Fabiano: «Boavista? Fui à internet e o Bessa convenceu-me logo»

Vítor Maia | Sérgio Pires , Estádio do Bessa, Porto
15 out 2019, 10:52
Fabiano (Boavista)

Entrevista ao lateral axadrezado, parte II

Natural de um pequeno município brasileiro onde 96% da população fala alemão, Fabiano chegou no início desta época ao Bessa como um desconhecido e pegou de estaca. No entanto, o «Alemão», como é conhecido, representou históricos emblemas brasileiros, como Cruzeiro, Internacional e Palmeiras.

O lateral-direito, de 27 anos, cresceu em São João do Oeste e iniciou o percurso como profissional na Chapecoense. Após cinco anos em Chapecó e dois anos no Cruzeiro, Fabiano mudou-se para o Verdão e apontou o golo que deu o título de campeão brasileiro precisamente frente à Chapecoense. Volvidos dois dias, grande parte dos membros do clube de Santa Catarina sofreram um trágico acidente de aéreo.

Esta entrevista dividida em três partes é uma viagem pelo passado, mas também pelo presente. Desde os conselhos do ex-axadrezado Paulo Turra e do antigo selecionador nacional Luiz Felipe Scolari – que anunciou a sua transferência para Portugal antes do tempo – ao primeiro mês e meio no Boavista.


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Maisfutebol: O Fabiano jogou com vários jogadores que estão cá ou passaram recentemente por Portugal: Bruno Viana, Fernando (Sporting) e João Pedro (FC Porto)...

Fabiano: Sim, joguei. O Fernando é um bom jogador, saiu cedo do Palmeiras para a Ucrânia. Costumo conversar com o João Pedro. Ah! Há outro que jogou comigo: o Douglas Grolli (Marítimo). Ele é da minha cidade, sou amigo dos pais deles e costumamos falar. É uma grande pessoa, de uma família humilde. Já passámos finais de ano juntos. O irmão dele é professor de ténis, também o conheço.

Aconselhou-se com algum deles sobre o Boavista?

Falei com o Grolli. Perguntei-lhe como era o campeonato, ele disse-me que era totalmente diferente e que era uma boa montra. Quando surgiu o interesse do Boavista… acho que é normal pedir referências acerca do clube e da Liga.

Como surgiu a oportunidade de jogar no Boavista?

O clube falou com o meu empresário. Mais tarde, o Paulo Turra [ex-jogador do Boavista e então treinador-adjunto de Scolari no Palmeiras] disse-me que as pessoas do Boavista lhe tinham ligado.

O que conhecia do Boavista? Sabia que o clube foi campeão em 2001 e que já disputou provas europeias?

Fiquei a saber pelo Paulo Turra. Convivia com ele diariamente por ser adjunto do Luiz Felipe Scolari. Aliás, quem me anunciou no Boavista foi o Felipão. Não sabia de nada, ainda estava no avião. Mal aterrei, o meu empresário recebeu um vídeo com uma entrevista do Scolari a uma televisão gaúcha, após um jogo com o Grémio. Ele descaiu-se e acabou por anunciar a minha saída. Falei então com o Paulo Turra, que jogou cá e ele disse-me que ia gostar muito. O Felipão também disse que seria bom para mim sair do Palmeiras. Ele falou com os dirigentes durante a tarde e à noite o negócio estava fechado.

Que relação tem com Scolari?

Tenho um enorme respeito por ele. Não joguei nenhum jogo oficial no campeonato com ele, mas no fim disse-lhe que não tinha nada contra ele e agradeci a oportunidade. Um dos meus objetivos sempre foi jogar na Europa.

Também foi à Internet pesquisar sobre o clube?

Fui e fiquei convencido. O Bessa convenceu-me logo. Comecei a perguntar mais coisas acerca do clube e o Turra deu-me ainda mais dicas. Felizmente adaptei-me bem e rápido, estou muito feliz.

O Fabiano chegou, entrou na equipa e desde então fez quatro jogos pelo Boavista. Qual foi o melhor jogo que fez?

Foi contra o Sporting. Foi o primeiro jogo como titular em casa. Fizemos um grande jogo e percebemos que a nossa equipa é bastante competitiva. É preciso confiar no trabalho que está a ser feito. A equipa não perde há sete jogos e isso aumenta a confiança.

A invencibilidade é uma motivação ou uma pressão?

É bom, aumenta a pressão. O trabalho está a ser bem feito e com isso a exigência aumenta. Chegar lá em cima não é difícil, difícil é ficar.

Ao fim de tão pouco tempo, que grandes diferenças encontra entre o futebol português e o brasileiro?

O principal choque que senti foi a intensidade de treino e de jogo. A intensidade é incomparável. O ritmo aqui é maior. Sente-se nos jogos do primeiro ao último minuto. Não há tempo para distrações, o jogo não para. É tudo feito no limite.

A sua família no Brasil tem seguido os seus jogos pelo Boavista?

Eles procuram até achar. Conseguiram assistir ao meu jogo contra o Sporting. O meu pai, a minha mãe, o meu irmão, alguns amigos também com quem joguei nos escalões de formação... Pode dizer-se que tenho lá um pequeno núcleo de adeptos do Boavista lá em São João do Oeste.

O que conhece do Porto?

Ainda não fui visitar muito da cidade. Vou fazê-lo, quando a minha família vier. O meu pai e a minha mãe vão ficar aqui 40 dias. O meu corpo demorou a habituar-se à intensidade europeia. Os meus dias eram treino, casa e dormir. Não tinha nem forças sequer para sair de casa.

Mas já tem algum sítio especial na cidade, além do Bessa?

Gosto bastante da Ribeira. Já fui lá jantar, tem bons restaurantes brasileiros.

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