Ava Majury, menor de idade, estrela do TikTok: apareceram-lhe em casa para matá-la

17 fev 2022, 22:33
Ava Majury

A pandemia levou Ava Majury, agora com 15 anos, para o TikTok. O sucesso cobrou um preço

A história da norte-americana Ava Majury começa como a de muitas adolescentes portuguesas (e de todo o mundo). Em 2020, a pandemia atirou-a para o TikTok, a rede social que cresceu 75% em tempos de confinamento e liderou o top de downloads. Um ano depois, a sua história já era diferente da da  maioria: com os seus vídeos de lip-sync e danças tinha reunido mais de um milhão de seguidores. Um, em particular, era muito insistente. 

Além dos comentários na rede de origem chinesa, EricJustin111 contactava Ava Majury no Snapchat, no Instagram e nos jogos online que a jovem, de 13 anos em 2020, jogava com os irmãos. Inicialmente, relata a própria ao The New York Times, respondia-lhe, como a muitos outros fãs. “Olá, como foi o teu dia?”

Até que no dia 10 de julho de 2021, Eric Rohan Justin, de 18 anos, apareceu à porta da casa da família, em Naples, no estado da Florida, e atirou com uma espingarda. Dentro de casa, o pai, polícia reformado, tentou perseguir o atirador. A primeira tentativa foi falhada. Ao nascer do dia, ele voltou e já com a sua arma em punho. Rob Majury disparou sobre o rapaz matando-o.

O que aconteceu a Ava Majury pôs em evidência violência real, problemas de saúde mental, distúrbios e mortes - os quatro problemas identificados no relato da família ao New York Times.

Mas ela continua a ser uma estrela do TikTok. 

Dona de três contas nesta rede social, Ava Majury continua a partilhar vídeos e acumula dólares graças aos patrocínios nesta rede, no Snapchat e no Instagram, ao mesmo tempo que a reality TV lhe pisca o olho.

O Tiktok tem atualmente mais de mil milhões de utilizadores (alguns com mais de uma conta como a própria Ava Majury) e admite utilizadores a partir dos 13 anos. Em 2021, ultrapassou em popularidade o Instagram e o Snapchat entre os jovens dos 12 aos 17 anos. Popularizou danças e canções e criou celebridades como as irmãs Dixie D’ Amelio e a sua irmã Charlie, a primeira TikToker a ultrapassar os 100 milhões de seguidores, e Addison Rae, que à boleia do TikTok foi escolhida para protagonizar uma comédia romântica no Netflix (“He’s All That”).

“As suas criações, os contactos, os vídeos são uma parte tão grande do que ela é que tirá-lo seria difícil”, disse o pai ao New York Times, explicando por que razão a deixaram continuar. “Algumas pessoas não vão perceber”, admite a mãe. 

Pela rede social correm também desafios que incitam ao vandalismo, dietas radicais sem supervisão, asfixia e abusos. A empresa que detém o TikTok garante que se preocupa com a segurança e bem-estar da comunidade. Mas a vida continua fora da rede, como Ava Majury e a família contaram ao jornal norte-americano. 

Eric Justin pagava a amigos de Ava para lhe enviarem fotografias ou venderem informações pessoais como o número de telefone - que usava para lhe ligar e mandar mensagens. 

A própria família permitiu que Ava vendesse duas das suas selfies a Eric Justin por 300 dólares (264 euros). Quando ele começou a pedir mais do que fotos do seu sorriso, foi bloqueado. Implorou que ela o deixasse voltar a segui-la, enviou dinheiro e os próprios pais intervieram lembrando que Ava era menor de idade. Os pedidos para que a deixasse de contactar foram infrutíferos. 

Eric Justin começou a delinear planos para atacar Ava e a família, que contou a um dos colegas de turma da rapariga. Num dos contactos, detalha: “Eu podia só forçar a porta de entrada com uma espingarda”. Ava soube, falou com os pais. Como Eric Justin vivia longe, admitiram que era “um cowboy do teclado”. “Desvalorizei o que podia ser uma ameaça”, admite o pai.

No dia dos acontecimentos, Ava refugiou-se no quarto dos irmãos enquanto Eric tentava forçar a entrada a tiros. A mãe ligava o número de emergência - 911. Rob Majury conta que caiu antes de poder alcançar o atirador. Ele, com a arma encravada, fugiu. O pai da jovem estava à porta, de arma em punho, quando ele voltou. Quando lhe pediu que pousasse a arma, Eric Justin manteve-a apontada a ele. Disparou e matou-o.

A polícia local confirmou a morte do jovem e que encontrou, entre os seus pertences, dois telefones carregados com as fotografias e vídeos da jovem. Rob Majury não foi acusado de homicídio. 

O pai do jovem conta que o rapaz se mudou da Índia para os EUA após o divórcio dos pais. Recorda-o como um “bom rapaz”, “com boas notas a matemática”. “Não sei o que correu mal com ele”, disse ao jornal. 

O regresso às redes

Dias depois do acontecimento, Ava recebeu um convite para estar presente num evento de moda, patrocinado, em Los Angeles. “Uma boa distração”, segundo a mãe. Era o regresso ao TikTok, em moldes cada vez mais profissionais (é representada por uma empresa que gere os seus contratos).

Continua, no entanto, a ser alvo de fanáticos. 

Um homem oferecia mil dólares por mês para ter o seu número de telefone. Descobriram tratar-se de um pedófilo condenado.

O colega de escola a quem Eric Justin detalhou os seus planos observa-a e já se filmou num campo de tiro com uma espingarda. 

Ava acabou por deixar de frequentar a escola presencialmente e apresentou uma queixa contra o rapaz que, alegadamente, a persegue. 

Os pais apoiam a decisão da filha de continuar nas redes sociais. “Indivíduos doentes” não devem forçar Ava a sair das redes sociais, defendem os pais. “Porque devemos permitir que a parem? Talvez o papel dela seja trazer consciência sobre este tema”, diz a mãe. Porém, o assunto nunca é abordado nas plataformas que Ava usa. “Não quero que as pessoas pensem que o atraí”. Diz ter medo de que façam “concursos para ver quem consegue chegar primeiro”. 

Ainda assim, diz que, por vezes, se sente tentada a desistir, mas depois pensa nos benefícios. O dinheiro? “É uma grande vantagem”. Mas, garante, é a experiência que a move. “Conseguir fazer os outros sorrir.” 

E.U.A.

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