Fair Play financeiro tem de olhar agora para a desigualdade, diz responsável

27 jul 2017, 18:02
Liga dos Campeões (Reuters)

Italiano Andrea Traverso diz que futebol perde menos dinheiro, mas admite que ricos estão mais ricos e pobres mais pobres. Ainda os casos de City, PSG, Milan e também Portugal

O fair play financeiro está a funcionar, mas o fosso entre ricos e pobres está a aumentar e por isso terá de olhar para a competitividade entre clubes. É a ideia defendida pelo italiano Andrea Traverso, responsável da UEFA pelo licenciamento de clubes e fair play financeiro, que aponta algumas medidas para responder ao problema.

«Estamos satisfeitos com o fair play. Nestes anos atingimos resultados inesperados: em 2010 o futebol perdia 1,7 mil milhões, agora estamos nos 300 milhões. O sistema cresce, é financeiramente sustentável», afirmou Traverso em entrevista à «Gazzetta dello Sport»: «Mas nos últimos dois anos algo mudou imprevisivelmente. Os direitos televisivos cresceram de modo vertiginoso e sobretudo aumentaram os patrocínios concentrando-se nas mãos de poucos. Os 10 principais clubes do mundo, os «globais», crescem a maior velocidade.»

Perante a constatação do jornalista de que os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres, Traverso admite: «O mundo vai nessa direção, o futebol não é exceção. Mas não é uma indústria como as outras: precisa de competitividade.»

«Precisamos de intervir», admite: «Atingido o objetivo da sustentabilidade, agora temos o da competitividade nas provas, da redução das distâncias para conseguir equilíbrio. Começaremos a falar em breve e devemos encontrar um consenso em 2018.»

O italiano deixa depois algumas ideias sobre o que está em discussão, a partir do modelo norte-americano: «Nos EUA existem três princípios de sustentabilidade: normas desportivas, financeiras e redistribuição de receitas. Podemos adaptá-las ao nosso sistema profundamente diferente. Podem juntar-se ao fair play, que continuará, tetos salariais, impostos de luxo, sejam pesados ou leves. Impossível replicar o draft, a primeira escolha para os pequenos no mercado. Mas há outras medidas: tetos nos plantéis e até nos campeonatos, número máximo de transferências por mercado, limite aos empréstimos, despesas para contratações a que correspondam receitas idênticas.»

Há no entanto alguns obstáculos de monta na Europa, acrescenta: «A redistribuição não é simples porque nos EUA os direitos são centralizados, aqui só são na Champions.»

Os casos de City, PSG e Milan, mas também Portugal

Quanto à ideia de que há clubes a fazer gastos exorbitantes, à margem dos princípios do fair play financeiro, que é o do equilíbrio entre receitas e despesas, Traverso diz que esses clubes têm receitas para gastar o que gastam. «O futebol cresce 10 por cento ao ano. Todos falam sobre os números pelo Neymar, mas as receitas destes clubes aumentaram e presume-se, fizeram as contas certas para gastar», diz, para depois dar o exemplo concreto de clubes como o Manchester City e o PSG: «Respeitaram o acordo: têm receitas enormes, podem agir, vejam o City. As regras são iguais para todos. Se um clube compra, presumimos que tenha feito as contas. Caso contrário, será punido. Mas não os podemos impedir de comprar.»

Quanto a outro caso concreto, o do Milan, um dos clubes mais ativos neste mercado depois de ter mudado de donos, o responsável da UEFA explica que os «rossoneri» não estavam agora sob escrutínio do licenciamento, por não estarem nas competições europeias, mas passam a estar. E logo se verá se cumprem as normas: «Nenhum clube é exceção, mas o fair play faz os controlos a posteriori. O Milan não pode fazer o que quer: se compra é porque prevê uma receita.»

Traverso cita ainda Portugal, onde agora o FC Porto e antes o Sporting tiveram problemas com o fair play financeiro, para defender a ideia de que o sistema não está a penalizar apenas os pequenos: «São os grandes que têm problemas: clubes de Itália, França, Rússia, Portugal, fizeram acordos para reentrarem nos parâmetros. O City hoje gera cerca de 530 milhões, por isso pode fazer mais. Mas não se trata de «sheiks», trata-se de haver mercados que há dez anos investiram e mercados sem visão que agora estão em dificuldades. As televisões pagam à Premier League 3,3 mil milhões.»

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