“Burlas de romance”. Influenciadora do Instagram acusada de golpe de 2 milhões a americanos mais velhos e solitários

CNN , Faith Karimi e Sabrina Souza
18 mai 2023, 14:00
Ataque informático. Ilustração: Getty Images

Golpes deixam as vítimas financeira e emocionalmente devastadas. Num caso, a acusada terá chegado a convencer a vítima de que estavam casados. Mesmo sem nunca se terem visto pessoalmente.

Mona Faiz Montrage apresenta nas redes sociais um estilo de vida luxuoso, com roupas de marca, jornadas para fazer compras e viagens ao estrangeiro.

Para os seus 4,2 milhões de seguidores no Instagram, ela é uma música e membro do jet set  que viaja entre Londres e a capital ganense Acra.

Mas uma acusação federal nos Estados Unidos, revelada esta segunda-feira, alega que ela fazia parte de uma organização de cibercrime da África Ocidental que cometeu uma série de fraudes, incluindo um esquema de romances que roubou mais de dois milhões de dólares [1,85 milhões de euros] a americanos mais velhos e vulneráveis. Montrage foi detida no Reino Unido em novembro e extraditada para Nova Iorque na última sexta-feira, segundo informaram as autoridades federais.

Mona Faiz Montrage enfrenta várias acusações, incluindo conspiração para cometer fraude eletrónica, branqueamento de capitais e conspiração para receber dinheiro roubado, de acordo com o Gabinete do Procurador dos EUA do Distrito Sul de Nova Iorque.

Ela declarou-se inocente na segunda-feira, disse à CNN o seu advogado, Adam Cortez, por e-mail. O jurista recusou-se a fazer mais comentários, dizendo que ainda está a aguardar mais pormenores sobre as alegações do Estado.

Terá convencido a vítima de que estavam casados

Montrage, de 30 anos, natural de Acra, capital do Gana, supostamente fazia parte de um grupo de vigaristas da África Ocidental.

Entre 2013 e 2019, a sua empresa criminosa terá cometido várias formas de fraude contra indivíduos e empresas nos Estados Unidos. Os supostos crimes incluíram “golpes de romance”, em que, de acordo com documentos judiciais, atacavam homens e mulheres mais velhos que viviam sozinhos.

Os procuradores federais descreveram em pormenor as burlas que, segundo eles, deixaram as vítimas financeira e emocionalmente devastadas.

Alegadamente, os burlões contactaram as vítimas através de aplicações de encontros online e de redes sociais. Usavam identidades falsas para enviar mensagens de texto, e-mails e mensagens de redes sociais, e enganavam-nas fazendo-as acreditar que estavam romanticamente envolvidas, segundo dizem os documentos do tribunal.

“Quando os membros da empresa conseguiam convencer as vítimas de que estavam num relacionamento romântico e ganhavam a sua confiança, eles convenciam as vítimas, sob falsos pretextos, a transferir dinheiro para contas bancárias que as vítimas acreditavam serem controladas por aqueles que mostravam interesse romântico, quando, na verdade, as contas bancárias eram controladas por membros da empresa”, disse a acusação.

Montrage controlava contas bancárias que receberam mais de dois milhões de dólares em fundos fraudulentos, segundo a acusação. Ela tinha contas em Nova Iorque e noutros locais, onde alguns dos fundos eram depositados e onde os desembolsava para outros burlões com quem trabalhava, segundo os documentos do tribunal.

Num dos casos, terá usado o seu nome verdadeiro para comunicar com uma vítima por telefone e recebeu dinheiro diretamente da vítima. Enganou a vítima fazendo-a crer que estavam oficialmente casados, segundo os documentos do tribunal.

“Montrage enviou à vítima uma certidão de casamento tribal que alegadamente mostrava que Montrage e a vítima tinham casado no Gana”, lê-se nos documentos do tribunal.

Ela supostamente convenceu a vítima a enviar-lhe 89 mil dólares [82 mil euros] através de 82 transferências eletrónicas para a quinta do seu pai no Gana. E, em novembro de 2018, ela supostamente recebeu cheques no valor de pelo menos 195 mil dólares [180 mil euros] de outra vítima de golpe de romance, sustenta ainda a acusação.

Golpes de romance levaram a perdas de 1,3 mil milhões de dólares no ano passado

Os golpes de romance são um dos tipos de fraude em maior crescimento nos Estados Unidos, segundo a Federal Trade Commission. Os golpes evoluíram nos últimos anos, com pessoas a pagarem a golpistas de várias maneiras, incluindo criptomoedas e cartões-presente.

“As fraudes românticas - especialmente aquelas que visam indivíduos mais velhos - são uma grande preocupação”, disse Michael J. Driscoll, diretor assistente responsável do FBI.

Este tipo de fraudes disparou nos últimos meses nos EUA. Em 2021, as vítimas de golpes românticos perderam um total de 547 milhões de dólares [505 milhões de euros], um aumento de 80% em relação a 2020. Já no ano passado, os golpes românticos levaram a uns impressionantes 1,3 mil milhões de dólares [1,2 mil milhões de euros] em perdas, com quase 70 mil relatos de pessoas visadas. A perda média relatada foi de 4.400 dólares [4.063 euros ao câmbio atual], segundo informou a FTC.

“Estes burlões prestam muita atenção à informação que você partilha e não perdem tempo a tornarem-se no par perfeito para si”, afirmou a FTC. “Se você gosta de uma coisa, eles gostam dessa coisa. Você está a tentar assentar. Eles também. Mas há uma exceção - você quer encontrar-se na vida real, e eles não podem.”

Montrage é tem uma acusação de conspiração para cometer fraude eletrónica, uma acusação de fraude eletrónica, uma acusação de conspiração para branqueamento de capitais e uma acusação de branqueamento de capitais, cada uma das quais com uma pena máxima de 20 anos de prisão, de acordo com o Departamento de Justiça. Ela é também acusada de uma acusação de receção de dinheiro roubado, que acarreta uma pena máxima de 10 anos de prisão, e uma acusação de conspiração para receber dinheiro roubado, que acarreta uma pena máxima de cinco anos de prisão, ainda segundo o Departamento de Justiça.

A sua fiança foi fixada em 500 mil dólares [462 mil euros]. Uma vez libertada, ela ficará em prisão domiciliária e sujeita a controlo eletrónico na casa da sua tia em Nova Jersey, segundo afirmou Nicholas Biase, porta-voz do Gabinete do Procurador dos EUA do Distrito Sul de Nova Iorque.

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