"Os falcões agora são pombas" ou tudo não passou de um "falso ataque". Afinal o que fez o Irão?

15 abr, 21:00
Drones iranianos a aproximarem-se de alvos em território israelita (EPA)

Estados Unidos contrariam versão de Teerão e dizem que não foram sido avisados 72 horas antes. Ainda assim, subsiste a dúvida: para quê alertar todos os países vizinhos e algumas potências mundiais com tanta antecedência?

Mais de 48 horas depois, ainda permanecem no ar dúvidas em relação à retaliação iraniana ao ataque de Israel ao seu consulado em Damasco, no dia 1 de abril.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amirabdollahian, afirmou, no domingo, que o Irão alertou os países vizinhos e os Estados Unidos da América com 72 horas de antecedência que iria lançar o ataque.

Esta mensagem parece ter sido confirmada pelo seu homólogo turco, Hakan Fidan, que garante ter falado com Washington D.C. e Teerão antes do ataque acontecer, de forma a servir como intermediário entre os dois países e garantir que as reações seriam "proporcionais".

"O Irão disse que a reação seria uma resposta ao ataque de Israel à sua embaixada em Damasco e que não iria além disso. Estávamos cientes das possibilidades. Os desenvolvimentos não foram uma surpresa", afirmou uma fonte diplomática turca citada pela Reuters.

No entanto, Washington D.C. nega ter tido conhecimento do ataque 72 horas antes deste acontecer. Fonte da diplomacia norte-americana admite que existiram contactos entre os dois países através de intermediários suíços, mas que não existiu qualquer aviso de que o ataque estivesse prestes a acontecer.

"Isso não é absolutamente verdade. Eles não nos notificaram, nem deram qualquer informação de 'estes serão os alvos, então evacuem-nos'", garantiu um funcionário da diplomacia americana.

Apesar das palavras americanas, o coronel Carlos Mendes Dias afirmou, na antena da CNN Portugal, que tem a convicção de que "houve coisas combinadas" e que o ataque iraniano foi uma "encenação mediática".

"Há um conjunto de países que foram avisados da resposta iraniana. Foi atacada a base de onde saíram os F-35 que atacaram o consulado iraniano. Essa base tem três pistas. Nenhuma das pistas foi afetada. Nenhum F-35 foi destruído. Acho estas situações estranhas. Acho estranho o aviso 72 horas antes. Acho estranho que se saiba com o quê. Isto significa que há uma componente diplomática a trabalhar no segredo dos gabinetes e ainda bem que é assim é. Isto já se passava na Guerra Fria, com o chamado telefone vermelho", explica Mendes Dias.

O comentador da CNN Portugal Tiago André Lopes também tem opinião semelhante, e classifica a ofensiva iraniana como um "falso ataque".

"O Irão avisou quase 20 países do que ia fazer com quase três dias de antecedência. Avisou todos os seus 14 vizinhos e avisou os EUA, Reino unido e França. Foi tudo feito para demonstrar volume e capacidade, mas para não ser demasiado destrutivo. O único alvo atingido foi um alvo militar. Esses tipos de alvos, de acordo com a lei humanitária, são legítimos pela sua natureza beligerante", analisou.

Opinião contrária tem o major-general Agostinho Costa, que considera que o ataque do Irão teve sucesso.

"Ouvimos os falcões há dois dias e agora são pombas. Se o ataque do Irão é tão fraco, se mais de metade dos mísseis caíram à saída, se tudo isto é de uma incompetência gritante, se Israel tem toda uma grande capacidade de defesa aérea, como é que nós vemos os mísseis a cair nos três alvos que o Irão definiu (as bases de Nevatim, Ramon e do Monte Hérmon)? A ação do Irão contra Israel atingiu os objetivos a que se destinava. A ideia de encenação cai por terra", afirma.

Questionado sobre o porquê de Teerão ter lançado tantos drones, o major general justifica. "Os drones voam a 185 quilómetros por hora, naturalmente são todos destruídos. São para saturar [as defesas aéreas israelitas], para distrair e para permitir a passagem [dos mísseis]. Quando a Ucrânia ataca Sebastopol ou as bases russas, lança sempre uma saturação de mísseis. Basta passar um, destrói o alvo e ganha", concluiu.

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