Imagem pública
- O seu segundo mandato como seleccionador tem sido, em termos de imagem pública, muito mais pacífico do que o primeiro...
- É a idade, meu caro amigo...
- Foi a sua atitude que mudou ou mudaram as circunstâncias?
-Todas as pessoas mudam, crescem, ganham maturidade, experiência e tornam-se mais condescendentes. Eu costumo dizer que ninguém é suficientemente sábio para ser intolerante. E a vida vai-nos ensinando aquilo que há quatro ou cinco anos nem sequer tínhamos tempo para reparar. Eu reconheço que ganhei mais maturidade e estrutura e consigo ver agora os mesmos problemas de uma forma diferente. Da mesma forma, não deixo de admitir que as pessoas tenham feito o mesmo a meu respeito. É o processo da vida, por tentativa e erro...
- Sente que a sua imagem pública é, neste momento, mais justa?
- Não sei se é mais justa. Sei é que desta vez as pessoas deram-me o benefício da dúvida, o que nunca tinha acontecido em 1994. Eu meto-me nas coisas em que acredito, e que sinto ser capaz de fazer. A partir daí, não se metam no meu caminho, porque estamos a falar de futebol, não da Casa do Gaiato nem da Santa Casa. As pessoas exigem-me e cobram-me resultados. Continuo a ter isso bem presente. Mas continuando a acreditar nas coisas que defendo, talvez as defenda de outra forma.
- Tem destacado muitas vezes a identificação do público com a Selecção. Isso facilita o seu trabalho?
- É um fenómeno muito bom e gratificante, e ao mesmo tempo de grande exigência. É um fenómeno de grande empatia, provavelmente também fruto do mau desempenho global das equipas portuguesas nos confrontos internacionais - o F.C. Porto tem sido excepção - que transferiu para a Selecção, mais do que alguma vez eu me lembro de ver, toda esta sede de glória e vontade de vencer. Mas não facilita em nada o meu trabalho, pelo contrário: aumenta-me a responsabilidade. Quanto maior a empatia, maior a frustração a cada resultado negativo.
- Ainda assim há excepções a esse clima de unanimidade. Eu lembro-lhe que Secretário não defrontou a Irlanda na Luz por razões que tinham a ver com o acolhimento do público. Isso não é preocupante?
- Não tinha a ver com o público, tinha a ver com o Secretário, com a necessidade de contar com ele para a Holanda. O público entra aqui numa análise secundária. Essa segunda análise não me interessa, porque a questão resumia-se, na minha maneira de ver, a ter um jogador satisfeito e motivado para actuar com a camisola da selecção. Se eu tivesse a certeza de que conseguia retirar-lhe a tempo essa carga negativa de ser criticado e apupado logo à partida, quando ainda nem estava a jogar, ele entrava. Mas naquele momento, eu sabia que não estavam criadas as condições para isso. Então seria lançá-lo às feras, em vez de o ajudar. E prejudicar também a Selecção.
- Repito a pergunta: isso não é preocupante? Acha que esse problema está resolvido?
- Absolutamente.
- Se por hipótese tivesse outro jogo importante na Luz, estaria à vontade para escolher Secretário?
- Absolutamente. Na Luz, ou em qualquer outro estádio no mundo.
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