis com as posições que temos. Mas no mercado português, como é um mercado com um número muito reduzido de empresas, as oportunidades que surgem não são muitas e vão surgindo ao longo do ano. Surgem duas, três, quatro oportunidades distintas, daquelas claras que têm de ser aproveitadas. Às vezes conseguimos aproveitá-las e isso é bom. Às vezes investimos, achamos que se vai concretizar no curto prazo e, na realidade, só se concretiza no ano seguinte. E às vezes não se concretizam.

Qual é a perspetiva que tem em relação à Sonae, que tem sido recorrentemente uma das principais apostas do fundo?

É uma empresa muito bem gerida, que está a fazer um ótimo trabalho, mas o mercado não está a avaliá-la pelo preço que achamos que vale. Portanto, mantemos o nosso investimento forte na Sonae, que é uma das nossas principais posições, mas que, infelizmente, ainda não conseguiu concretizar aquilo que achamos que ela vale. Continuamos confiantes e vamos continuar a apostar na Sonae porque achamos que é uma empresa com imenso potencial.

O PSI tem poucas empresas, mas todas elas são financeiramente bastante sólidas, líderes dos mercados onde atuam e muitas delas têm uma gestão de excelência.

Outra empresa em que o fundo apresenta uma sobreponderação face ao peso que o título tem no índice PSI são os CTT. O fundo neste momento tem cerca de 4,5% da carteira investida neste título que o torna numa das dez maiores posições do fundo. Que potencialidades vê nos CTT?

Os CTT, tal como BCP, pelo facto de ter o banco CTT, era um dos títulos com perspetiva de valorizar com a subida da taxa de juro. Por outro lado, também tem o negócio dos correios, que ainda é o seu principal negócio e que está em declínio. No entanto, a empresa tem conseguido contrabalançar isso não só com o banco, mas também com a aposta nas encomendas e com o negócio em Espanha, que finalmente está a começar a mostrar algum sentido. Além disso, é também uma empresa bastante bem gerida. Por isso, estamos confiantes que os CTT podem ainda dar algumas alegrias aos investidores.

Tanto o BCP como os CTT foram apostas com base no ambiente económico de subida taxa de juro. Agora estamos numa fase diferente, com as taxas a começarem a ceder. Face a esta nova realidade, o BCP e os CTT continuarão a ser apostas do fundo?

A nossa expectativa é que as margens dos bancos diminuam com as descidas das taxas de juro. Mas, principalmente no caso do BCP, em que a grande nuvem que havia em redor do banco não estava ligada ao negócio em Portugal, mas ao negócio da Polónia, aos poucos o BCP tem vindo a fazer todos os trimestres provisões para fazer face àquilo que poderá acontecer na Polónia. Neste momento, essas previsões já estão num nível bastante elevado e que quase cobrem o “worst-case scenario”. [Além disso] é um banco que ainda está a desconto face aos seus concorrentes na Península Ibérica e por isso tem ainda um bom potencial de valorização. Por isso a nossa aposta vai-se manter.

No canto oposto das apostas do fundo está a EDP, que não está sequer no top 10 da carteira. Porquê?

Tem a ver com as regras. Quando gerimos um fundo de ações de Portugal não podemos ter mais que 10% numa empresa, e a EDP soma com a EDP Renováveis. Assim, entre as duas empresas, preferimos ter maior exposição à EDP Renováveis em detrimento da EDP. Atualmente devemos ter, entre as duas posições, cerca de 9%, que fica muito próximo do limite dos 10%.

Pedro Barata, gestor do fundo de ações nacionais GNB Portugal Ações, em entrevista ao ECO - 12JAN24
Pedro Barata gere o fundo de ações nacionais GNB Portugal Ações desde 2017. Através da sua gestão, o fundo regista uma rendibilidade média anual superior a 5,5% por ano tem quase 35 milhões de euros sob gestão. (Hugo Amaral/ECO)

“Se a OPA da Greenvolt não passar eu vivo muito bem com isso”

Pedro Barata acredita que os 8,30 euros por ação oferecidos pelo private equity norte-americano KKR, para ficar com a Greenvolt, não valoriza o preço potencial que a empresa tem. Por essa razão, está a apostar numa subida do preço da oferta. Mas, caso a operação não se concretize, algo que considera como pouco provável, continuará a acreditar na empresa liderada por João Manso Neto.

Após uma valorização de 14,2% em 2023, 7,3% em 2021 e 18% em 2020 (incluindo a distribuição de dividendos), qual é a sua expectativa para o PSI este ano?

Temos ainda muito para andar. Tanto o mercado americano quanto o mercado europeu, como o Stoxx600, ou já bateram máximos muito recentemente ou estão muito próximos dos máximos. Estamos a 120% dos máximos.

E o nosso mercado tem capacidade para renovar esse máximo?

O PSI tem poucas empresas, mas todas são financeiramente bastante sólidas, líderes dos mercados onde atuam e muitas têm uma gestão de excelência. A combinação destas três coisas faz com que, mais cedo ou mais tarde, o nosso mercado seja reconhecido. Tem também uma mais-valia que se notou muito no ano de 2022, que é um mercado mais defensivo, com pouco exposição a tecnologia e mais exposição a utilities, que poderá ser visto a nosso favor em alturas de maior volatilidade.

Achamos que os 8,30 que estão a oferecer [pela Greenvolt] neste momento poderão não estar a valorizar o potencial que a empresa tem.

Quais são as três grandes apostas para 2024 do GNB Portugal Ações?

Neste momento, os nossos principais investimentos estão muito em linha com o que tínhamos no final do ano passado: Galp, Sonae, BCP e grupo EDP. Claro que, durante o ano, vão surgir histórias e estamos sempre muito atentos a isso porque é isso que nos vai diferenciar da nossa concorrência, porque todos investimos nos mesmos títulos. Neste momento, estamos confortáveis com a exposição que temos nos principais títulos, mas daqui a seis meses posso ter uma carteira um pouco diferente do que tenho hoje.

Uma das histórias que está a decorrer e que nos próximos meses terá novos capítulos é a OPA do KKR sobre a Greenvolt. O GNB Portugal Ações tem uma posição na ordem dos quatro 4,75% através de um investimento de 1,6 milhões de euros em ações da Greenvolt. Parece-lhe que o preço de 8,3 euros oferecido pelo KKR é justo?

A empresa tem potencial para bastante mais. Nós, GNB Gestão de Ativos, não temos só ações da Greenvolt no fundo Portugal Ações, mas também em diversas outras carteiras – temos cerca de 1% da Greenvolt gerido por nós. E apesar de achar que o preço oferecido ser muito superior aquele que a ação estava a cotar, achamos que o potencial da empresa pode ir muito mais além.

Já tomaram alguma decisão sobre se aceitam ou não a oferta?

Ainda não tomámos uma decisão sobre o tema, mas estamos atentos e gostaríamos que o preço fosse superior. Achamos que os 8,30 que estão a oferecer neste momento poderá não estar a valorizar o potencial que a empresa tem.

Significa que vão esperar mais algum tempo para tomar a decisão?

Vamos esperar, com certeza, mais algum tempo para tomar a decisão.

E ficariam confortáveis na eventualidade de a OPA não passar?

A OPA vai passar. Se será a este preço… não tenho a certeza. Eles (KKR) já têm um acordo assinado com mais de 60% da estrutura acionista. Se vão conseguir os 90% das ações para retirar o título de mercado a este preço, já tenho mais dúvidas. E para isso, se calhar, terão de subir o preço para conseguirem os tais 90% que precisam. E estamos a contar um pouco com isso.

Desde o lançamento da OPA que a cotação dos títulos da Greenvolt não se tem aproximado dos 8,3 euros. Na semana passada chegou a cotar nos 8,1 euros. Não seria expectável que a cotação estivesse mais perto do preço da OPA?

Sim, seria.

Que leitura faz deste comportamento?

Há pessoas que já estão confortáveis com este preço, provavelmente pessoas que compraram na altura do IPO ou próximo dessa altura e viram que com este preço ganham 20% ou 30% e sentem-se satisfeitos e saem. Não é o nosso caso. Mas também pode estar relacionado com alguma incerteza, porque o negócio da Greenvolt não é só em Portugal Tem muita exposição à Polónia, Reino Unido, Espanha. Esta operação tem de passar pelos reguladores de todos estes países. É um processo que vai durar alguns meses o que confere alguma incerteza e as pessoas podem não querer esperar pela incerteza e vender no certo.

Não lhe parece que este comportamento da cotação dos títulos seja um sinal de que os investidores não acreditam que a OPA não passará?

Parece-me que é um movimento para a realização de mais-valias. No nosso caso, se a OPA não passar vivo muito bem com isso.

Continuam a comprar ações da Greenvolt?

Se a OPA não passar vivo muito bem com isso.

Pedro Barata, gestor do fundo de ações nacionais GNB Portugal Ações, em entrevista ao ECO - 12JAN24
Pedro Barata, gestor do fundo de ações nacionais GNB Portugal Ações, conta com mais de 30 anos de experiência nos mercados financeiros. (Hugo Amaral/ECO)

“Tenho paciência suficiente para esperar que as coisas se concretizem”

Longe de ser um gestor muito ativo na compra e venda de ações, Pedro Barata define-se como um gestor de longo prazo que procura usar o tempo a seu favor. Porém, destaca que não é intransigente nas suas decisões e que não tem problemas em mudar de opinião quando percebe que está errado.

Nos últimos dez anos, a Bolsa de Lisboa perdeu 18 empresas e só viu entrar 6, entre as quais a Greenvolt que poderá ser a próxima a sair. Que impacto tem esta perda de empresas na gestão de um fundo como o seu com um universo de empresas já por si reduzido?

É desafiante. Temos poucas mas muito boas empresas. O índice está muito consistente no que diz respeito à qualidade, tanto ao nível da solidez financeira como às equipas de gestão que gerem estas empresas. Mas como as empresas são boas, é natural que também sejam adquiridas por outras maiores num processo de consolidação.

A redução do número de empresas na bolsa portuguesa tem levado a que alguns antigos fundos de ações nacionais se tornem em fundos ibéricos. Está nos vossos planos fazer o mesmo com o GNB Portugal Ações?

Não, nós não consideramos essa possibilidade.

Porquê?

Porque como somos um banco português e estamos em Portugal queremos ter um fundo português.

Quem tem esta profissão tem de ser resiliente, sabendo de antemão que nem todas as decisões que toma vão correr bem.

Assumiu a gestão do fundo em 2017. O fundo é hoje muito diferente do que era há seis anos?

A minha forma de gerir o fundo passa, claramente, por fazer investimentos de mais longo prazo. Não sou adepto do trading. Posso fazer uma coisa muito esporádica, mas o trading diário não faz parte da minha forma de gerir. E com isso o fundo tem a possibilidade de não ter tantos custos de negociação e transação, o que faz com que os participantes beneficiem com o facto de não rodarmos muito a carteira.

Nestes seis anos, qual foi o melhor negócio que fez no fundo?

Tínhamos uma posição relativamente pequena na Mota-Engil no início do ano de 2023 e quando nos apercebemos que poderia haver um desenvolvimento na empresa que não tínhamos percebido, dobrámos a posição no final de janeiro, início de fevereiro. Foi um bom investimento.

E qual foi o pior investimento?

O pior talvez tenha sido em 2022 numa aposta que fiz na Altri que não correu exatamente como gostaria.

Como é que lida com esses momentos maus?

Sigo em frente. Quem tem esta profissão tem de ser resiliente, sabendo de antemão que nem todas as decisões que toma vão correr bem. Não é possível que tudo aquilo que vou decidir e em que vou investir, por mais que queira e por mais que ache que estou a fazer o correto, se concretize naquilo que desejo.

Como contorna essa situação?

Quando invisto num título, espero algum tempo, tenho paciência suficiente para esperar que as coisas se concretizem. Se, em todo o caso, me aperceber que aquilo que eu pensava de repente deixou de fazer sentido, também rapidamente mudo de opinião. Vendo o que tenho a vender e parto para outra.

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