Vigília com o Papa Francisco no Parque Tejo teve 1,5 milhões de participantes que já aguardavam no recinto desde cedo.
Faltavam poucos minutos para as 20:30, quando o Papa Francisco chegou este sábado de papamóvel ao Parque Tejo, em Lisboa, onde foi recebido com saudações e acenos de milhares de pessoas que o aguardavam no recinto há já várias horas.
Momentos antes, a organização pedia aos peregrinos, através dos microfones, para se colocarem nos seus setores para o grande momento. "Esta é a juventude do Papa" e "Papa Francisco" eram as frases mais ouvidas nos minutos que antecederam a chegada do líder da Igreja Católica ao Parque Tejo.
Além da multidão, havia também pessoas que se encontravam nas imediações, nos topos de prédios.
O líder da Igreja Católica entrou no recinto de 10 hectares, com o Tejo como pano de fundo, para a celebração da vigília, um dos momentos mais aguardados da Jornada Mundial da Juventude. Como é habitual, durante o seu percurso foi saudado pelos peregrinos, enquanto dois caças da Força Aérea sobrevoavam o local.
Subiu ao altar-palco às 20:40 ao som do hino da jornada "Há pressa no ar", cantado e tocado pelo coro e a orquestra da JMJ 2023, que tem 210 cantores e 100 músicos de todas as dioceses portuguesas e é dirigido pela maestrina Joana Carneiro.
A sessão dividiu-se em duas partes: a primeira mais performativa e a segunda dedicada à adoração do Santíssimo.
Entre as peças musicais da vigília ouviu-se “Et Misericórdia”, de Kim André Arnesen, “Ave verum”, de Eurico Carrapatoso, e “Estrela”, da fadista Carminho e interpretada pela própria.
O elenco do Ensemble23, composto por 50 jovens de 50 nacionalidades, também marcou presença, bem como o coro Mãos que Cantam, composto por seis pessoas surdas dirigidas pelo maestro Sérgio Peixoto, que interpretou coreograficamente as músicas em língua gestual portuguesa.
Nos ecrãs gigantes espalhados pelo recinto surgiu a frase “Estou a falar contigo”, em várias línguas, e no céu um conjunto de drones escreveu, também em várias línguas, expressões como “Levanta-te” e "Segue-me".
Vítima de guerra e padre português contaram a sua história
Foram então ouvidos os testemunhos de uma jovem moçambicana, vítima da guerra em Cabo Delgado, e de um padre português que descobriu a vocação após um acidente grave.
Marta Luís, de 18 anos, contou como a sua vida e a da família se transformaram “com os ataques terroristas” em Cabo Delgado nos últimos dois anos.
“Em nenhum momento perdemos a nossa fé”, disse, depois de explicar que todos foram obrigados a “fugir para o mato”, a caminhar “sem saber o que fazer”, “sem comida nem água”.
Marta testemunhou que ela e a família têm “sido acolhidos nas paróquias” onde foram morar, mas sentem muitas saudades da aldeia, dos “costumes, cantos e danças”.
“Mas no meio de todo o sofrimento nunca perdemos a fé a esperança de que um dia vamos reconstruir de novo a nossa vida”, afirmou, perante os 1,5 milhões de peregrinos espalhados pelo recinto.
O servir a Deus e aos outros foi o que o padre António Ribeiro de Matos, de 33 anos, percebeu ser a sua missão depois de um acidente de carro, em 2011, que o deixou gravemente ferido.
“Percebi que se a minha peregrinação na Terra tivesse terminado naquele momento, a minha vida não tinha valido a pena”, disse.
António Ribeiro de Matos afirmou que foi ordenado padre em 2021 “para procurar levar aos outros a alegria de encontrar Cristo, de ser encontrado por Ele”.
As breves palavras de Francisco
Eis que, finalmente, se fez silêncio para o momento mais esperado da noite: o discurso do Papa.
Francisco disse aos presentes que "a alegria é missionária", é "para levar aos outros", e que "a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo para uma pessoa é para a ajudar a levantar-se". "O que importa não é não cair, mas sim não permanecer caído", continuou.
Pediu ainda aos jovens que olhem para trás e vejam o que já receberam, lembrando as pessoas que “foram um raio de luz”, dos pais aos avós, dos catequistas a religiosos, amigos a professores.
“Eles são as raízes da alegria”, apontou, destacando que essa alegria não é “do momento, passageira”, nem “está fechada na biblioteca, embora seja preciso estudar”. Para o Papa, esta “não deve estar guardada à chave, tem de se procurar, de se descobrir”, de dar aos outros.
Terminada a vigília, depois da recolha e bênção do Santíssimo Sacramento, despediu-se dos fiéis e abandonou o recinto, de regresso à nunciatura apostólica.
Esta sessão antecedeu a missa final da JMJ, este domingo às 09:00, após a qual Francisco anunciará a cidade que acolherá a próxima jornada.