V.Guimarães-P. Ferreira, 0-1 (crónica)

9 dez 2000, 19:16

A espera não foi fatal Como num filme de terror, o Paços de Ferreira esperou pelo adversário, que estava a criar as melhores oportunidades da primeira parte. Depois, com matreirice, levou a defesa do Guimarães à loucura, graças ao futebol rendilhado de Beto, Everaldo, Rafael e Marco Paulo. Os minhotos denotaram alguns desequilíbrios e pecam por não terem conseguido manter o nível dos minutos iniciais. Perto do final, o jogo conheceu o golpe fatal. Irrepreensível.

Mais uma vez, a máxima voltou a concretizar-se na prática. As aparências iludem. Entenda-se por aparência a atitude evidenciada pelo Paços de Ferreira ao longo do encontro. À medida que o tempo passava, a equipa da capital do móvel libertava-se da táctica inicial, algo envergonhada, algo cinzenta, unicamente para levar o adversário à impaciência. Terá sido uma estratégia? Pelo menos, teve consequências práticas no resultado final, cuja vitória é perfeitamente justa para a formação que soube cortar as amarras no momento certo.  

Na primeira parte, o treinador José Mota ofereceu as rédeas do jogo ao Guimarães. Os pacenses optaram por tapar os caminhos da baliza, com Gaspar a travar o ímpeto de Congo e Filipe Anunciação a revelar-se seguro no meio-campo. Depois, o objectivo passava por rendilhar o futebol nos pés habilidosos de Rafael, com a subtileza de Marco Paulo a ser um factor de destaque, juntamente com a criatividade de Everaldo e a força de Beto. Tudo isto resultou e o adversário somou a sua quinta derrota consecutiva. 

Por outras palavras: o Paços de Ferreira soube chamar o Guimarães ao local mais perigoso, obrigando-o a colocar o pé em ramo verde. Foi uma espécie de matreirice bem arquitectada, com o intuito de enervar os vimaranenses, que tiveram as melhores oportunidades no primeiro tempo. É bom esclarecer este ponto com clareza, porque, se não fosse a inspiração do guarda-redes Pedro, o resultado seria diferente. 

Guimarães com nervo apenas na primeira parte 

Na primeira parte, o bloco de notas registou algumas conclusões importantes. Nota-se que a equipa minhota já assimilou uma boa parte da mensagem de Álvaro Magalhães. Mostrou nervo, correu atrás da bola, encurtou os espaços, soube utilizar os flancos, mas nunca conseguiu chegar à baliza com êxito. E também não soube evidenciar o mesmo comportamento ao longo dos 90 minutos. A razão da derrota pode estar aqui. 

Apesar da combatividade ter dominado os propósitos do Guimarães, o sector mais recuado continua bastante permeável e a evidenciar nervosismos incompreensíveis. Na prática, a defesa em linha baralhou um pouco a cabeça de Márcio Theodoro e Paulão, que chegaram a deixar Paulo Vida na cara de Tomic. Valeu os dotes do guarda-redes para fechar o ângulo de remate. Estava dado o grito do Ipiranga. 

Na segunda parte tudo foi diferente. A inquietação dos centrais vimaranenses depressa contagiou os colegas como um vírus gripal. Os laterais subiam e Paiva tentava encurtar os espaços no meio-campo, mas os avançados não rematavam. Congo e Sérgio Júnior nem sempre arriscavam em posição frontal, mas quando o faziam Pedro revelava-se um muro intransponível. 

O comboio amarelo destroçou a defesa 

No final do primeiro tempo, ouviu-se o grito do Ipiranga, porém as consequências só aconteceram na segunda parte. O Guimarães tremia, mas o Paços de Ferreira respondia com serenidade e auto-confiança. E depressa acrescentou um outro propósito ao seu futebol, a velocidade. As oportunidades de golo depressa se começaram a desenhar, com Everaldo e Beto em evidência nos flancos. 

A pressão chegou a ser visível, apenas mutilada por raras jogadas de inspiração vimaranense. O exemplo flagrante é descrito num único lance: centro de Alvarez para Soderstrom, mas o guarda-redes pacense volta a ser a delícia dos repórteres fotográficos. Álvaro Magalhães ainda tentou alterar o ataque, mas nem isso lhe valeu, porque a confiança contrária aumentava. 

Aos 84 minutos, o jogo morreu, graças ao pé esquerdo de Everaldo e a um cruzamento perfeito de Paulito. O golo, para além de carimbar a vitória merecida do Paços de Ferreira, remete o público a duas conclusões. Uma já foi explicada e resume-se ao problema da defesa; a outra assenta no comportamento do Guimarães. A partir daquele momento, os jogadores deixaram de acreditar em tudo e mais alguma coisa. O pensamento negativo tem de mudar.

Patrocinados