O país que não passa pela Liga

6 jun 2017, 10:15
Portimão comemora regresso à Liga (Lusa)

Primeira divisão do futebol português representa apenas nove das 22 associações distritais nacionais. Há quase 20 anos que não há uma estreia. E seis distritos nunca tiveram um clube na I Divisão. Tendências e história no mapa do futebol nacional

Espanha ganhou mais uma província para o futebol de primeira Liga com a subida do Girona, que se torna também a terceira equipa da região autónoma da Catalunha no principal campeonato. Em Portugal nada de novo, por aí. Há muito tempo que não há um representante de uma nova associação distrital a chegar à Liga. O último foi o Santa Clara, que pôs pela primeira vez não só Ponta Delgada mas também os Açores no mapa da I Divisão portuguesa, já lá vão quase 20 anos. E seis dos 22 distritos em que se divide o território português no futebol nunca estiveram no principal escalão.

Para 2017/18 a Liga recuperou o Algarve, o que alargou o mapa do campeonato, mas ainda assim representa apenas 9 distritos, pouco mais de um terço do total. O Porto volta a isolar-se como o mais representado, com a subida do D. Aves.

Seguem-se Lisboa e Braga, ambos com quatro. Feitas as contas, três distritos que representam 12 dos 18 clubes do primeiro escalão, o que reforça a ideia da crescente concentração do futebol profissional no Porto, Lisboa e Minho. E um isolamento crónico do interior.

Mais nenhum tem mais do que um clube, depois de tanto Aveiro como a Madeira terem perdido um representante para a próxima época, Arouca e Nacional.

Braga tem ganho terreno no equilíbrio de forças histórico e é já também o terceiro distrito com mais representantes na Liga desde 1934/35. De resto comandam Porto e Lisboa, somando todos os clubes que já participaram na competição, com vantagem nesta altura para a AF Porto, que teve 14 representantes na I Divisão, contra 12 de Lisboa.

Braga contribui com oito, segue-se Aveiro, com sete. E a seguir vem Setúbal, o distrito que nas últimas décadas mais peso perdeu no mapa da Liga. Há muito que tem apenas o Vitória como único representante, mas no total já teve seis clubes, da CUF ao Barreirense, passando por Amora, Montijo ou Seixal.

Na hierarquia histórica por distritos seguem-se Algarve e Leiria, que tiveram quatro representantes cada um. O Portimonense volta a ocupar uma posição algarvia que estava vaga desde a descida do Olhanense, em 2014, Leiria deixou de ter representantes desde a queda da U. Leiria, em 2012. Em perda também a Madeira, que há duas épocas tinha três representantes na Liga, todos os que já representaram a região no campeonato, e passará a ter apenas o Marítimo, depois das descidas de U. Madeira, em 2016, e agora de Nacional.

Beja, Bragança, Guarda e Viana do Castelo são os distritos de Portugal continental que nunca tiveram um representante na I Divisão, a que se juntam duas das associações dos Açores, Angra do Heroísmo e Horta. Formalmente nas ilhas a divisão por distritos foi substituída pelas regiões dos Açores e Madeira, mas em termos de organização do futebol mantêm-se quatro associações distritais, o que chega ao total de 22.

O mapa da Liga em 2017/18:

II Liga alarga pouco os horizontes

A II Liga não vai estender muito na próxima época o mapa do futebol profissional português, embora tenha 20 clubes. Apenas mais um distrito representado no total, mudando dois. Em relação à Liga, sai Vila Real e entram Coimbra, com a Académica, e Ponta Delgada, com o Santa Clara.

A distribuição por distritos na II Liga 2017/18

Porto (4): Leixões, Penafiel, Varzim, FC Porto B

Braga (4): Gil Vicente, Famalicão, S. Braga B, V. Guimarães B

Lisboa (3): Real, Benfica B e Sporting B

Madeira (2): Nacional, União Madeira

Aveiro (2): Arouca e Oliveirense

Coimbra (1): Académica

Setúbal (1): Cova da Piedade,

Viseu (1): Académico Viseu

Ponta Delgada (1): Santa Clara

Castelo Branco (1): Sp. Covilhã

Muita história e muita gente à espera da estreia nos distritos fora do mapa da Liga

Cada um dos 13 distritos atualmente sem representantes na Liga tem percursos diferentes. Para alguns podemos estar a falar de ausências momentâneas, outros têm grandes histórias no campeonato mas são passado, outros ainda procuram meter pelo menos o seu nome no mapa do futebol de elite português. O Maisfutebol faz um apanhado das participações de cada um desses distritos na I Divisão.

Angra do Heroísmo

Nunca teve uma equipa no principal escalão. O Praiense esteve esta época muito perto de subir à II Liga, mas perdeu o play-off com o Leixões. Disputaram ainda o Campeonato de Portugal o Lusitânia e o Angrense, este ainda na luta pela manutenção.

Beja

Nunca teve uma equipa no principal escalão. O Mineiro Aljustrelense e o Moura disputaram nesta temporada o Campeonato de Portugal. O primeiro desceu ao Distrital, o segundo mantém-se. O Desportivo Beja chegou à II Liga em 1996/97, mas para uma única temporada. Está nesta altura na II Divisão distrital.

Bragança

Nunca teve uma equipa no principal escalão. Esta época teve três representantes no Campeonato de Portugal: Bragança, que ainda luta pela manutenção, Mirandela e Torre Moncorvo, que desceu.

Castelo Branco

Único representante foi o Sp. Covilhã, que tem 15 presenças na I Divisão. Nove épocas seguidas de 1948 a 1957, mais quatro depois de um ano de intervalo e um último regresso nos anos 80, para mais duas participações. Não voltou à Liga desde que desceu na época 1987/88. Depois de ter passado pela II Divisão B e até pela terceira, estabilizou nos últimos anos na II Liga, onde terminou na oitava posição esta época.

Coimbra

A Académica é o sétimo clube com mais presenças na história do campeonato. Uma referência da Liga, portanto. Desceu no final da época 2015/16 e na temporada que agora terminou foi sexta na II Liga. À procura do regresso para breve o representante mais notório de um distrito que já teve também o União Coimbra no primeiro escalão.

A Naval foi outro clube do distrito com passagem recente pela Liga. Seis épocas consecutivas, entre 2005 e 2011. Desceu à II Liga e, dois anos depois, ao Campeonato de Portugal. No final desta temporada, seis anos depois de jogar na Liga, caiu para os Distritais.

Évora

Lusitano de Évora, o único representante do distrito na história do campeonato, passou 14 épocas consecutivas na I Divisão entre 1952/53 e 1965/66, altura em que desceu, para não voltar até hoje..

Guarda

Nunca teve uma equipa no principal escalão. O representante atual a um nível mais alto é o Gouveia, a lutar nesta altura pela manutenção no Campeonato de Portugal.

Horta

Nunca teve uma equipa no principal escalão. Na época que agora termina a Horta não esteve representada também nos Campeonatos Nacionais.

Leiria

U. Leiria é o clube do distrito com mais presenças na I Divisão, 18 no total. Desceu pela última vez em 2012, caindo para a então II Divisão B, por não ter cumprido os requisitos para jogar na II Liga. Disputa atualmente o Campeonato de Portugal.

Caldas e Ginásio de Alcobaça são os outros clubes do distrito que já jogaram na I Divisão.

Ponta Delgada

É de São Miguel o único clube dos Açores que já chegou à I Divisão. O Santa Clara tem três presenças no primeiro escalão, a primeira em 1999/00 e as outras duas seguidas, entre 2001 e 2003. Desde então manteve-se sempre na II Liga, onde andou lá por cima mas terminou na 10ª posição nesta temporada.

Portalegre

O Alentejo é a maior região de Portugal, mas só teve até hoje três clubes na I Divisão do futebol português. E dois deles são do distrito de Portalegre. O mais recente foi o Campomaiorense, que jogou cinco temporadas entre os grandes. Uma primeira em 1995/96 e quatro seguidas entre 97/98 e 2000/01. Clube assente no investimento da família Nabeiro, jogou a época seguinte na II Liga, mas desistiu a seguir do futebol profissional. Voltou em 2006 e tem competido na Distrital de Portalegre.

Mais antiga a história de O Elvas, o outro clube do distrito que já esteve na I Divisão. Que começa antes de existir. Tem como antecessor o Sport Lisboa e Elvas, que teve duas presenças na I Divisão em 44/45 e 45/46, e em 1947 fundiu-se com o Sporting Clube de Elvas, para dar origem a O Elvas, Clube Alentejano dos Desportos. Assumindo o lugar na I Divisão, O Elvas ficou por lá mais três épocas e havia de voltar em 1986, para mais duas temporadas. Longe da Liga desde 1988, venceu na época que agora terminou a II Divisão do Distrital de Portalegre.

Santarém

União Futebol Comércio e Indústria de Tomar. O União de Tomar foi e é até hoje o único representante do distrito na I Divisão. Seis presenças entre o final dos anos 60 e meados da década de 70, com equipas por onde passaram grandes nomes desse tempo no futebol português e, mais tarde, até um tal de Eusébio. Anda atualmente pela I Divisão Distrital de Santarém, onde terminou em terceiro esta época.

Viana do Castelo

Nunca teve um representante na I Divisão. Em 2016/17 Limianos e Ponte da Barca jogaram no Campeonato de Portugal, mas foram despromovidos.

 

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