O início do ano letivo pode ser um pesadelo ou uma oportunidade para começar de novo. Para os que optam pela segunda escolha, o Papa Francisco deixou, há um mês na Jornada Mundial da Juventude, alguns conselhos práticos.
- Acabar o ano 37 vezes melhor com 3 perguntas diárias. No livro “Atomic Habits”, James Clear descreve o quão poderoso é melhorar todos os dias um bocadinho. O autor americano diz que se conseguires melhorar 1% todos os dias durante um ano, acabarás por ficar trinta e sete vezes melhor quando terminares. Basta fazer as contas (1). Além de James Clear, o Papa sabe que Deus nos chama hoje para sermos melhores que ontem, “chama-nos para nos fazer caminhar, chama-nos para nos refazer”, como disse em Lisboa. Ou seja, só se pode seguir Jesus com estas disposições: caminhar, refazer-se, deixar-se transformar por Ele. Um dos segredos de quem quer melhorar é fazer um balanço do dia, respondendo a estas 3 perguntas: Que bem fiz hoje?; Que mal fiz hoje?; Que posso fazer melhor amanhã?. É o que conhecemos por exame de consciência e que o Papa também faz diariamente. “Conhecer o que acontece no coração. Nós não somos animais, somos Filhos de Deus, batizados com o dom do Espírito Santo. Por isso, é importante entender o que aconteceu hoje no meu coração. Que o Senhor nos ensine a fazer sempre, todos os dias, o exame de consciência” (2), recordava o Santo Padre. Reconhecer que há coisas que poderíamos fazer melhor ajuda-nos a aproximar da confissão, esse lugar onde misteriosamente o mal se converte em bem, de onde saímos sempre renovados, mais leves, alegres e com paz. E este áudio pode-te ajudar a fazer um exame de consciência no final de cada dia em 3 minutos.
- Um bom almoço, descanso e a Missa ao domingo. 17 de março de 2013, na Praça de S. Pedro (Roma). Francisco dirige pela primeira vez a oração do Angelus. Diz que é “importante para nós, cristãos, encontrarmo-nos ao domingo, saudarmo-nos”. E termina com umas palavras que são uma das suas imagens de marca: “Bom domingo e bom almoço!”. Dez anos depois, no Campo da Graça voltou a despedir-se de 1,5 milhões de jovens com as mesmas palavras. O domingo é um dia de descanso, para ter um almoço de família diferente e para ir à Missa. Porque é importante ir à Missa? A celebração dominical da Eucaristia está no centro da vida da Igreja (3). Vamos à Missa ao domingo para encontrar Jesus Ressuscitado, ou melhor, para nos deixarmos encontrar por Ele, ouvir a Sua palavra, alimentar-nos à Sua mesa. Por isso, o domingo não é o melhor dia para ir às compras ou acabar o trabalho da semana. O Concílio Vaticano II quis reafirmar que o domingo é ”o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso”(4). A abstenção dominical do trabalho não existia nos primeiros séculos: é uma contribuição específica do cristianismo. Foi o sentido cristão de viver como filhos e não como escravos, motivado pela Eucaristia, que fez do domingo, quase em todo o mundo, o dia do descanso.
- Fazer a cama, arrumar o quarto e dilatar o coração. Francisco, um dos 25.000 voluntários da JMJ reconhecia em Algés, diante do Papa, que ter ajudado na organização deste encontro “deu-me coisas que eu não procurei, mas que muito precisava”. Uma delas é a “fazer a cama todos os dias”. O Papa ficou contente com estas palavras. Poucas horas antes de se despedir de Lisboa recordou que não nos podemos “deixar dominar pela desordem, pela cama desarrumada do passado, nem viver com o coração atormentado por sensações de pessoa inacabada”. E rematou: “Aqui foi-te oferecida, com a ajuda de Jesus e dos irmãos, uma ocasião para reorganizar «o quarto» da tua vida. Pôr ordem na vida é bom: esta Jornada é útil, ajuda muito a pôr ordem na vida. Mas porquê? Graças à Jornada? Não, graças a Jesus, que está aqui no meio de nós e Se nos revela. Para colocar a nossa vida em ordem, não bastam coisas, não ajudam distrações, não serve o dinheiro. O que é preciso é dilatar o coração. E se alargardes o coração, colocareis ordem na vossa vida. Não tenhais medo! Dilatai o vosso coração” (5). Alguns santos defendem que o teu quarto é o espelho da tua alma. Por isso, há desafios na nossa vida, da nossa alma, que se resolvem quando arrumamos o nosso quarto, quando fazemos a cama todos os dias, quando deixamos que Jesus arrume a nossa vida desarrumada.
- Ter pressa para voltar para casa. Dizia-me recentemente um amigo casado e pai de um filho: “Às vezes apetece-me mais ficar no trabalho e voltar para casa mais tarde”. Trabalho e família: uma tensão. E o Papa conhece-a. No Mosteiro dos Jerónimos, no primeiro dia da JMJ, recordou aquela cena em que os apóstolos, cansados, não tinham pescado nada durante a noite. “Jesus olha com ternura para Simão e os seus companheiros que, cansados e angustiados, lavam as suas redes, realizando um gesto repetitivo, automático, mas também cansado e resignado: não havia mais nada a fazer senão voltar para casa de mãos vazias” (6). O regresso a casa depois de um dia difícil é um desafio, mas “Cristo está interessado em fazer sentir a proximidade de Deus, precisamente nos lugares e situações onde as pessoas vivem, lutam, esperam, às vezes colecionando nas suas mãos fracassos e insucessos, precisamente como aqueles pescadores”. Podemos aprender a ter pressa em chegar a casa para estar com a mulher/marido, filhos, irmãos quando os amamos de verdade. Quando pensamos em Jesus, Maria e José é mais fácil transformar gestos repetitivos em serviço alegre. O Papa disse em Lisboa que todos temos pressa para o que amamos e gostamos. Para o futebol, para as festas, para o ginásio, para mais um episódio da série. Se aprendermos a amar a família, aprenderemos a ter pressa para voltar para a casa.
Estes são alguns conselhos do Papa para começar de novo. Para conseguirmos ser melhores. A página Queima-te do Instagram tem outros interessantes. Aceita o desafio do próximo passo. Com a ajuda das palavras do Papa, atreve-te a definir pontos concretos de melhora da tua vida para começar bem e ser melhor. Escreve-os na tua agenda e volta a eles todos os meses. Que tenhas um bom ano!
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Notas:
(1) O número 365 significa simplesmente 1 x 1 x 1 x 1 ... 365 vezes. Tudo o que é multiplicado por 1 permanece inalterado, pelo que o resultado é 1. Mas o que é que acontece se adicionarmos 1% a esse resultado, que é a segunda equação? Se pegarmos em 1,01 e o elevarmos à potência 365 - por outras palavras, multiplicamos 1,01 x 1,01 x 1,01 x 1,01 x 1,01 ... 365 vezes, o resultado é 37,8.
(2) Homilia do Papa Francisco, 4/09/2018
(3) Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2177
(4) Const. Sacrosanctum Concílio, 106
(5) Discurso do Papa aos Voluntários (lisboa2023.org)
(6) Homilia do Papa no Mosteiro dos Jerónimos (lisboa2023.org)
