Barcelona, basquetebol, um sonho e uma viagem no tempo

8 set 2014, 10:40

EUA voltam à cidade onde tudo começou, em 1992, a tentar revalidar o título no Mundial da Espanha

Mike Krzyzewski fez uma viagem emotiva no tempo, depois do treino dos Estados Unidos no Palau Sant Jordi de Barcelona. «Até me arrepio», diz o selecionador norte-americano de basquetebol, a voltar 22 anos atrás, aos dias e à cidade onde viveu, como adjunto de Chuck Daly, a grande aventura da Dream Team, a seleção de estrelas que seduziu o mundo nos Jogos Olímpicos de 1992 e fez da NBA um fenómeno global. Coach K, como lhe chamam, lidera hoje a seleção que procura algo que o Team USA nunca conseguiu, revalidar o título no Mundial de basquetebol. Em casa da Espanha, a outra grande candidata, numa prova que entra agora nos quartos de final e mantém vivo o guião de sonho: uma final EUA-Espanha, a NBA frente à ÑBA.

Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird, Karl Malone, Scottie Pippen, Patrick Ewing, Karl Malone, David Robinson, Charles Barkley, e a lista não é exaustiva. Era uma equipa de sonho, num momento único. Na verdade, não é basquetebol a primeira coisa que vem à memória de Krzyzewski quando lembra aqueles dias.

«Quando penso em Barcelona, penso sempre na cerimónia de abertura, quando cantaram «Barcelona». Até me arrepio ao lembrar-me disso», diz Coach K, a memória a ecoar o dueto de Montserrat Caballé e Fredy Mercury. «Ouvimo-los e dizemos: Wow, não há melhor que isto. E isso de certa forma espelhou a celebração do basquetebol.»

O resto, a Dream Team em Barcelona 92, foi uma demonstração de força e estilo, em campo e fora dele, que marcou definitivamente o desporto. «O basquetebol estava no ponto para explodir. E aquilo foi a dinamite que faltava», diz Krzyzewski.

A Dream Team, que ganhou o ouro no pavilhão de Badalona, onde se jogou o torneio olímpico de basquetebol, era um bando de estrelas, com um estilo de vida à medida na Catalunha. «Quando estivemos aqui, há 22 anos, éramos como os Beatles ou os Rolling Stones, uma banda rock, e foi um momento único», prossegue Coach K.

Jordan e companhia não ficaram alojados na aldeia olímpica, uma inovação, e muitos dos jogadores aproveitaram ao máximo a experiência, passeando pela cidade e gozando o momento. Ainda agora Charles Barkley, um dos mais extravagantes membros do bando, recordou esses tempos, em entrevista à «Marca»: «Não era fácil fugir à segurança, mas o que não íamos fazer, estando em Barcelona, era ficar num hotel.»

Por aí, a seleção atual prolonga a tradição. No sábado, depois de começarem o dia a despachar o México nos oitavos de final, vários jogadores da Team USA estiveram no casino de Barcelona a jogar blackjack. Kenneth Faried, Andre Drummond e Kyrie Irving tranquilamente sentados à mesa de jogo, para espanto de quem lá estava.



No Mundial de Espanha a Team USA é algo à parte, como acontece sempre com as seleções norte-americanas. Em Barcelona, onde jogará até às meias-finais, a equipa escolheu um hotel diferente das restantes sete seleções que jogam as fases a eliminar na Catalunha, antes da final em Madrid, onde se joga a outra metade do quadro. Estão num hotel de luxo, conta uma reportagem do «El País», com um staff de 97 pessoas, quase o triplo do padrão estabelecido e pago pela FIBA, a Federação Internacional de Basquetebol.

Em Espanha os Estados Unidos são favoritos, claro. A Dream Team foi a primeira seleção norte-americana aberta a jogadores da NBA, uma conjugação singular de talento numa galáxia diferente do resto do mundo. É o paradigma de referência para cada nova equipa norte-americana desde então e, embora seja virtualmente inevitável não ficar a perder na comparação, esta seleção tem qualidade de sobra para manter o estatuto.

Mesmo admitindo que o fosso entre os EUA e as outras seleções se vai esbatendo, num mundo cada vez mais globalizado. Nas contas do «Mashable», havia 45 jogadores da NBA no Mundial, um recorde. Apenas três das 24 seleções presentes não tinham nenhum representante da Liga norte-americana.

Fruto da abertura da NBA a jogadores estrangeiros, mas também de alguns subterfúgios. As Filipinas, por exemplo, apresentaram em campo o extremo Andray Blatche, agora «free agent» depois de ter jogado pelos Brooklin Nets, nascido e criado em Nova Iorque mas naturalizado em cima da hora para o Mundial.

A equipa atual dos Estados Unidos é a mais jovem de sempre, tem uma média de idades de 24 anos e, embora tenha nomes suficientes para ser clara favorita a vencer o Mundial 2014, não é uma constelação de estrelas. Não tem LeBron James, já afastado da seleção, nem figuras maiores da NBA como Kevin Durant, e perdeu Paul Jones, por lesão. Um contratempo que aliás reavivou uma discussão antiga, se a seleção norte-americana deve mesmo viver das estrelas da NBA, ou se deve ser um espaço de oportunidade para jovens e promessas. 

Até agora o Mundial de Espanha foi o que se esperava para os EUA. Passaram pela primeira fase tranquilos, foram uma de três equipas só com vitórias, além da Espanha e da Grécia. Também rolaram nos oitavos de final frente ao México, mesmo que a sua grande figura, Derrick Rose, continue a fazer um Mundial muito discreto. Segue-se a Eslovénia, que deixou pelo caminho nos oitavos de final a República Dominicana. Nas meias-finais, Lituânia ou Turquia.

Velocidade de cruzeiro até àquela que se antecipa desde o início como a grande final, frente à anfitriã Espanha. A ÑBA, como lhe chama a imprensa espanhola, uma geração de ouro feita de grandes jogadores com largos anos de experiência, muitos deles na NBA. A jogar em casa, a Espanha é o candidato óbvio a desafiar os Estados Unidos, campeões em título. Seria uma reedição da final olímpica de 2012, ganha pelos norte-americanos.

Caminho mais difícil para a Espanha

Mas o caminho para a Espanha é à partida mais difícil. Depois de afastar o Senegal nos oitavos de final, numa vitória por números claros mas que não foi uma demonstração inequívoca de força, a Roja tem pela frente a França. Velhos conhecidos, com vários encontros recentes. Ainda agora na fase de grupos do Mundial, a vitória sorriu à Roja, por 88-64. No Europeu do ano passado a vitória foi francesa, um ano antes, nos Jogos Olímpicos de 2012, foi a Espanha quem ganhou.

Quem vencer esse confronto terá pela frente na meia-final o vencedor dos quartos de final entre a Sérvia e o Brasil, que se apuraram neste domingo. Foi dia de clássicos: os canarinhos deixaram pelo caminho a arqui-rival Argentina e houve ainda um Sérvia-Grécia. Equilibrado durante grande parte do tempo, até que a Grécia, uma das melhores equipas da primeira fase, soçobrou no quarto período, acabando a perder por 72-90. O confronto mais equilibrado dos oitavos pôs frente a frente a Turquia e a Austrália. Em desvantagem durante quase todo o encontro, os turcos, atuais vice-campeões do mundo, levaram a melhor no final e venceram por 65-64.

Foi também o dia em que se despediu a Nova Zelândia, uma das seleções que levaram alguma cor ao Mundial de Espanha. Foram um sucesso as representações da Haka antes de cada jogo, em especial frente aos Estados Unidos, um momento que impressionou a seleção norte-americana e em particular James Harden, dos Houston Rockets. Ora veja:




Ficará como uma das imagens do Mundial de Espanha, mas a Nova Zelândia está associada a outra curiosidade deste Campeonato do Mundo. O seu jogo frente à Finlândia foi a partida com mais espectadores nas bancadas de toda a primeira fase, um total de 15.483. Aparentemente a culpa é de uma horda de entusiastas adeptos finlandeses, qualquer coisa como sete mil fãs militantes que fizeram questão de se deslocar a Espanha e assistir aos jogos da sua equipa, afastada na primeira fase em último lugar no grupo.

Resultados dos oitavos de final:

EUA-México, 86-63
França-Croácia, 69-64
Rep. Dominica-Eslovénia, 61-71
Espanha-Senegal, 89-56
Nova Zelândia-Lituânia, 71-76
Sérvia-Grécia, 90-72
Turquia-Austrália, 65-64    
Brasil-Argentina, 85-65    

Jogos dos quartos de final:

Eslovénia-EUA, 9 setembro, 20h
Lituânia-Turquia, 9 setembro, 16h
França-Espanha, 10 setembro, 21h
Sérvia-Brasil, 10 setembro, 17h

Meias-finais:

Vencedor Eslovénia/Eua-Vencedor Lituânia/Turquia, 11 setembro, 20h
Vencedor Espanha/França-Vencedor Sérvia/Brasil, 12 setembro, 21h 

Jogo 3º lugar: 13 setembro, 17h    

Final: 14 setembro, 20h

Patrocinados