"O melhor instrumento para Montenegro é o violoncelo". Nuno, o maestro-político que ficou em último pelo PSD e sonha chegar ao Parlamento

25 fev, 08:00
Nuno Almeida (lista dos últimos)

LISTA DOS ÚLTIMOS | Professor de música que nutre um ódio de estimação ao ensino da flauta, Nuno Almeida andou com "a casa às costas" até que se fartou do trânsito do IC19 e acabou nas listas do PSD por Coimbra - ainda que a mãe tenha torcido o nariz

“Nas listas de deputados há sempre estas questões difíceis”, começa por apontar Nuno Almeida, de 35 anos, com um pequeno encolher de ombros. “Aqui em Coimbra há ex-presidentes de câmara, há pessoas que foram num determinado lugar e agora não aceitam ir num lugar a baixo, há quem diga que se for com aquele cabeça de lista já não aceita ir” e depois, acrescenta, há ele que, “por causa de todas essas condicionantes”, teve “esta fantástica oportunidade”.

Essa oportunidade foi ir em último pelas listas do PSD nas legislativas de 2022. “A minha família fez uma festa, foi um dia muito feliz quando fui convidado”, conta à CNN Portugal o professor de música e maestro de Góis a partir do seu estúdio localizado poucos metros ao lado da Câmara Municipal. Por trás dele há uma bateria, um cavaquinho pendurado na parede, uma guitarra acústica e vários xilofones distribuídos por uma estante de madeira. À frente, através de uma janela ampla, vê-se colado a um muro vários pósteres dos membros da operação social-democrata que roubou ao PS a autarquia em 2021, depois de 39 anos de governação socialista.

Nuno, que esteve no centro dessa campanha e foi eleito para a assembleia municipal, ainda se emociona ao falar do resultado. “A nossa campanha viveu muito da juventude e de um espírito de querermos algo de novo. Isto é um território empobrecido, isolado e que precisa mesmo de ser renovado e de ter políticas diferentes, um pouco agora como o nosso país a nível nacional”.

Militante social-democrata desde 2016, afirma que a sua filiação ao PSD vem desde a nascença. “Os meus familiares diretos vêm dessa área política e, de um modo ou de outro, eu também nasci a ver estas cores”. Ainda assim, conta, a mãe ficou com algum receio por vê-lo a candidatar-se a órgãos políticos. “Ela não gosta porque, por um lado, hoje em dia, somos confrontados com maus exemplos nacionais e, por outro, nestes meios pequenos, as pessoas retiram-te o mérito e reconhecimento pessoal, porque misturam com a parte partidária”.

Antes de voltar a viver a tempo inteiro em Góis, terra onde foi criado, Nuno andou “com a casa às costas” por vários pontos do País refém das colocações de professores. Esteve na Ericeira, em Cantanhede, em Lisboa e em Sintra, onde, nas aulas que dava, tentava sempre escapar à “prisão da flauta”, instrumento que, diz, não percebe o porquê de ser tão obrigatório nas escolas públicas. “Se pudesse, trocava a flauta pela guitarra”. 

Nuno conta que os primeiros tempos em que deu aulas foram entusiasmantes, embora se tenha depressa apercebido que a música era constantemente negligenciada. “Cheguei a ter uma professora de matemática que se queixou porque nas minhas aulas fazia muito barulho”. Mas foi quando começou a olhar para os colegas mais velhos que se apercebeu que se quisesse continuar a dedicar a vida ao ensino musical tinha de escolher uma alternativa. 

“Os professores nunca tiveram uma vida estável e ambiciosa, e eu percebi logo isso, porque existe falta de professores, mas em áreas muito específicas, como matemática, português, ou inglês, geografia, e história. Agora, música tem um horário muito reduzido, desde que deixou de ser obrigatório no terceiro ciclo, e isso leva a que os meus colegas, muito mais velhos do que eu, não tenham estabilidade, como é que eu poderia ambicionar essa estabilidade?”

O exemplo dos professores mais velhos do que ele, cromeçou a implantar a ideia de que podia regressar a Góis e dedicar-se a dar aulas particulares, mas foi mesmo o IC19 que despertou o “clique” que faltava para tomar uma decisão. “Ficava horas no trânsito e a ansiedade começou a tomar conta de mim, acho que foi aí que decidi voltar”. 

Para além de dar aulas de música, Nuno é maestro na banda Filarmónica Varzeense, e ao coordenar aquele grupo musical, costuma fazer uma comparação com a sua experiência política. “Nas bandas, quem está na última fila também não pode desafinar”, ri-se. “Apesar de ser impossível entrar na Assembleia da República, o último lugar da lista é muito importante na credibilidade de todo o projeto”, como quem toca o triângulo é muito importante para a harmonia de uma orquestra. 

Principalmente diz, o lugar que ocupou é “relevante para a construção dos documentos políticos que são apresentados aos eleitores”, e, “em última instância”, também para que “estes territórios mais pequenos tenham voz a nível Distrital e, consequentemente, a nível nacional”.

Nuno Almeida, nas margens do Rio Ceira, Góis

“Se durante a campanha se falou que existem territórios sem oferta de ensino secundário, ou se falou de projetos rodoviários inacabados em algumas terras é devido à inclusão de membros como eu nas listas”, assinala, referindo que fez “o maior esforço possível para que estes problemas regionais fossem levados até ao expoente máximo do partido”.

E se algum dia Luís Montenegro lhe pedir para o ensinar a tocar um instrumento, Nuno tem a resposta na ponta da língua. “Apontaria para o violoncelo, é o instrumento mais harmonioso das cordas, mais doce, alguém que consegue fazer a ponte entre os mais graves, os contrabaixos até aos mais agudos violinos”. E se for Pedro Nuno Santos? “Se calhar atribuiria à percussão, é alguém que entra só nos momentos mais fortes da música, é alguém que vive do ritmo”.

Este ano, Nuno fez questão de manifestar a sua indisponibilidade para integrar as listas da Aliança Democrática. Foi pai há uns meses e deixou de conseguir ter tempo suficiente para “sair em campanha e estar junto das populações”. “Não podendo fazer esse papel, que é importantíssimo, também não sou faz de conta e por causa disso não terei agora o destaque que já tive”. “O meu papel será mais local, de fazer ver às pessoas que realmente precisamos de políticas diferentes, para termos resultados diferentes”.

Ainda assim, mantém o sonho de um dia ser deputado na Assembleia da República. “Gostava de ter essa experiência, ia fazer o máximo esforço para que o país não seja tão centralista” e, até já tem uma promessa eleitoral, inspirada pelos quilómetros de curvas e contracurvas na estrada regional que marca a entrada em Góis. “Criava um acesso mais dinâmico entre Coimbra e Góis, assim era possível juntar o melhor dos dois mundos, que é combinar o luxo de viver numa terra agradável, onde se pode andar a pé para qualquer serviço e o luxo de ter um tecido empresarial com cargos bem remunerados, em Coimbra”.

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