Mário Centeno sobre crise política: "instabilidade, de qualquer que seja a fonte, não rima com crescimento económico"

CNN Portugal , HCL
21 nov 2023, 19:24

Governador do Banco de Portugal voltou a comentar a queda do Governo e as eleições antecipadas, indicando que as crises que o país enfrentou na primeira década do século XXI se deveram também à interrupção de legislaturas

A primeira resposta de Mário Centeno, em entrevista na CNN International Summit, à pergunta sobre os impactos da crise política na economia portuguesa foi uma piada alusiva ao painel anterior. "Se estivéssemos no campo da Inteligência Artificial eu dizia, tem outra pergunta para mim?". Depois, respondeu de forma mais séria, sublinhando que "instabilidade, de qualquer que seja a fonte, não rima com crescimento económico".

"Na primeira década deste século, Portugal teve três legislaturas interrompidas. Se alguém pensa que as dificuldades económicas enfrentadas nesse período não tiveram que ver com isso, desiluda-se, porque teve", acrescentou.

O governador do Banco de Portugal referiu, por outro lado, que é também "muito importante que valorizemos as conquistas estruturais que a economia portuguesa obteve e que se devem às decisões das famílias e das empresas".

Perante estas conquistas, há duas que Mário Centeno aponta como principais, "enquanto economista e decisor político". "Em primeiro lugar", diz, está "a nossa capacidade para aumentar qualificações". Já o "segundo pilar" é a "estabilidade financeira, conquistada após o programa de ajustamento".

Centeno refere ainda que "temos hoje uma dívida que tem um custo mais baixo do que a espanhola", que está a cair de forma "não paralela" na Europa. "São estes os indicadores que permitem explicar porque é que Portugal converge com a média europeia há tantos anos".

Já questionado sobre as declarações do prémio Nobel Paul Krugman que, esta terça-feira, referiu que Portugal é uma "espécie de milagre económico", Centeno afasta-se dessa caracterização: "Depois de 30 anos de estudo de economia, eu tendo a não usar a palavra milagre associada a processos económicos, tento estudar um bocadinho e tentar perceber de onde vem esse crescimento em Portugal", respondeu.

O governador acrescentou ainda que "Portugal hoje é um País que apresenta números que não são postos em causa, depois de termos passado 80% dos dias entre 2000 e 2017 em incumprimento por défice excessivo - não havia nenhum país que crescesse sustentavelmente se não invertêssemos"

"A nossa balança corrente e de capitais está este ano, no fim do mês de setembro, positiva em mais de 6 mil milhões de euros, quando no ano passado pela mesma data era negativa em mais de mil milhões de euros", destacou.

Inflação está a cair a "um ritmo muito superior ao ritmo que subiu"

Centeno entende também que a inflação está a cair a "um ritmo muito superior ao ritmo que subiu", ainda que seja "muito cedo para cantar vitória". "Esta luta contra a inflação fez muitos danos, ainda vai fazer alguns", indica, referindo-se às taxas de juro que "nunca antes aumentaram em tão pouco tempo". "Essa é a principal preocupação".

O governador diz ainda que "há uma compreensão muito clara no conselho de governadores do BCE das consequências" das subidas de juro " tem para as famílias", mas também de qual é o objetivo, "que é só um, descer a inflação para os 2%. Eu acho que isso vai acontecer e podemos ter um pouco essa garantia". 

"Vivemos durante quase um ano numa espécie de apeneia, a questionar-nos até onde é que isto nos vai levar, agora podemos dizer uma coisa que é boa - a diferença entre a taxa de juro nominal e a inflação está a aumentar e é esse indicador que é importante para todos nós, portanto durante alguns meses mais, enquanto isto estiver a acontecer, o aperto financeiro não para de aumentar", indica.

Já sobre os impactos da guerra no Médio Oriente, Centeno aponta para o facto de o "preço do crude estar mais baixo desde o conflito". Na Europa, não tem nenhuma comparação quando comparado com a invasão da Rússia do território ucraniano". "Podemos ter isso em conta, mas não devemos exagerar nas consequências que podemos vir a ter", acrescenta.

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