Paquistaneses falam em “epidemia de violações” após ataque a mulher em parque de Islamabad

9 fev 2023, 20:01
Islamabad, Paquistão (AP)

Jovem de 24 anos foi violada por dois homens no maior espaço verde da capital. Ativistas e sociedade civil criticam a má atuação das autoridades

No Paquistão, crescem os protestos e a raiva contra a insegurança das mulheres e a impunidade dos que contra elas cometem crimes.

A mais recente vaga de contestação foi espoletada pelo ataque a uma mulher de 24 anos em Islamabad na semana passada. A jovem de 24 anos passeava com um colega pelo parque Fatima Jinnah, o maior de Islamabad, quando foi abordada por dois homens armados. O colega da jovem acabou por ser afastado do local e a mulher violada.

Após o crime, os violadores ameaçaram com novo ataque caso a jovem falasse sobre o incidente e disseram à vítima que não deveria estar no parque àquela hora da noite.

"Há uma epidemia de violações no país, e está a crescer. Pode muito bem acontecer que os casos de violação estejam a ser relatados com mais frequência nos dias de hoje e que os índices de julgamento e condenação sejam subsequentemente mais baixos, mas, embora as leis de violação tenham sido modernizadas nas últimas duas décadas e tenha havido algumas medidas revolucionárias, como a proibição de testes de virgindade, ainda existem leis que utilizam a linguagem da moralidade para definir crimes sexuais contra as mulheres. Acrescente-se a isso a atitude misógina dos agentes da autoridade, investigadores e funcionários judiciais, que tendem a culpar as vítimas”, afirmou Osama Malik, advogada na área dos direitos humanos, citada pelo The Guardian.

De acordo com jornal britânico, fontes da equipa médica que prestou assistência à jovem afirmaram que a vítima tinha marcas claras de tortura na cara e nas pernas.

Não só o crime motivou a revolta nas ruas e nas redes sociais, como também a forma como a polícia lidou com o caso enfureceu os paquistaneses, uma vez que ainda não prenderam os atacantes. As autoridades limitaram-se a dizer que a investigação está a decorrer. “Efetuámos rusgas para prender o principal suspeito, mas ainda não foram feitos progressos", disse Mumtaz Habib, investigador responsável pelo caso.

"A negligência da polícia é evidente. Eles não estão a levar o caso a sério e não conseguiram deter os culpados, mesmo uma semana após o incidente. Este não é o primeiro incidente neste parque e a polícia deve levá-lo a sério”, disse Farzana Bari, ativista pelos direitos das mulheres, referindo-se a um caso de 2018, em que uma mulher foi violada por um funcionário do espaço. “É da responsabilidade da polícia tornar os lugares públicos mais seguros para as mulheres".

A polícia é também acusada de ter divulgado os dados pessoais da vítima, como o nome e número, aos órgãos de comunicação locais. "Os media locais são insensíveis e motivados pelas audiências. Não deveriam ter revelado os dados pessoais da vítima", lamentou Bari.

Segundo o The Guardian, também na semana passada, um pica-bilhetes violou uma jovem de 18 anos sob ameaça de arma num autocarro na zona de Vehari, área central de Islamabad. A rapariga foi levada para o hospital com ferimentos graves. O principal suspeito foi detido.

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