Bactérias resistentes a antibióticos já matam mais do que a SIDA ou a malária

20 jan 2022, 17:31
E.coli (Lusa)

Novo estudo publicado na revista científica The Lancet indica que a e.Coli é o agente patogénico mais fatal, sendo que a África Subsaariana Ocidental teve a maior carga de resistência bacteriana

As infeções causadas por bactérias resistentes a antibióticos matam 1,2 milhões de pessoas por ano globalmente, mais do que a SIDA e a malária. Além disso, este tipo de micróbio também foi responsável pela infeção de quase cinco milhões de pessoas que morreram em hospitais por outras causas, de acordo com um estudo publicado esta quarta-feira pela revista The Lancet, que analisou dados de 204 países.

Os investigadores responsáveis ​​pelo estudo consideram que, em menos de 30 anos, as superbactérias vão ser responsáveis pela morte de 10 milhões de pessoas por ano, ou três vezes mais do que a estimativa da mortalidade por covid-19 em 2020. 

Em Portugal, estima-se que anualmente se registem 1.160 mortes causadas por bactérias resistentes e a Direção-Geral da Saúde alerta para a importância de utilizar antibióticos apenas quando necessário, para que não se venham a tornar ineficazes.

Esta resistência das bactérias aos medicamentos normalmente utilizados ​​para tratar as infeções "é um dos principais problemas de saúde global", escreveu a equipa internacional de investigadores que publicou o estudo. Estes cientistas analisaram dados sobre a resistência antimicrobiana, incluindo 471 milhões de registos individuais.

Com base neste estudo, os cientistas estimaram que, entre 21 regiões em todo o mundo, a Australásia teve a menor carga de resistência bacteriana em 2019 - com 6,5 mortes por 100.000 pessoas diretamente atribuíveis a esta resistência. Por outro lado, a região da África Subsaariana Ocidental teve a maior carga de resistência bacteriana - com 27,3 mortes por 100.000 pessoas.

Entre os 23 agentes patogénicos incluídos no estudo, os cientistas descobriram que seis foram responsáveis ​​por 73,4% das mortes atribuíveis a esta resistência bacteriana: E.coli, Staphylococcus aureus, K. pneumoniae, S pneumoniae, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa. De todos estes, a E. coli foi a bactéria que, em 2019, matou mais pessoas. Mas, todas juntos, estas seis bactérias foram responsáveis por 929.000 de 1,27 milhão de mortes diretamente atribuíveis à resistência antimicrobiana. 

Estes novos dados, afirma o coautor do estudo, Chris Murray, do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, “revelam a verdadeira escala da resistência antimicrobiana em todo o mundo e são um sinal claro de que devemos agir agora para combater a ameaça". 

Os resultados do estudo são revelados numa altura em que a pandemia de covid-19 continua a avançar, especialmente nos países menos desenvolvidos. No entanto, com os holofotes colocados no coronavírus, o estudo reitera que “a pandemia de resistência antimicrobiana continua nas sombras”.

Dos principais agentes patogénicos bacterianos abordados neste estudo, apenas a pneumonia pneumocócica é combatida através da vacinação, mas Ramanan Laxminarayan, fundador e diretor do Centro para a Dinâmica, Economia e Política escreveu, num editorial publicado conjuntamente com o estudo, que as vacinas antivirais - como a que combate a influenza - “podem ser eficazes na redução da necessidade de tratamento, reduzindo assim o consumo inadequado de antibióticos".

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