"Batemos à porta, não houve uma pessoa que nos atendesse: não havia médicos, nem uma maca, nem um lençol": olhos nos olhos com o ministro, o familiar de um homem que morreu à porta do hospital

3 jul 2023, 23:15

Manuel Pizarro foi confrontado por familiares de um pessoa que morreu à porta do hospital por falta de médicos. "Ponha-se no nosso lugar"

“Não deixe uma situação destas acontecer novamente, senhor ministro.” O apelo é feito pelo irmão mais velho de um homem que morreu na passada sexta-feira em Serpa, depois de ter entrado em paragem cardiorrespiratória à porta do hospital daquela cidade, que estava fechado por não ter médicos para atender os utentes.

Esta segunda-feira, dois dias depois do sucedido, o ministro da Saúde manteve a agenda, indo a Serpa num dia marcado por um conjunto de visitas a unidades de saúde do distrito de Beja. Ao chegar à unidade foi confrontado pelos familiares da vítima, que tinha 64 anos.

“O senhor é que é o mais velho? Os meus sentimentos”, disse Manuel Pizarro ao irmão mais velho da vítima, antes de ouvir as queixas dos familiares mas também dos habitantes da cidade alentejana.

O homem ouviu as palavras do ministro, dizendo depois o que espera daqui para a frente: “Exigimos é que isto não se volte a repetir. Batemos à porta e não houve uma pessoa que nos atendesse. Disseram que não havia médicos. Nem uma maca, nem um lençol. A pessoa parecia um porco na porta do hospital. Diga-me, o que é isto? Ponha-se no nosso lugar”.

Manuel Pizarro ouviu atentamente as palavras, mostrando preocupação para com os familiares, que voltou a ter de enfrentar quando terminou o primeiro evento da manhã.

“Quem é que se vai responsabilizar pela morte do meu tio? Só quero essa resposta”, disse um dos sobrinhos da vítima, visivelmente indignado. Manuel Pizarro voltou a ouvir as queixas, garantindo que as responsabilidades vão ter de ser apuradas.

“Sobre esse caso não posso falar. Há um apuramento de responsabilidades que tem de ser feito e não me posso meter nisso”, reiterou.

Ministro da Saúde recebido com queixas de populares após encerramento das urgências no hospital de Serpa (Nuno Veiga/Lusa)

Pelo meio, o ministro da Saúde também teve de lidar com a restante população, que ecoou gritos de “vergonha” ou “queremos o nosso hospital”, havendo mesmo quem tenha sugerido que a ausência de resposta no serviço passa por uma cativação ordenada pelo Ministério das Finanças.

Perante isto, e mesmo antes de Manuel Pizarro abandonar o local, a família só quer que isto signifique alguma coisa. “Há recados que saem daqui, vão para dentro da gaveta e é tudo arquivado”, concluiu o irmão mais velho da vítima, que tinha 64 anos.

Decisão sobre gestão para 2024

O ministro da Saúde remeteu para o final de 2024 uma decisão sobre a eventual reversão da gestão do hospital de Serpa, no distrito de Beja, para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Teremos todo o próximo ano para tomar uma decisão final sobre se fazemos ou não a reversão [da gestão do hospital] para a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo”, afirmou o governante, em declarações aos jornalistas em Serpa.

Manuel Pizarro, que falava no final de uma reunião na Câmara de Serpa (CDU), integrada na iniciativa Saúde Aberta do Ministério da Saúde, dedicada ao Baixo Alentejo, realçou que a gestão do hospital está nas mãos da Misericórdia local desde 2014.

“Temos assistido com preocupação a dificuldades de funcionamento do hospital”, admitiu, frisando que o Governo está a “procurar ajudar a Misericórdia a debelar as dificuldades que tem tido e que têm prejudicado o seu funcionamento regular”.

Assinalando que “o contrato de gestão pela Misericórdia do hospital acaba no final de 2024”, o ministro insistiu que a instituição que gere a unidade hospitalar tem de ser ajudada para “seja capaz de colocar o hospital em pleno funcionamento”.

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