Antigo juiz apresentou ideia na Cidade do Futebol e deixou um apelo: «Chega de fazer mal ao futebol. Chega de dar tiros nos pés»
Humanizar, sensibilizar e aproximar. Tratar por «tu» a arbitragem. É no fundo isto que Duarte Gomes pretende do Kickoff.
O projeto, disponível em forma de site e em livro, foi apresentado nesta quarta-feira na Cidade do Futebol e o ex-árbitro quer derrubar o muro que ainda separa o universo dos homens do apito dos adeptos.
Através de uma ação pedagógica, com esclarecimento de regras, dúvidas e a desconstrução de casos concretos que ocorram durante os jogos, a ideia é dotar os adeptos de um maior conhecimento das leis de jogo. «Queremos estreitar pontes, esclarecer dúvidas, discutir lances, ouvir opiniões, discutir assuntos e falar da atualidade da arbitragem de uma forma tranquila, construtiva e aberta. Para, no fundo, tirar a legitimidade de quem critica sem fundamento. A partir de agora têm duas ferramentas», disse em conversa com os jornalistas à margem da apresentação.
Árbitro de primeira categoria durante quase 20 até deixar de apitar em 2015, o antigo juiz revelou que há muito que tinha em mente pôr em prática um projeto desta natureza. «Sempre fui adepto desta aproximação ao público», disse, lembrando que enquanto árbitro se habituou a interagir com o público, particularmente a partir da massificação das redes sociais.
Perante um auditório lotado com antigos jogadores, dirigentes desportivos, e figuras ligadas ao universo da arbitragem, Duarte Gomes frisou que não pretende, no entanto, assumir uma posição corporativista até porque, reconhece, a arbitragem não pode voltar a fechar-se sobre ela própria. «Costumo dizer que tenho o mestrado e o doutoramento em erros», brincou.
Duarte Gomes falou ainda sobre a implementação do vídeo-árbitro, que já vai ser utilizado na Liga 2017/18. Reiterou que se trata de uma medida positiva para o desporto, apesar de algumas críticas que têm vindo a surgir. «Falou-se um bocadinho da perda da dinâmica do jogo, da perda da emoção na celebração de um golo, mas não se falou do erro do árbitro ou do assistente. Estamos a conseguir canalizar a para outro lugar. Uma discussão plausível, mas afastada da suspeição daquele que falhou», disse a propósito de casos recentes.
«O vídeo-árbitro não vai destruir o erro todo, não vai estar presente em tudo o que forem situações de jogo. Não pode nem deve, porque não pode destruir a sua dinâmica. [Mas] A pergunta que temos de fazer é: preferimos festejar um golo justo com menos emoção ou um golo batoteiro com muita emoção?», disse.
No palco, Duarte Gomes deixou ainda um apelo, depois de lembrar a notoriedade que Portugal tem conseguido alcançar além-fronteiras no último par de anos. «Chega de fazer mal ao futebol. Chega de dar tiros nos pés. Está na hora.»
