Maroš Šefčovič é apoiado por pró-russos, mas Bruxelas quer pô-lo a mandar no gás que chega de Moscovo

Gonçalo Almeida , Enviado-especial a Estrasburgo
3 out 2023, 17:40
Maros Sefcovic com Ursula von der Leyen e Charles Michel (Virginia Mayo/AP)

Eslovaco, apoiado por pró-russos, pode vir a mandar no gás que vai de Moscovo a Bruxelas

É o homem “das missões impossíveis”, como escreve o jornal francês Les Echos, ou o “Mr. Fix It” (que resolve tudo, na tradução para português), diz o Politico. Maroš Šefčovič, eslovaco de 57 anos, está a um pequeno passo de mandar na compra conjunta de gás à Rússia por parte da União Europeia (UE). Mas há um problema: o partido que o apoia na Eslováquia, o SMER, é pró-Moscovo.

A audição do comissário e vice-presidente executivo da Comissão Europeia, para substituir Frans Timmermans no comando do Pacto Ecológico Europeu, foi “inconclusiva” e muito “vaga”, descreve Maria da Graça Carvalho, PPE/PSD, à CNN Portugal. “Queremos ter a certeza que é completamente independente em relação ao SMER e ao Robert Fico [líder do partido], porque senão para nós é muito difícil. É uma linha vermelha”, adianta a eurodeputada, que esteve presente na sua audição.

“Ou se incompatibiliza com o partido na Eslováquia, ou se incompatibiliza com as ideias europeias”, continua Graça Carvalho. Margarida Marques, S&D/PS, diz à CNN Portugal que Šefčovič “não tem de pagar a fatura do SMER na Eslováquia”. “É intocável, o que não é o caso do SMER”.

Esta incompatibilidade ganhou força esta semana, quando o SMER e Fico ganharam as eleições eslovacas, fazendo disparar os alarmes de Bruxelas quanto à eleição de Šefčovič. O eslovaco falhou em convencer os eurodeputados à primeira e não conseguiu a maioria dos votos favoráveis, mesmo que tenha garantido que “nenhuma molécula de gás russo será mais comprada à Rússia”. Agora, segue-se um último “round”.

Margarida Marques está confiante na sua eleição, que conta com o total apoio de todos os socialistas no Parlamento Europeu. “Ele é mais do S&D do que do SMER, só tem que manter a total independência, aliás, como é sua obrigação como eurodeputado”, acrescenta.

“Ele garantiu que iria manter a independência face ao que pensa sobre a Rússia, mas não foi muito firme. Preferíamos que ficasse escrito que seria sempre a questão europeia a prevalecer e a sua ligação na Eslováquia não iria interferir com aquilo que é preciso fazer, nomeadamente nas relações com a Rússia”, garante Maria da Graça Carvalho.

O currículo estudantil e político de Šefčovič evidencia a sua ligação à Rússia e à antiga URSS. Entre 1985 e 1990, o eslovaco viveu em Moscovo para estudar no Instituto de Relações Internacionais. E é durante esse período que se liga ao Partido Comunista da Checoslováquia, meses antes da queda do muro de Berlim.

Šefčovič poderá vir assim a substituir o vice-presidente executivo Frans Timmermans, que se irá candidatar às legislativas dos Países Baixos. Nesse sentido, Ursula von der Leyen confiou no eslovaco para assumir as pastas do holandês.

Pai de três filhos, Šefčovič é visto no Parlamento Europeu como o homem certo para os dossiês complicados, “um sobrevivente, muito pragmático e eficiente”, com um peso e experiência semelhantes aos de Timmermans. E por isso, foi eleito para mediar as relações com Londres, nas semanas que se seguiram ao Brexit. Agora, pode tornar-se no homem que controla as compras de gás à Rússia.

Nota: notícia atualizada às 16:00 de dia 4 com declarações da deputada do PS, Margarida Marques

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