Falta sedução no Euro-2000

16 jun 2000, 12:37

Opinião de Ana Matias Ana Matias, especialista em marketing desportivo, escreve nestas páginas durante o Campeonato da Europa.

Cinco «orgasmos»* em 90 minutos é obra. Mesmo tirando os dois que foram para o lado do inimigo, poucos se podem gabar de dar tanto prazer a uma nação inteira. Proponho, desde já, que sempre que nos referirmos ao jogo Portugal x Inglaterra façamos uma vénia. Benditos sejam os nossos jogadores, verdadeiros exemplares do homem lusitano. E se a UEFA tiver previsto um prémio para a selecção mais bonita, (também) esse troféu será nosso, e juro que não é uma observação subjectiva, pois a aprecição dos dotes estéticos dos nossos jogadores tem sido uma constante por essa Europa fora. A sua legião de fãs já ultrapassou a fronteira dos adeptos do futebol, atingindo as hostes femininas. 

Falando em bonito, o prémio de equipamentos vai direitinho para a Selecção italiana. É a única que segue as tendências da moda, utilizando no seu design as linhas «revival» que inspiraram os criadores nesta estação. O que prova que é possível conjugar as características técnicas do fabrico de equipamentos de alta competição com a moda. Pode ser que para o EURO-2004, a FPF aceite finalmente a minha sugestão de fazer um concurso entre os vários estilistas nacionais para a criação do equipamento principal. Todos tinham a ganhar, a imagem da Selecção melhorava (mais) e as receitas de merchandising aumentavam, com uma camisola desenhada, por exemplo, pelo Nuno Gama, Ana Salazar, Tenente ou outro. 

Continuando nas apreciações estéticas, tem havido muitos golos neste EURO-2000, mas ainda nenhum teve uma celebração digna de registo. Talvez porque faltem os brasileiros, verdadeiros craques na imaginação que emprestam aos festejos dos golos, como foi o caso de Bebeto no Mundial de 94. Foi tão feliz o seu gesto que imediatamente foi aproveitado por campanhas publicitárias e copiado por muitos outros goleadores. O festejo de golo pode ser uma imagem de marca, como o avião de Ronaldo ou as cambalhotas do Fernando Couto, ou pode ser a imagem de uma marca, como o sinal de «1» que a Selecção brasileira utilizou também no Mundial dos Estados Unidos a pedido (e pago) pela Brama. E, até agora, ainda não apareceu o gesto que ficará na história deste Europeu. 

«Bonito» foi um adjectivo utilizado para caracterizar o espectáculo de abertura do EURO-2000, além de «simples» e «digno». Mas o que nós, os fãs, queríamos era espectacular, memorável, impressionante e por aí fora. Estes são verdadeiramente os adjectivos que se impunham à cerimónia de inauguração de um Europeu de futebol. Acredito que tenha sido melhor ao vivo do que na tv e isso pode justificar as crónicas que li dos enviados especiais, mas francamente, soube-me a pouco, mesmo no super écran gigante da Praça Sony. 

Em termos de marketing desportivo, até agora, a nota é negativa, muito abaixo do Mundial de 98, essa sim, uma organização fantástica. No EURO-96 o «sports marketing» ainda era uma criança, mas em França já ninguém lhe conseguiu escapar. É que, seduzir uma mulher (e os franceses têm este hábito) não é muito diferente de seduzir um adepto de futebol, onde (também) só a emoção impera. 

ANA MATIAS 

* O bibota Fernando Gomes deveria ter registado a expressão de que «os golos são o orgasmo do futebol». Se fosse nos States, já estava rico só com os direitos de autor.

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