Depois do Catar, volta a haver polémica com a construção de estádios para um Mundial de futebol

CNN Portugal , MTR
23 mar, 02:07
Trabalhador migrante mundial de futebol (Foto: AP Photo/Luca Bruno)

Trabalhadores migrantes contratados para trabalhar na construção de estádios para o Mundial de 2034 na Arábia Saudita estão a ser vítimas de abusos

Organizações de Direitos Humanos de todo o mundo emitiram um alerta, apontando para as más condições dos trabalhadores migrantes na Arábia Saudita que estão a começar as construções dos estádios para o Mundial a acontecer daqui a 10 anos. Sendo a Arábia Saudita o único país candidato à organização da competição, estas organizações advertem para o facto de, se não forem tomadas medidas urgentes pela FIFA, outro Mundial pode ficar manchado por questões de desrespeito dos direitos humanos, depois do Catar 2022.

A competição de há dois anos, para além da vitória da Argentina naquele que pode ter sido o último Mundial de Messi, ficou também marcada pela morte e sofrimento de centenas de trabalhadores migrantes que muitas vezes chegam em situação vulnerável e são incapazes de se protegerem de toda a exploração e abuso a que são submetidos. Na altura, a Amnistia Internacional denunciou os abusos de que os migrantes estavam a ser alvo, exigindo que a FIFA seguisse o seu exemplo e também o expressasse desagrado publicamente. Em resposta aos pedidos de indemnização, por parte dos próprios trabalhadores migrantes ou as suas famílias, Gianni Infantino, presidente da organização que gere o futebol mundial, afirmou que o Fundo de Apoio e o Seguro dos trabalhadores do Catar se iria encarregar disso, o que acabou por não acontecer.

Alguns exemplos das violações de direitos humanos denunciadas foram o passaporte confiscado à chegada, trabalhadores expostos a calor extremo sem direito a pausas ou folgas e más condições de alojamento. Segundo o jornal The Guardian, pelo menos 13.685 trabalhadores migrantes do Bangladesh morreram na Arábia Saudita, entre 2008 e 2022. Mais de 1.500 dessas mortes ocorreram ao longo de 2022, uma média de mais de quatro mortes por dia. Steve Cockburn, responsável pelo departamento de justiça económica e social da Amnistia Internacional disse ao The Guardian que "a FIFA deve deixar claro de que os anfitriões das suas competições devem cumprir com as suas políticas de respeito pelos direitos humanos. Deve também estar preparada para interromper o processo de atribuição de qualquer competição se os riscos de abusos aos direitos humanos não forem abordados de forma credível".

A Arábia Saudita depende fortemente da mão de obra de trabalhadores migrantes, não só para o setor da construção como também um pouco por todos os outros setores de atividade. Desde que começaram a receber migrantes que é conhecido o tratamento abusivo a que são submetidos. É uma mancha para o país aos olhos da comunidade internacional que, apesar disso, continua a estreitar relações com o mesmo e a permitir que eventos da magnitude do campeonato do mundo se realizem neste país.

Minky Worden, diretora de iniciativas globais da Human Rights Watch, afirmou que "a FIFA ainda não aprendeu a lição de que conceder um mega evento multibilionário sem diligência ou transparência significativas pode custar vidas de trabalhadores migrantes e causar sérios riscos de direitos humanos". 

Em comunicado, o Ministério do Trabalho e Desenvolvimento Social da Arábia Saudita destacou os passos dados no que toca ao bem-estar e direitos dos trabalhadores diz respeito alcançado nos direitos dos trabalhadores nos últimos anos: "Estamos comprometidos com melhorias contínuas e continuaremos a trabalhar incansavelmente para garantir o bem-estar e os direitos de todos os trabalhadores no reino", acrescendo ainda que "em caso trágicos onde ocorrem mortes, estas são tratadas de acordo com padrões internacionais"

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