Pugilista esteve perto de ser campeão do mundo, esteve 20 anos preso injustamente e serviu de inspiração a Bob Dylan
Pode não se lembrar de Rubin Carter, mas de certeza sabe cantar esta música de Bod Dylan. Comece já a trautear: «Here comes the story of the Hurricane/The man the authorities came to blame/For something that he never done/Put him in a prison cell but one time he could-a been/The champion of the world».O «Hurrican» («furacão») morreu este domingo, aos 76 anos (a apenas quinze dias de celebrar 77), na sua casa de Toronto, com um cancro na próstata. Será conhecido para sempre como o ex-pugilista que passou 19 anos detido por homicídio, mas era um crime do qual estava inocente e por isso viria a ser libertado. É disso que Dylan fala na sua música de novembro de 1975, incluída no álbum «Desire», depois de ter lido a autobiografia de Carter, publicada quando ainda estava na prisão.
Mais tarde, em 1999, a história de vida de Rubin conquistou Hollywood e passou para os grandes ecrãs, num filme realizado por Norman Jewison e protagonizado por Denzel Washington, que viria a vencer o Globo de Ouro para melhor ator e chegou a ser nomeado para os Óscares na mesma categoria.
Rubin Carter foi condenado duas vezes, em 1967 e 1976, pelo homicídio de três homens de raça branca num bar de Nova Jérsia, em 1966. Um júri formado apenas por brancos pronunciou a sentença, imposta também ao outro acusado, John Artis, também negro. Curiosamente, foi Artis a acompanhar o «furacão» nas suas últimas horas de vida.
Carter deixou a prisão em 1985, depois de passar mais de 19 anos na cadeia, quando um juiz federal anulou a segunda condenação, que considerou ter sido operada por racismo, coação e manipulação. Não era nenhum santo, tinha cometido outros delitos na sua vida e estava marcado pela justiça, mas a detenção por homicídio acabou com uma carreira de sucesso. Em 1964 perdeu a oportunidade de conquistar o título mundial de pesos médios aos pontos contra Joey Giardello. Na altura era famoso pela ferocidade dos seus golpes e acumulou 27 vitórias, sendo 17 delas por KO, além de 12 derrotas e um empate. Num combate histórico, chegou a derrotar Emile Griffith, detentor de dois cinturões de campeão mundial, ao derrubá-lo no primeiro assalto, em 1963.
Depois de ter sido libertado dedicou a sua vida a defender casos como o seu. Viveu em Toronto e chegou a dirigir a fundação AIDWYC, de ajuda aos condenados injustamente pela justiça, entre 1993 e 2005. Neste domingo, quando foi informado sobre a morte de Carter, Denzel Washington expressou os seus sentimentos: «Deus abençoe Rubin Carter e a sua luta incansável para garantir a justiça para todos».
Num texto publicado a dia 21 de fevereiro no jornal «New York Daily News», Carter escreveu: «Ficarei surpreendido se encontrar o paraíso depois desta vida. Mas, durante os meus anos neste planeta eu conheci o inferno nos 49 primeiros anos e o paraíso nos 28 últimos».