Futsal: reviravolta épica coloca Portugal na final do Europeu

4 fev 2022, 20:49

Triunfo por 3-2 sobre a Espanha, que esteve a vencer por 2-0. Bruno Coelho reduziu e Zicky Té bisou para o triunfo. Final ante a Rússia

Quando o penálti de Bruno Coelho reduziu a desvantagem de Portugal, de imediato surgiram traços de paralelismo com a final do Europeu de 2018 resolvida com um livre direto do mesmo protagonista.

Isso ou também semelhanças com a história escrita na reviravolta de 0-2 para 4-2 nos quartos de final do Mundial do ano passado.

«Ando há 20 anos a dizer que somos melhor do que eles».

A célebre frase de Jorge Braz nesse mesmo duelo na Lituânia fez eco até aos Países Baixos, quase meio ano depois.

Afinal, Portugal esteve outra vez a perder por 2-0, mas virou o jogo e desta vez sem recurso a prolongamento. Depois do remate certeiro de Bruno Coelho, Zicky Té bisou e provou porque é que é uma das grandes sensações do futsal mundial da atualidade.

Com três vitórias seguidas sobre a Espanha em jogos a valer, Portugal deve mesmo acreditar que é melhor que ‘nuestros hermanos’.

Mesmo sem Ricardinho. Ou até sem Cardinal.

Mas há Zicky, Erick, Pany, os dois Coelho – André e Bruno – Afonso, Tiago Brito ou André Sousa. Há, no fundo, 14 heróis nacionais na terra das tulipas, a cheirarem agora novo título. 

Pela primeira vez na história, Portugal chega duas vezes seguidas à final do Europeu e esse dado diz muito do que tem sido feito no futsal português, que tem o atual campeão europeu e mundial em seleções, o campeão europeu de clubes e terá também, em março, uma seleção feminina a lutar pelo Europeu em Gondomar.

Pela frente estará a Rússia, que bateu a Ucrânia por 3-2 esta tarde.

Entrada em falso: a fúria espanhola

Portugal mal respirou no início do jogo. Foram apenas 17 segundos até ao golo da Espanha, numa jogada coletiva que passou pelos quatro jogadores na quadra até Lozano assistir Raúl Gómez para a vantagem do recordista europeu de títulos (sete).

Portugal, a muito custo, foi-se libertando da fúria espanhola que ditou uma entrada em falso e Pany acertou no poste duas vezes no mesmo lance (4m) antes de Tomás Paçó também ter rematado ao ferro (5m).

Esses lances foram libertando a seleção nacional na quadra e a Espanha acabou por mostrar-se demasiado faltosa a travar o campeão europeu. Chegou mesmo às cinco faltas aos 12 minutos, mas não só aguentou isso, como dobrou a vantagem até ao intervalo, num lance claro de estratégia. Mellado dispôs de um livre e assistiu Chino para um remate que André Sousa não deteve. Só ele poderá dizê-lo, mas não deve ter visto a bola partir. Ficou estático a ver novo golo espanhol.

Estático estava também Portugal no marcador, apesar de esmagador nos remates. A Espanha parecia, a dada altura, dar uma lição de como defender sem bola. Mas Dídac Plana também ia tapando os caminhos da baliza. Ou havia falta de pontaria lusa.

Mudou o lado e mudou o resultado

O domínio português ficou expresso no número de tentativas de golo (62 contra 36), com 16 remates enquadrados contra nove, fora os que deram golos para cada lado. Portugal foi mais rematador e acentuou essa senda numa segunda parte que, a dada altura, parecia condenar Portugal à primeira derrota depois da de 2016 contra a Argentina, no Mundial.

Mas o futsal, esse jogo de lema ataque contra-ataque, mostrou Portugal sempre vivo e um resultado sempre em aberto, mesmo quando a 11 minutos do fim o 0-2 não se alterava.

Tudo mudou depois de uma falta imprudente do experiente Ortiz sobre Afonso, que permitiu a Bruno Coelho bater finalmente Dídac Plana aos 29 minutos, de grande penalidade. Ato um de uma noite épica para Portugal.

Minuto 32, ato dois por Zicky Té, uma força da natureza que cresceu em Santo António dos Cavaleiros. Sem temer os 18 anos de diferença para o experiente Ortiz, decidiu o tempo de remate e colocou a bola no fundo da baliza de pé esquerdo, num lance espetacular. De ver e rever.

Ato três, a um minuto e 19 segundos do fim. Pauleta arrancou, deu na esquerda em Erick e depois foi de leão para leão, de herói do mar para herói do mar: colocou a bola na área e Zicky desviou já com Dídac Plana fora do alcance da bola.

A seguir, foi sofrer (só mais um bocadinho) até soltar-se uma festa que pode – e deve – ser saboreada, de tão épico que o 33.º duelo ibérico foi.

Esta já ninguém apaga da história, mas domingo, às 16h30, há mais para escrever. Há uma final ante uma equipa também poderosa e que tem, entre outros, os benfiquistas Robinho e Ivan Chishkala e que vai ter Artem Antoshkin de volta, em mais um duelo que promete ser um hino ao futsal.

Uma coisa é certa: o próximo campeão europeu vai erguer o cetro pela segunda vez.

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Jogo na Ziggo Dome, Amesterdão.

Ao intervalo: 0-2.

Árbitos: Nikola Jelic e Vedran Babic (Croácia).

PORTUGAL: André Sousa, João Matos, Bruno Coelho, Pany Varela, Erick. Suplentes: Edu, André Coelho, Tomás Paçó, Afonso, Pauleta, Miguel Ângelo, Tiago Brito, Fábio Cecílio, Zicky. Treinador, Jorge Braz.

ESPANHA: Dídac Plana, Ortiz, Raúl Gómez, Sergio Lozano, Mellado. Suplentes: Jesús Herrero, Borja, Boyis, Adolfo, Cecílio Morales, Chino, Raúl Campos, Solano. Treinador, Fede Vidal.

Disciplina – cartão amarelo: Lozano, 12’.

Golos: Raúl Gómez, 1’, Chino, 13’, Bruno Coelho, 29’, Zicky Té, 32’ e 39’.

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